sábado, 19 de abril de 2008

Porquê voto na chapa 2, "Jornalistas de Fato", para o SJPMG

Nossa categoria tem que estar articulada para lutar politicamente em defesa da nossa profissão, cuja função social é oferecer à sociedade um jornalismo de qualidade, responsável, plural e ético.
Sem regras de proteção, fiscalização e defesa da profissão, os jornalistas se tornam reféns das grandes empresas de comunicação e da lógica do mercado.
Sem jornalistas fortes e reconhecidos não se pode falar em liberdade de expressão.
Em nome da valorização da nossa profissão, contra a precarização das relações de trabalho, pela defesa das conquistas dos trabalhadores brasileiros, reivindicação histórica da categoria dos jornalistas, dou meu apoio à CHAPA 2 para o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais.
Estou com vocês para dar continuidade a esta luta com ética e dignidade, em busca de um futuro mais humano e uma sociedade mais democrática.

Taís T Ferreira
Jornalista desde 1988
http://www.cinejornalismoempauta.blogspot.com/

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Buñuel, respondendo aos jornalistas


"A moral burguesa é para mim o imoral, contra o qual se deve lutar: a moral fundada sobre nossas injustas instituições sociais, como a religião, a pátria, a família, a cultura; enfim, isto que se chama os 'pilares da sociedade'. Sim, eu fiz filmes comerciais, mas sempre segui meu princípio surrealista: a necessidade de comer não desculpa jamais a prostituição da arte. Entre vinte filmes eu tenho alguns péssimos, mas nunca traí meu código de moral. Eu sou contra a moral convencional, os fantasmas tradicionais, toda esta sujeira moral da sociedade introduzida no sentimentalismo. Para mim, Los Olvidados é efetivamente um filme de luta social. Porque eu me creio simplesmente honesto comigo mesmo, eu devo fazer uma obra social. Eu sei que vou neste caminho. Mas a partir do social eu não quero fazer filmes de tese. Eu observo as coisas que me emocionam e eu quero transpô-las para a tela, mas sempre com essa espécie de amor que eu tenho pelo instintivo e pelo irracional que podem aparecer em tudo. Sempre estou lançado para o desconhecido e o estranho que me fascinam sem que eu saiba jamais por quê. Sim, eu sou ateu graças a Deus; é preciso buscar Deus no homem e isto é muito simples..."

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Dia do Jornalista

Hoje nós somos a pauta, em defesa da liberdade de imprensa e da democracia na comunicação

Conscientes da sua função social, na qual se destaca a responsabilidade de defender o direito fundamental do cidadão à informação de qualidade, ética, plural e democrática, os jornalistas brasileiros comemoram o 7 de abril reafirmando as grandes lutas que, ultimamente, têm marcado a nossa pauta diária: - a exigência de uma nova Lei de Imprensa e do fim da violência e ataques contra as liberdades de expressão, do jornalismo e dos jornalistas; - a construção de uma Conferência Nacional de Comunicação com real participação da sociedade;- a garantia das conquistas da categoria e o avanço na valorização da profissão.

Ratificamos a necessidade imperiosa de uma nova Lei de Imprensa em substituição a um dos entulhos da ditadura, a Lei 5.250 que já existe há 40 anos e além de ultrapassada, não atende aos interesses do jornalismo, da categoria e da sociedade. A FENAJ e seus 31 Sindicatos filiados defendem a imediata aprovação do PL 3.232/92, o chamado substitutivo Vilmar Rocha, que dorme na Câmara dos Deputados há mais de 10 anos, pronto para a votação em plenário desde agosto de 1997.

Conclamamos outras entidades representativas da sociedade e a categoria dos jornalistas como um todo para aderirem à campanha que a Federação e os Sindicatos dos Jornalistas já desenvolvem, com o objetivo de sensibilizar o Congresso Nacional e os parlamentares federais em cada estado para a urgência de revogar a lei atual e substituí-la por uma nova e democrática Lei de Imprensa.

Acreditamos que a aprovação desta nova Lei faz parte das nossas lutas-maiores pela liberdade de imprensa e democracia na comunicação no Brasil, que vêm sofrendo ataques através das mais diversas formas de violência contra o jornalismo e os jornalistas: censuras e cerceamentos econômicos, políticos, sociais e morais externos ou pelos patrões, intimidações, perseguições, assédios judiciais, agressões verbais e físicas por agentes públicos e privados descontentes com a cobertura jornalística sobre seus atos e interesses.

Reafirmamos que igualmente é nossa tarefa cotidiana - e na qual também colocamos imenso empenho - construir a realização de uma Conferência Nacional de Comunicação ampla, democrática, com efetiva interferência da população brasileira. Uma Conferência que envolva representação da sociedade civil, do governo e do empresariado, com três eixos temáticos: meios de comunicação, cadeia produtiva e sistemas de comunicação.

Neste 2008, quando celebramos 200 anos de imprensa no Brasil, 70 anos da nossa primeira regulamentação profissional, 100 anos de fundação da ABI e 90 anos do primeiro congresso nacional da categoria, também assinalamos como agenda diária dos jornalistas a denúncia do arrocho salarial, do desemprego e da precarização das relações trabalhistas e a reivindicação de melhores condições de trabalho. Com o mesmo peso, pautamos a defesa da obrigatoriedade da formação universitária especifica, um dos pilares da nossa regulamentação, e da constituição de um Conselho Federal dos Jornalistas que, como os demais conselhos profissionais existentes no país, garanta à nossa categoria a auto-regulação da profissão.

A FENAJ e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, neste 7 de abril de 2008, nosso Dia, parabenizam os jornalistas do Brasil - profissionais e professores -, além dos estudantes de jornalismo. Celebramos com vocês e com a sociedade, cujo direito à informação é a razão maior das nossas grandes e pequenas lutas, as vitórias já alcançadas ao longo destes 200 anos de imprensa no país. Ao mesmo tempo, fazemos uma convocação: pelo papel social desempenhado pelo jornalismo e jornalistas, continuemos firmes nas batalhas pelo fortalecimento e valorização da profissão, pela liberdade de imprensa e democracia na comunicação.

Brasília, 7 de abril de 2008.

FENAJ Federação Nacional dos JornalistasSindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais

domingo, 6 de abril de 2008

FASCISMO NO CINEMA

Por Conor Foley – The Guardian (*)

A notícia de que “Tropa de Elite” ganhou o prestigiado prêmio “Urso de Ouro” do Festival Internacional de Berlim foi recebida com deleite no Brasil. O país deveria se envergonhar.

“Tropa de Elite” tornou-se o filme brasileiro mais popular de todos os tempos quando foi liberado ano passado. Estima-se que 11 milhões de pessoas assistiram às cópias piratas do filme antes do seu lançamento oficial, tendo quebrado recorde de bilheteria quando chegou aos cinemas.

O filme segue o sucesso de “Cidade de Deus”, que conta a árida história de como as favelas em volta do Rio de Janeiro gradualmente caíram nas mãos dos traficantes de drogas. “Tropa de Elite” se baseia no mesmo tema, tendo início, cronologicamente, de onde “Cidade de Deus” terminou. A cena de abertura mostra um baile funk no qual adolescentes narcotraficantes dançam ao mesmo tempo em que abertamente sacodem suas armas automáticas. Dois policiais à paisana tentam armar uma cilada, que não sai como esperado. Eles acabam encurralados na favela, sendo resgatados com a chegada do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro), comumente conhecido como “Tropa de Elite”.

O filme é visualmente impactante e a trilha sonora contribui para o drama, mas a trama é deplorável e os diálogos são fracos. O enredo se desenvolve em torno do destino de três homens: Capitão Nascimento, o chefe do Bope, e dois policiais que ele resgata, Neto e Matias.

Nascimento quer abandonar a polícia, pois sua esposa está grávida, mas primeiro ele deve encontrar alguém que o substitua, sendo este evidentemente o modo como o sistema de recrutamento da polícia brasileira opera. Neto e Matias decidem entrar para o Bope e se submetem ao processo de recrutamento, que envolve, principalmente, duro exercício físico, porque, como nos é dito, essa é uma boa maneira de arrancar-se a corrupção pela raiz. Matias, que é negro, freqüenta a faculdade onde seus colegas, universitários brancos, sentados em círculo, discutem Foucault e condenam a brutalidade da polícia. Poderiam os clichês serem mais banais?

Alguns dos estudantes, incluindo a namorada de Matias, estão envolvidos em um projeto social na favela, mas parece que não fazem muito além de fumarem maconha, fornecida por um traficante local. Eles são posteriormente assassinados pelos mesmos traficantes, que também mataram Neto e o desenlace sangrento do filme ocorre à medida que o Bope entra na favela atirando na busca dos assassinos.

O filme causou polêmica porque mostrou a polícia torturando mulheres e crianças para obter informações sobre o líder da quadrilha. Aparentemente, enquanto estava ocorrendo a filmagem no set, um oficial do Bope interrompeu os atores e lhes disse: “Olha, você está fazendo tudo errado. Você deve segurar o saco plástico assim, para que não fique nenhuma marca”. Nos cinemas Brasil afora, as pessoas gritaram e aplaudiram durante a cena e o capitão Nascimento fictício, que é baseado em personagem real, foi amplamente aclamado como um herói nacional”.

Ninguém nega a realidade na qual “Tropa de Elite” é baseado. Favelas como Complexo do Alemão parecem realmente zonas de guerra, onde a polícia é considerada um exército de ocupação. Mas o Brasil é também o país mais desigual do mundo e, ao ignorar as razões sociais da violência, o filme enaltece uma estratégia que por si só demonstra seu fracasso. Um governador populista do Rio uma vez ofereceu pagamento em espécie aos policiais que matassem criminosos, o famoso “bônus do oeste selvagem”, mas a taxa de crimes continuou a aumentar.

Aproximadamente meio milhão de brasileiros foram assassinados na última década, o que torna o país mais violento do que a maioria das zonas de guerra. Os brasileiros estão zangados e com medo do que está acontecendo em seu país, procurando desesperadamente por soluções.

Em um determinado ponto no filme, Matias confronta um grupo de pessoas em passeata protestando contra a morte de seus colegas universitários assassinados, acusando-os de só se importarem quando a violência atinge a classe média. Demonstrações como estas são comumente organizadas por ONGs como “Eu sou da Paz”, que também incrementa programas sociais em favelas. Uma série de estudos tem demonstrado que estes programas, que o filme extrapola ao difamá-los, têm obtido sucesso na redução dos crimes.

“Tropa de Elite” acusa a classe média brasileira de alimentar a onda de crimes através do consumo de drogas, o que é provavelmente verdade, mas sua mensagem excessivamente política é de cinismo e desespero. As cenas de tortura e violência não são apenas chocantes por causa do seu impacto, mas também porque desumanizam os moradores das favelas a quem são infligidas.

A violência no Brasil é um sintoma de um largo conjunto de problemas sociais, em relação aos quais os brasileiros devem assumir sua responsabilidade. A maioria da classe média brasileira nunca pôs o pé numa favela e fala sobre elas como se fossem outro país. Filmes como “Tropa de Elite” ajudam a mantê-la nessa alienação.

(*) Artigo publicado originalmente no jornal inglês ‘The Guardian’ em 18-2-2008, por ocasião da premiação do filme “Tropa de Elite” no Festival de Berlim. Tradução de João Paulo Gondim Cardoso, colaborador do Fazendo Media.

Otelo, Orson Welles, 1952

* Taís T Ferreira

"...Os italianos, os franceses e os americanos - que podiam ter inscrito Otelo - não quiseram; tinham seus próprios filmes. Aí, como fora rodado no Marrocos, inscrevi o filme como sendo marroquino." Orson Welles
Lançado no Festival de Cannes em 1952, Otelo conquistou a Palma de Ouro de melhor filme.

Rodado em quatro cidades diferentes do Marrocos e uns cinco lugares na Itália, o filme traz o próprio Orson Welles como o mouro de Veneza. Otelo carrega em seu coração a dúvida a respeito de si mesmo, o que mina sua autoconfiança, solo fértil para Iago plantar o ciúme.

Intensidade dramática, luz, som, cor, ângulos, montagem. O filme começa pelo desfecho já conhecido da peça - o funeral. A montagem, uma das fases mais importantes da criação cinematográfica, é não linear e explora o cenário com contrastes de luz e sombra, lembrando os grandes planos de Eisenstein e a iluminação expressionista.

Com uma impressionante fotografia em preto e branco, Welles explora a arquitetura de Veneza e Marrocos com elementos de grande dramaticidade, conseguindo situações poderosamente expressivas a partir da relação dos atores com os cenários imponentes, que servem de palco para a tragédia criada por Willian Shakespeare por volta de 1603.

Racismo. Ciúme. Inveja.Traição. A história dos homens na literatura clássica, transformada em uma obra prima visual cinematográfica por Orson Welles, um de nossos gênios do cinema.

* jornalista