CINEMA


Cinema, documentário, cinejornal 



Por Taís Ferreira

           







O documentário audiovisual nasceu com o cinema. Nas primeiras cenas projetadas pelos irmãos Lumière, “A chegada do trem na estação”, de 1895, em que os espectadores começaram a fugir para o fundo da sala quando viram o trem, pelo realismo espontâneo da cena. Nos experimentos de Dziga Vertov, “Cinema-Verdade”, 1925, “Um Homem com uma Câmera”, 1929, o real quotidiano de cidades russas em noticiário de atualidades. Com Leni Riefestahl em “O Triunfo da Vontade”, de 1935, um dos filmes de propaganda política mais conhecidos na história do cinema, reconhecido por suas inovações técnicas e estéticas. Além do cinema de Roberto Rossellini que iniciou sua carreira com curtas e cinejornais. O neo-realismo busca a inspiração direta na realidade, em “Roma Cidade Aberta”, de 1945, a câmera nas ruas, num cenário real, mostrando a realidade social e econômica de uma época, um exercício de busca pela verdade.

Os primeiros filmes brasileiros realizados no fim do século XIX até a Primeira Guerra também tiveram intensa atividade documental. Em vários pontos do território nacional foram filmados, principalmente, o ritual em torno dos políticos, as paradas militares, inaugurações, eventos relacionados com a imagem da elite e o culto às belezas naturais do país. Alguns exemplos mineiros:

  • Retratos de diversos deputados e políticos, Raimundo Alves Pinto de 1908;
  • A posse do novo presidente do Estado, 1910;
  • A posse presidencial e a parada de 7 de setembro em Belo Horizonte, 1918;
  • Os Funerais do presidente Raul Soares, 1924;
  • A Visita dos Soberanos Belgas a Belo Horizonte, 1920;
  • O Rio das Velhas, Aristides Junqueira,1921;
  • Aspectos da Excursão Presidencial à Zona da Mata, Aristides Junqueira, 1928;
  • Exposição Pecuária Mineira, Bonfioli de 1928.

Em 1908 foi criado na França o primeiro cinejornal, o Pathé-Journal. No Brasil, em 1910 surge como uma versão do Pathé-Journal, o primeiro cinejornal brasileiro, com as filmagens de Alberto Botelho dos principais acontecimentos ocorridos no Rio de Janeiro: “A saída de nossa matinée de Domingo”, 12 de junho de 1910, a regata organizada pelo Clube de Icaraí. Até 1935, haviam sido criados 50 cinejornais no Brasil, superando a produção cinematográfica de outros gêneros.

Cinejornais são curtas jornalísticos exibidos no cinema antes dos filmes. Normalmente traziam notícias factuais mais relevantes e variedades em um espaço curto de tempo, aproximadamente 10 minutos. As notícias eram projetadas, inicialmente, com letreiros entre as cenas e posteriormente com a narração de um locutor com mais informações sobre as imagens. Os assuntos variavam: um resumo da semana, propaganda do governo, inauguração de obras, uma personalidade famosa, um pouco sobre moda e futebol.

O “Cine Jornal Brasileiro”, cinejornal oficial do Estado Novo foi uma forma de propaganda do regime na época. Tinha exibição obrigatória nos cinemas (decreto de 1932), o “complemento educativo”, como era chamado. Produzido entre 1938 e 1946, pelo DIP- Departamento de Imprensa e Propaganda, através da Agencia Nacional. Até 1945, o primeiro destaque nos cinejornais era Getúlio Vargas, em segundo, as Forças Armadas e em terceiro, a burguesia agrária e industrial. Um excesso de exposição dos Donos do Poder. O Brasil da Era Vargas, dos navios de guerra, estaleiros, escolares em marcha, a aviação. Vargas se desloca para Manaus, inspeciona a capital e o interior de Minas, vai à concessão Ford de exploração de borracha no Pará; ao nordeste para conversar com Roosevelt sobre os problemas de guerra. Dividindo o poder da imagem de Vargas estão as Forças Armadas: Exército, Marinha, Aeronáutica e depois de 1941, policias militares estaduais e corpo de bombeiros. Nos seus variados temas, os cinejornais mostram sob um viés ufanista, a representação das maravilhas do país. Temas ligados à educação, ao analfabetismo e à fome eram silenciados.

O cinema brasileiro, em boa parte do século vinte, não foi movimentado pelas obras de ficção, mas pelos noticiários através dos cinejornais, os precursores do telejornalismo. Nesse período, a ficção estrangeira dominava o mercado cinematográfico. São os cinejornais que sustentaram a produção cinematográfica brasileira nas primeiras décadas e, apesar de patrocinados ou institucionais, constituiem um acervo histórico por guardarem, durante décadas, momentos políticos e culturais, personalidades nacionais e estrangeiras, a representação de uma parte da história, da arquitetura e do passado de diversas cidades.

Marca uma época na produção brasileira as produções cinematográficas do fotógrafo Jean Manzon, francês que veio para o Brasil por indicação de Alberto Cavalcanti, brasileiro, reconhecido como importante documentarista na Europa, chefe do Serviço Cinematográfico e Fotógrafico Inglês. Manzon produziu filmes para o DIP, documentário sobre a borracha na região amazônica, trabalhou com Orson Welles nas filmagens do Carnaval carioca, além de ter sido fotógrafo da revista “O Cruzeiro” e dos Diários Associados.
Outro destaque dentro da história dos cinejornais brasileiros são as produções de Primo Carbonari, que teve a maioria de seu acervo deteriorado com o tempo, restando apenas a terça parte, oito mil latas, na sua maioria documentos de memória da cidade de São Paulo, da elite paulistana e do governador Adhemar de Barros.
No Brasil, de 1898 até 1930, perdeu-se 90% das produções em incêndios, a maior parte dos filmes em película de nitrato, de combustão espontânea, de difícel preservação e recuperação. Entre as perdas, estão os arquivos da Cinédia, que perdeu toda a sua produção, os arquivos do Instituto Nacional do Cinema Educativo-INCE, no qual atuou Humberto Mauro entre 1936 e 1964, que também perdeu muitos filmes. Ainda podemos citar as produtoras de Alberto e Paulino Botelho, no Rio de Janeiro, a Rossi Atualidades, a serviço do estado de São Paulo no governo Washington Luis, a Guarany Film, a Rex Film, entre outras tantas produtoras de cinejornais.
Em Minas Gerais, o destaque é a Carriço Film de Juiz de Fora que cobriu um período de 1934 a 1959, produzindo aproximadamente 500 edições. Parte de acervo foi perdido em depósito na própria cidade e outra parte perdida no incêndio na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Além dela, outros cinejornais de pouca periodicidade foram produzidos em Minas, como: Odeon Jornal, Revista Cinematográfica, Masoti Atualidade, 1926, A Cine Revista Mineira de Bonfioli de 1927, o Cine Jornal Mineiro de 1931, o Cine Cruzeiro do Sul, de Aristides Junqueira, entre 1935 e 1936, Notícias de Minas, 1948, Atualidades Mineiras, 1949 e Inconfidência Jornal, 1944, de José Silva, que entre 1958 e 1959 também registrou a construção de Brasília, e, a Minas Filme na década de 50.
Os cinejornais brasileiros foram produzidos até a década de 1980 e parte do acervo foi salva da destruição total, devido aos depósitos climatizados na Cinemateca Brasileira e no Arquivo Nacional, ao trabalho de transposição de suporte para mídias magnéticas analógicas (Quadruplex, 1 polegada, VHS, U-matic (¾ de polegada), Betacam, SuperVHS) e digital (Beta Digital, Hi8, MiniDV, DVCam, Xdcam), além das mídias de leitura ótica (Blu-Ray, DVD) e smart cards, suportes que facilitavam a catalogação, preservação e disponibilização para os estudiosos, cineastas, historiadores, pesquisadores da História do Cinema Brasileiro. Parte do acervo do Arquivo Nacional pode ser visto no site Zappiens


O último cinejornal a manter uma peridiocidade no Brasil foi o Canal 100, no ar de 1959 a 1986, devido a forte relação com os governos militares. Durante a ditadura, os patrocinadores que garantiram a vida do cinejornal de Carlos Niemayer foram o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Com teor ufanista no pós-64, as produções de Niemayer produziram no período anterior, o documentário “Os Sem Terra”, que abordava a questão da reforma agrária, a pedido do então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, ao mesmo tempo que produzia filmes com teor conservador, como “A Boa Empresa”, com claro interesse em ocultar os conflitos nas relações de trabalho, e “Asas da Democracia”, uma apologia à Força Aérea Brasileira, ambos encomendados pelo IPES que desenvolveu intensa propaganda anticomunista, com dura oposição ao governo Goulart e incentivadora do golpe de 1964.

Os filmes produzidos entre 1962 e 1964, cultuavam os valores capitalistas, a tradicional família católica e os militares. Dirigidos por Carlos Niemayer, contavam com a tradicional narração de Cid Moreira, clássica nas edições do Canal 100.

Em 1968, o Canal 100 exibia, nos cinemas, filmes curtos sobre o milagre econômico. As imagens da semana, apresentadas como uma revista de variedades, inovadoram no cinejornalismo brasileiro. O cinejornal trocava a postura séria e tradicional do período da propaganda do Estado Novo, introduzindo uma linguagem leve e informal. Apesar de registrar cenas de grandes manifestações do movimento estudantil e a passeata dos Cem mil, mostrava nas telas do cinema, somente, as realizações governamentais, as imagens do Rio de Janeiro, as praias, as mulheres e o futebol.

O futebol foi o tema principal do Canal 100, ao final do noticiário, a edição dos cinejornais terminava com o futebol e os recusos do close, da câmera lenta, imagens surpreendentes nas várias câmeras espalhadas pelo estádio, imagens da torcida, gestos, olhares, um espetáculo de emoções diferente da televisão na época.

A partir da copa de 70, o futebol ganhou grande espaço no cinema, enquanto a Tv brasileira transmitia a copa em preto e branco, a equipe do Canal 100, patrocinada pela Caixa Econômica Federal, foi ao México para trazer as primeiras imagens em côres filmadas, de uma copa do mundo para o Brasil.

No início dos anos 80, com o fim do governo militar, e sem os patrocínios das instituições governamentais, já não era mais possível manter os cinejornais num mundo dominado pela televisão. Confira: Vídeo do Canal 100 https://www.youtube.com/watch?v=xOmYao6XNXY


Taís Ferreira é graduada em Comunicação Social – Habilitação jornalismo - Puc-Minas
Pós Graduação: Memória e Cinema - Escola de Belas Artes – UFMG 

           




DIA DO DOCUMENTÁRIO

Dia 7 de agosto foi comemorado pela primeira vez no Brasil o Dia do Documentário. A criação da data partiu da Associação Brasileira de Documentaristas, entidade que desde 1973 reúne cineastas em torno das questões do curta-metragem e do documentário. Após uma discussão com os núcleos regionais, escolheu-se o 7 de agosto, data de nascimento deOlney São Paulo. Veja a nota da ABD.
Olney não foi um documentarista puro como Vladimir Carvalho ou João Moreira Salles, por exemplo. Seus longas mais conhecidos são os ficcionais Grito da TerraO Forte. Ele costuma ser lembrado, antes de mais nada, por Manhã Cinzenta, um misto de doc e fic que foi proibido na ditadura militar, provocou a prisão de Olney e lhe acarretou sequelas que levariam a sua morte prematura em 1978, aos 41 anos. A jornalista Ângela José contou muito bem sua história no livroOlney São Paulo e a Peleja do Cinema Sertanejo (Quartet, São Paulo, 1999). Entre seus vários curtas documentais destacam-se o clássico Sob o Ditame de Rude Almajesto, sobre as previsões de chuva no sertão nordestino, e os premiados Dia de Erê Pinto Vem Aí.
Olney foi escolhido principalmente por sua história de resistência ao estado de exceção, do qual Manhã Cinzenta é um símbolo (veja o filme no Youtube). A comemoração do Dia do Documentário coincide, em tempo e tema, com as atividades do movimento Censura Não, em protesto contra o precedente aberto pela interdição de A Serbian Film. O caso de Manhã Cinzenta foi um dos mais dramáticos do gênero, como se pode ver pelo dossiê reunido no projetoMemória da Censura no Cinema Brasileiro 1964-1988.
Mas seria bem interessante que o Dia do Doc não se restringisse apenas à memória política. O cinema documental é um universo bem maior que isso. Há uma programação de exibições, organizadas pelas ABDs de diversos estados. Se a data pegar mesmo, e espero que pegue, caberá mobilizar as cadeias exibidoras para que elas se unam à celebração, exibindo no dia 7 de agosto pelo menos uma sessão de documentário brasileiro em suas salas. Docs de vários gêneros, com ingressos a 1 real. Assim teríamos, literalmente, o Cinema do Real.

Publicado em: http://carmattos.com/ 

A ABDeC-RJ acaba de divulgar um clipe sobre o lançamento do Dia do Documentário no Rio. Veja abaixo:

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011


"Lixo Extraordinário"


Documentário de João Jardim, Karen Harley e Lucy Walker. O filme relata a trajetória do lixo dispensado no Jardim Gramacho até ser transformado em arte pelas mãos do artista plástico Vik Muniz.
"Não é vergonha ser pobre,
vergonha é subir no mais alto degrau da fama
com a alma suja de lama."
(Frase de um personagem do filme "Lixo Extraordinário")

O lixo que produzimos, a arte que consumimos

Por Bruno Dorigatti
Publicado em: saraivaconteudo.com.br/

Depois de oitos anos sem ter um filme nacional concorrendo ao Oscar, e sem nunca ter concorrido na categoria de melhor documentário, o cinema nacional volta a figurar na mais famosa premiação da indústria do cinema.
O filme Lixo extraordinário, uma coprodução Brasil-Inglaterra, dirigida por Lucy Walker, João Jardim, e Karen Harley, vem conquistando platéias e prêmios mundo afora. Até agora, o documentário ganhou 23 prêmios em mostras e festivais, seja do júri ou do público, incluindo o de Sundance e Berlim, todos este ano.

O pano de fundo da história é do aterro sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, uma área aproximada de 1,3 milhões de metros quadrados. Ele recebe quase a totalidade do lixo produzido na cidade do Rio de Janeiro, cerca de 8.800, e é lá que milhares de famílias tiram o seu sustento, chegando a recolher 200 toneladas diárias de material reciclável e tudo o mais que puder ser reaproveitado

O local está com seus dias contados, por conta dos riscos de infiltração na Baía de Guanabara e deve fechar em 2012. Em 2004, foi criada a Associação dos Catadores do Jardim Gramacho (ACAMJG), com o objetivo de lutar pelos direitos dos trabalhadores nas negociações sobre as ações reparadoras quando do fechamento, e é justamente Sebastião Carlos do Santos, o Tião, 32 anos e presidente da Associação de Catadores, o personagem principal de "Lixo extraordinário".

Na verdade, o filme parte da experiência do artista brasileiro Vik Muniz em Gramacho, quando este decide fazer, em parceria com catadores, fotos montadas a partir do lixo recolhido por lá. Muniz, nascido em São Paulo, vive em Nova York desde a juventude, depois que, ao tentar separar um briga na rua, foi baleado e recebeu dinheiro do atirador para que não o denunciasse. Foi essa bala que deu a oportunidade de ser quem é hoje, “o artista brasileiro que mais vende, talvez a pessoa mais em voga no exterior”. Frase que afirma no documentário a Tião, quando chega a Gramacho e começa a explicar o que pretende por lá.

Muniz realiza trabalhos em diversas técnicas e materiais, que incluem geleia, manteiga de amendoim, açúcar, fios, poeira, usados para reproduzir imagens clássicas, seja pinturas, como a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, ou fotografias, como a de Seu Jorge. Recentemente, pôde ser visto na abertura da novela "Passione", da Rede Globo.

Outra grande sacada são as obras com açúcar feitas a partir de retratos de crianças em São Cristóvão e Nevis, uma ilha caribenha onde seus pais são explorados nas plantações de cana. Outro interessante e curioso trabalho foi feito a partir da poeira acumulada no Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA (na sigla em inglês). Já em Versos, Muniz retrata os fundos de telas famosas de Picasso e Van Gogh, algo que transita entre a originalidade e a picaretagem.

Se o filme começa com certo didatismo, com uma breve apresentação de quem é o artista e como ele conseguiu vingar nos Estados Unidos, com narração e situações que claramente parecem ter sido encenadas, o longa ganha ritmo ao se aproximar do lixão e entrar na vida dos personagens, que têm a oportunidade de realizar um trabalho artístico. O documentário focaliza as histórias sofridas e difíceis das pessoas que optam por essa vida, muitos de classe média empobrecida por conta de alguma fatalidade, como doença, morte, demissão, alguma tragédia que os levou até o lixão. Há os que gostam, há os que odeiam, há os que não se importam muito. E Vik Muniz chega para quebrar essa rotina, oferecer a oportunidade de fazer arte com aquilo.

Tião foi um dos personagens que posaram como modelo para que a sua foto fosse reconstruída em larga escala com objetos catados em Gramacho. Foi fotografado como Marat no famoso quadro na banheira, apunhalado – imagem inclusive escolhida para ilustrar o cartaz do filme. Ele acompanha Vik a um leilão em Londres, onde vende a obra por 28 mil libras (R$ 74 mil). Tião não foi o único a ganhar dinheiro com este trabalho. Todos os que participaram do documentário montando as obras ganharam R$ 75 por dia, mesmo valor que conseguem trabalhando no lixão. Aqueles que tiveram seus retratos montados ganharam R$ 10 mil.

Curiosamente, o filme teve três diretores. Começou com a britânica Lucy Walker, passou às mãos do brasileiro João Jardim e foi finalizado pela também brasileira Karen Harley. Talvez por isso o resultado da montagem seja um tanto irregular. E se o documentário começa um tanto condescendente, como quem passa a mão na cabeça destes menos privilegiados, o resultado final é satisfatório, ao apresentar reflexões, ainda que iniciais, sobre o lixo que produzimos e a arte que consumimos. Resta saber se a Academia também se dobra a esta reflexão.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011


Shame - Ingmar Bergman

Os efeitos de uma guerra civil no relacionamento de um casal de músicos. Eva e Jan Rosenberg, ambos violinistas que, desde o fim de sua orquestra, trabalham em uma fazenda isolada para ganhar a vida. Após a invasão de tropas rebeldes, a paisagem antes bonita é transformada em uma "vergonha", um pesadelo de morte e destruição.

Premiações
Indicado ao Golden Globe de Melhor Filme em Língua Estrangeira em 1969
Vencedor do Cinema Writers Circle Awards, na Espanha na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.








Como em todos os filmes que assisti do grande mestre sueco Ingmar Bergman, é difícil exprimir em palavras as sensações e múltiplas reflexões que nos invadem após assistir Skammen (Brasil: Vergonha / Portugal: A Vergonha), um filme de 1968 em preto e branco, escrito e dirigido por Ingmar Bergman e estrelado por Liv Ullmann e Max von Sydow.

Shame é um dos filmes menos conhecidos de Bergman (1918-2007). Foi rodado na ilha de Faro, onde morava o diretor. Filmado logo depois de "A Hora do Lobo", é o único filme de guerra de Bergman. O filme não identifica que guerra, ou o que esta acontecendo exatamente. Na verdade, o que lhe interessa é mostrar como os seres humanos reagem a uma situação de guerra. Embora tenha sido feito durante a Guerra do Vietnã, é uma filme contra qualquer guerra, não importa de que lado você esteja.

Indicado ao Globo de Ouro de filme estrangeiro, ganhou no National Board of Review como filme estrangeiro e atriz. Para Liv Ullman, "o filme rodado com o mínimo de orçamento e o máximo de rigor, é uma alegoria sobre o povo na guerra, sobre gente comum, que mal entende os motivos do conflito, quem está do lado certo ou errado; guerra como o mal social definitivo. Mostra a desintegração das pessoas e de um casal, numa situação louca e sem sentido."
Intensidade dramática, luz, som, montagem, interpretação. Com uma bela fotografia em preto e branco, Bergman explora a atmosfera psicológica dos personagens que colaboram com a criação cinematográfica em excelentes interpretações.

Vale a pena assistir esta obra prima cinematográfica de Ingmar Bergman, um de nossos gênios do cinema.

Taís Ferreira - Jornalista

sábado, 28 de agosto de 2010


8º MUMIA - Mostra Udigrudi Mundial de Animação




8ª MUMIA
Mostra Udigrudi Mundial de Animação

Mostra Principal

De 10 a 16 de setembro
Cine Humberto Mauro | Palácio das Artes
Av. Afonso Pena, 1537, Centro


De 8 a 30 de setembroCentro de Cultura Belo Horizonte (Rua da Bahia, 1149, Centro)
Casa do Baile (Av. Otacílio Negrão de Lima, 751, Pampulha)
Cine Clube Joaquim Pedro de Andrade (Rua Tupinambás, 179, Centro)
Cine Clube Sabotage (Rua Álvaro Fernandes, 144, Taquaril A)
Cine Clube Uma Tela no Meu Bairro (Rua Jaime Gomes, 198, Floresta)
Prefeitura de Betim (Rua Pará de Minas, 640, Brasileia - Betim)

ENTRADA GRATUITA

Informações para o público: (31) 3277-4699 / www.mostramumia.blogspot.com

segunda-feira, 12 de julho de 2010


5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos abre inscrições

Estão abertas até 2 de agosto as inscrições para a 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, evento dedicado a obras que abordam questões referentes aos direitos humanos produzidas recentemente nos países sul-americanos. Uma realização da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, com produção da Cinemateca Brasileira e patrocínio da Petrobras, a Mostra acontecerá no período de 8 de novembro a 15 de dezembro de 2010.

O circuito de exibição, que em 2009 aconteceu em 16 capitais brasileiras, chega este ano a 20 cidades: Aracaju, Cuiabá, João Pessoa e São Luis, pela primeira vez, receberão a Mostra que se realizará também em Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Maceió, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Teresina.

O evento é apoiado pelo Ministério das Relações Exteriores, TV Brasil, Sesc São Paulo e Sociedade Amigos da Cinemateca. Podem participar obras realizadas em países da América do Sul finalizadas a partir de 2007 cujo conteúdo contemple aspectos relacionados aos direitos humanos. Não há restrição quanto à duração, gênero ou suporte de captação/finalização. Regulamentos e ficha de inscrição podem ser acessados através do websitewww.cinedireitoshumanos.org.br. Cópias em DVD - acompanhadas de sinopse, foto, ficha técnica e contato - devem ser encaminhadas até 2 de agosto para o seguinte endereço: 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul.

Cinemateca Brasileira - Largo Senador Raul Cardoso 207 / 04021-070 / São Paulo / SP. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3512.6102 ou pelo e-mail contato@cinedireitoshumanos.org.br.

As obras mais votadas pelo público serão contempladas com o Prêmio Aquisição TV Brasil nas categorias longa, média e curta-metragem. Em 2009, foram contemplados o longa “Entre a Luz e a Sombra”, de Luciana Burlamaqui (Brasil), o média “Nunca Mais!!! Cochabamba, 11 de Janeiro de 2007” de Roberto Alem (Bolívia), e o curta “Além de Café, Petróleo e Diamantes”, de Marcelo Trotta (Brasil).

A programação da 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul tem curadoria do cineasta e curador Francisco Cesar Filho. Desde 2008, os filmes contemporâneos passaram a ser selecionados não apenas por meio de convite da curadoria, como nas duas primeiras edições do evento, mas também via seleção pública por meio de convocatória.

Em suas quatro primeiras edições, a Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul exibiu títulos realizados na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, consolidando-se como espaço de reflexão no qual os direitos humanos encontram-se com a expressão cinematográfica. Ao exibir a produção contemporânea sul-americana, o evento promove o encontro de cineastas, militantes e ativistas com o público de diversas regiões do país.

Confira também o site da
4ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul

sábado, 5 de junho de 2010


Dica de Cinema: Mary e Max


Mary e Max - Uma amizade diferente (Mary and Max, Austrália, 2009)

Animação do premiado roteirista e diretor Adam Elliot sobre uma inusitada amizade entre uma menina australiana de 8 anos, Mary Dinkle, e um quarentão, Max Horovitz, que vive em Nova York. O sentimento de inadequação une os dois, que acham o mundo intrigante e incompreensível. Durante anos, eles trocam idéias sobre vários assuntos como amizade, autismo, alcoolismo, origem dos bebês, obesidade, cleptomania, diferença sexual, confiança e diferenças religiosas. A voz de Mary quando criança é da atriz Bethany Whitmore e, quando adulta, da estrela Toni Collette. Max, por sua vez, é dublado por Philip Seymour Hoffman. Em 2004, Adam recebeu o Oscar de Melhor Curta de animação por "Harvie Krumpet", história de um solitário imigrante polonês. O curta levou o prêmio de Melhor Filme escolhido pelo público brasileiro, no Festival Anima Mundi, no mesmo ano.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008


CINEMA NO MUSEU NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

No próximo dia 15 deste mês, o Museu Nacional da UFRJ inaugura a sala de vídeo Major Luiz Thomas Reis, apresentando a mostra de documentários científicos UFRJ VIDEO 2008. Estendendo-se até 21 de setembro, o evento é, segundo Eliane Frankel, uma das organizadoras, oportunidade excelente para despertar a curiosidade do público em geral pelo universo da ciência.

Dividida em eixos temáticos de Antropologia, Arqueologia, Paleontologia, Biologia Marinha, Dança e Comunicação Social, a programação abrange vídeos que em sua maioria registram trabalhos de campo de pesquisadores do Museu Nacional e da UFRJ, além de debates com os pesquisadores e produtores após as exibições. A entrada é franca.
No final de semana, a programação também é gratuita, com distribuição de senhas meia hora antes das sessões, que ocorrem entre 10h e 16h. Os debates, por sua vez, acontecem apenas de terça à sexta.

sábado, 19 de julho de 2008


Salvador: IV Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual

De 21 a 26 de julho de 2008, Salvador abrigará a quarta edição do Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual (SEMCINE), que vai exibir filmes inéditos na Bahia e no Brasil e apresentar conferências com convidados especiais, a partir do seu propósito de promover intercâmbio cultural, discussões e reflexões sobre a criação, produção, circulação e consumo do audiovisual.

As inscrições para acesso às Mesas Redondas e às exibições dos filmes estão abertas até o dia 20 de julho, através do sitehttp://www.seminariodecinema.com.br/.

O evento tem quatro frentes: uma mostra informativa, um ciclo de diálogos sobre o audiovisual, um encontro de produtores e mais a oficina do Produire au Sud, voltada à preparação de projetos visando co-produções internacionais.

Com diversos convidados nacionais e internacionais, o SEMCINE vai discutir temas como a intersecção entre História e Cinema, A realidade e a representação no documentário; A importância da trilha sonora na dramaturgia; A fotografia no cinema como elemento poético e a “Imagem-Movimento na Sociedade Contemporânea”. As mesas redondas vão acontecer na primeira metade do evento, entre os dias 21 e 23 de julho.

O foco das conversas na parte final do evento concentra-se no III Encontro de Produtores e Distribuidores de Cinema e Televisão, que leva a Salvador nomes de destaque no cenário internacional, em uma oportunidade para novos negócios. O SEMCINE abriga ainda as oficinas do Produire Au Sud, uma parceria com o Festival des 3 Continents de Nantes , França.

(Divulgação: Gabriel Barney)

São Paulo: Anima Mundi convoca para o Anima Fórum 2008

A terceira edição do Anima Fórum, que acontecerá nos dias 24 e 25 de julho em São Paulo , dentro do Festival Anima Mundi, será um ciclo de debates e conferências sobre a produção de animação para TV - séries, longas-metragens e especiais.

O Anima Fórum 2008 propõe-se a discutir os caminhos para a animação brasileira: qual o papel de cada parte envolvida; produtoras independentes, redes de TV públicas e privadas, abertas ou a cabo, órgãos governamentais, co-produtores internacionais? Como medir o mercado interno e que parcela poderemos almejar do competitivo mercado internacional? Quanto custa, e como financiar a produção?

Analisaremos cases internacionais e debateremos nossa estrutura interna em busca de propostas e metas que consolidem ainda mais as conquistas da Animação Brasileira. Vamos juntar as várias pontas - produção independente, redes de TV e órgãos governamentais de incentivo; para apontar problemas, sugerir soluções e comemorar resultados.

Os temas que serão apresentados e discutidos nesse encontro: Panorama Atual do Mercado Internacional de Animação, Viabilizando a Produção da Animação Brasileira, Co-Produções com TVs Públicas - em busca de conteúdo próprio e Co-Produções na América Latina.

Programação completa e reserva de vagas -http://www.animamundi.com.br
As vagas são limitadas. Mais informações:animaforum@vertigo30.com.br

quarta-feira, 16 de abril de 2008


Buñuel, respondendo aos jornalistas


"A moral burguesa é para mim o imoral, contra o qual se deve lutar: a moral fundada sobre nossas injustas instituições sociais, como a religião, a pátria, a família, a cultura; enfim, isto que se chama os 'pilares da sociedade'. Sim, eu fiz filmes comerciais, mas sempre segui meu princípio surrealista: a necessidade de comer não desculpa jamais a prostituição da arte. Entre vinte filmes eu tenho alguns péssimos, mas nunca traí meu código de moral. Eu sou contra a moral convencional, os fantasmas tradicionais, toda esta sujeira moral da sociedade introduzida no sentimentalismo. Para mim, Los Olvidados é efetivamente um filme de luta social. Porque eu me creio simplesmente honesto comigo mesmo, eu devo fazer uma obra social. Eu sei que vou neste caminho. Mas a partir do social eu não quero fazer filmes de tese. Eu observo as coisas que me emocionam e eu quero transpô-las para a tela, mas sempre com essa espécie de amor que eu tenho pelo instintivo e pelo irracional que podem aparecer em tudo. Sempre estou lançado para o desconhecido e o estranho que me fascinam sem que eu saiba jamais por quê. Sim, eu sou ateu graças a Deus; é preciso buscar Deus no homem e isto é muito simples..."

domingo, 6 de abril de 2008


FASCISMO NO CINEMA

Por Conor Foley – The Guardian (*)

A notícia de que “Tropa de Elite” ganhou o prestigiado prêmio “Urso de Ouro” do Festival Internacional de Berlim foi recebida com deleite no Brasil. O país deveria se envergonhar.

“Tropa de Elite” tornou-se o filme brasileiro mais popular de todos os tempos quando foi liberado ano passado. Estima-se que 11 milhões de pessoas assistiram às cópias piratas do filme antes do seu lançamento oficial, tendo quebrado recorde de bilheteria quando chegou aos cinemas.

O filme segue o sucesso de “Cidade de Deus”, que conta a árida história de como as favelas em volta do Rio de Janeiro gradualmente caíram nas mãos dos traficantes de drogas. “Tropa de Elite” se baseia no mesmo tema, tendo início, cronologicamente, de onde “Cidade de Deus” terminou. A cena de abertura mostra um baile funk no qual adolescentes narcotraficantes dançam ao mesmo tempo em que abertamente sacodem suas armas automáticas. Dois policiais à paisana tentam armar uma cilada, que não sai como esperado. Eles acabam encurralados na favela, sendo resgatados com a chegada do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro), comumente conhecido como “Tropa de Elite”.

O filme é visualmente impactante e a trilha sonora contribui para o drama, mas a trama é deplorável e os diálogos são fracos. O enredo se desenvolve em torno do destino de três homens: Capitão Nascimento, o chefe do Bope, e dois policiais que ele resgata, Neto e Matias.

Nascimento quer abandonar a polícia, pois sua esposa está grávida, mas primeiro ele deve encontrar alguém que o substitua, sendo este evidentemente o modo como o sistema de recrutamento da polícia brasileira opera. Neto e Matias decidem entrar para o Bope e se submetem ao processo de recrutamento, que envolve, principalmente, duro exercício físico, porque, como nos é dito, essa é uma boa maneira de arrancar-se a corrupção pela raiz. Matias, que é negro, freqüenta a faculdade onde seus colegas, universitários brancos, sentados em círculo, discutem Foucault e condenam a brutalidade da polícia. Poderiam os clichês serem mais banais?

Alguns dos estudantes, incluindo a namorada de Matias, estão envolvidos em um projeto social na favela, mas parece que não fazem muito além de fumarem maconha, fornecida por um traficante local. Eles são posteriormente assassinados pelos mesmos traficantes, que também mataram Neto e o desenlace sangrento do filme ocorre à medida que o Bope entra na favela atirando na busca dos assassinos.

O filme causou polêmica porque mostrou a polícia torturando mulheres e crianças para obter informações sobre o líder da quadrilha. Aparentemente, enquanto estava ocorrendo a filmagem no set, um oficial do Bope interrompeu os atores e lhes disse: “Olha, você está fazendo tudo errado. Você deve segurar o saco plástico assim, para que não fique nenhuma marca”. Nos cinemas Brasil afora, as pessoas gritaram e aplaudiram durante a cena e o capitão Nascimento fictício, que é baseado em personagem real, foi amplamente aclamado como um herói nacional”.

Ninguém nega a realidade na qual “Tropa de Elite” é baseado. Favelas como Complexo do Alemão parecem realmente zonas de guerra, onde a polícia é considerada um exército de ocupação. Mas o Brasil é também o país mais desigual do mundo e, ao ignorar as razões sociais da violência, o filme enaltece uma estratégia que por si só demonstra seu fracasso. Um governador populista do Rio uma vez ofereceu pagamento em espécie aos policiais que matassem criminosos, o famoso “bônus do oeste selvagem”, mas a taxa de crimes continuou a aumentar.

Aproximadamente meio milhão de brasileiros foram assassinados na última década, o que torna o país mais violento do que a maioria das zonas de guerra. Os brasileiros estão zangados e com medo do que está acontecendo em seu país, procurando desesperadamente por soluções.

Em um determinado ponto no filme, Matias confronta um grupo de pessoas em passeata protestando contra a morte de seus colegas universitários assassinados, acusando-os de só se importarem quando a violência atinge a classe média. Demonstrações como estas são comumente organizadas por ONGs como “Eu sou da Paz”, que também incrementa programas sociais em favelas. Uma série de estudos tem demonstrado que estes programas, que o filme extrapola ao difamá-los, têm obtido sucesso na redução dos crimes.

“Tropa de Elite” acusa a classe média brasileira de alimentar a onda de crimes através do consumo de drogas, o que é provavelmente verdade, mas sua mensagem excessivamente política é de cinismo e desespero. As cenas de tortura e violência não são apenas chocantes por causa do seu impacto, mas também porque desumanizam os moradores das favelas a quem são infligidas.

A violência no Brasil é um sintoma de um largo conjunto de problemas sociais, em relação aos quais os brasileiros devem assumir sua responsabilidade. A maioria da classe média brasileira nunca pôs o pé numa favela e fala sobre elas como se fossem outro país. Filmes como “Tropa de Elite” ajudam a mantê-la nessa alienação.

(*) Artigo publicado originalmente no jornal inglês ‘The Guardian’ em 18-2-2008, por ocasião da premiação do filme “Tropa de Elite” no Festival de Berlim. Tradução de João Paulo Gondim Cardoso, colaborador do Fazendo Media.

Otelo, Orson Welles, 1952

* Taís T Ferreira

"...Os italianos, os franceses e os americanos - que podiam ter inscrito Otelo - não quiseram; tinham seus próprios filmes. Aí, como fora rodado no Marrocos, inscrevi o filme como sendo marroquino." Orson Welles 
Lançado no Festival de Cannes em 1952, Otelo conquistou a Palma de Ouro de melhor filme.

Rodado em quatro cidades diferentes do Marrocos e uns cinco lugares na Itália, o filme traz o próprio Orson Welles como o mouro de Veneza. Otelo carrega em seu coração a dúvida a respeito de si mesmo, o que mina sua autoconfiança, solo fértil para Iago plantar o ciúme.

Intensidade dramática, luz, som, cor, ângulos, montagem. O filme começa pelo desfecho já conhecido da peça - o funeral. A montagem, uma das fases mais importantes da criação cinematográfica, é não linear e explora o cenário com contrastes de luz e sombra, lembrando os grandes planos de Eisenstein e a iluminação expressionista.

Com uma impressionante fotografia em preto e branco, Welles explora a arquitetura de Veneza e Marrocos com elementos de grande dramaticidade, conseguindo situações poderosamente expressivas a partir da relação dos atores com os cenários imponentes, que servem de palco para a tragédia criada por Willian Shakespeare por volta de 1603.

Racismo. Ciúme. Inveja.Traição. A história dos homens na literatura clássica, transformada em uma obra prima visual cinematográfica por Orson Welles, um de nossos gênios do cinema.

* jornalista

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008


TIRADENTES MOSTRA DE CINEMA


Arthur Lobato e Roberto Bomtempo

TIRADENTES MOSTRA DE CINEMA 2005


Arthur Lobato e Matheus Nastchergaele


Arthur Lobato e Cao Guimarães



Arthur Lobato e João Batista de Andrade

terça-feira, 8 de janeiro de 2008


Cobertura para TV


jornalistas
Taís Ferreira e Izabela Marchner






foto
Arthur Lobato



Equipe Programa de Cinema
José Eustáquio, Taís Ferreira, Isabela Marchner, Gustavo Fortuna





foto
Arthur Lobato


Beto Brant em Belo Horizonte


Beto Brant e Arthur Lobato






foto
Taís Ferreira


Arthur Lobato e Beto Brant em "Crime Delicado"


Equipe Programa de Cinema
José Eustáquio, Taís Ferreira, Isabela Marchner, Gustavo Fortuna


Beto Brant e Arthur Lobato

Sobre Herzorg e “O Homem Urso”

*Arthur Lobato
Uma coisa é ter em mãos cem horas de material filmado em cinco verões no Alasca, com cenas incríveis de um ser humano convivendo com ursos selvagens até o dia de sua morte, por um urso.
Outra coisa é chamar Werner Herzorg, em plena juventude aos 70 anos, para a partir deste material fazer um filme. Não um filme sobre ursos, mais que um filme sobre este homem e sua relação com os ursos, mas um filme que lança perguntas, sem julgamentos, sobre o que é um ser humano e suas motivações para fazer o que faz.
Herzorg roteiriza, entrevista, narra em off, com sua voz rouca e cadenciada, procura parentes, amigos, o legista, pilotos, ecologistas, entre outros que conviveram com o homem urso. Nas contradições de opiniões, Herzorg, sem tomar partido, tenta lançar luz sobre a questão que norteia o filme. Quem é este homem, o que o motivou a conviver com ursos selvagens no Alasca durante 13 verões?
Herzorg não dá a resposta, ele constrói um filme para que cada um, ao ver o filme tenha suas próprias respostas e dúvidas. Como cineasta, vê o olhar do cineasta ecologista, usando na edição, além do material filmado intencionalmente pelo homem urso, cenas filmadas ao acaso, de beleza cinematográfica, além da intencionalidade do autor - como o vento serpenteando a mata, os mosquitos, milhares, como nas histórias de Tio Patinhas no Alasca.
Herzorg vai com uma câmera e um cinegrafista ao Alasca, ele que já filmou na selva amazônica, no deserto do Saara, grande explorador, documentarista, cineasta que admiro intensamente.Herzorg entrevista, filma, narra, edita com o material filmado por ele, o material filmado pelo homem urso e constrói um dos melhores filmes já vistos, sobre um homem que fez a ruptura entre a cultura (civilização, humanidade) e a natureza (os ursos e seu habitat). Os esquimós, conforme entrevista, sempre viram no urso um inimigo, um animal, carnívoro, que ataca em busca de comida, mas o esquimó respeitava o urso, animal selvagem, não invadindo seu habitat, e matando ursos em caso de defesa. Havia o limite entre o homem e a natureza. O homem urso rompeu esta regra de convivência entre humanos e animais selvagens durante 13 verões.
Este homem urso, meio psicótico no meu entender, alcançou fama defendendo os ursos, foi até no Lary King (programa de entrevista americano que o Jô Soares copiou), ecologista radical para uns, maluco para outros.
Você tem que ver o filme, para entender o método de filmagem radical do homem urso, ele se aproxima dos ursos, gigantescos, toca seu nariz, filma lutas entre eles a poucos metros, mantém uma câmera no tripé, onde fala para a câmera, com o urso bem perto dele tipo uma “passagem” - cena em que o repórter aparece com o tema da reportagem ao fundo, e tem uma outra câmera nas mãos.
A câmera digital leve possibilita uma imagem perfeita, transcrita para filme, fica mais incrível ao ser exibida no escuro da sala de cinema. Entramos no filme, na magia do cinema, e conhecemos várias facetas do personagem; seus discursos, revelando seu “eu” solitário por meses. Ele faz da câmera sua “escuta” terapêutica. Estes discursos fragmentados, desesperados, não por comunicação, mas soando como desabafos, reflexões, uma busca de entendimento de si próprio, falando para a câmera em voz alta revela um homem que chama a si mesmo de “guerreiro gentil”. É um paradoxo, pois como um guerreiro pode ser gentil? São os dois lados de sua mente clivada. Ele diz que já bebeu demais, viu a luz, e a causa dos ursos é sua razão de viver e por isso não bebe mais. Noutra cena reza para Deus, Alá e “aqueles que flutuam na água”, referencia aos deuses hindus(?) para que a chuva venha. E a chuva vem (pensamentos mágicos, onipotência do pensamento), e ele agradece a esta trindade mística.
Em outra cena filma os “turistas” que vão fotografar os ursos, mas ele atrás das folhagens mais parece um animal observando os humanos.
Na entrevista com os pais a mãe tem um ursinho de pelúcia no colo da mãe, que o filho levava para o Alasca, e filmes caseiros mostram ele criança, brincando com esquilos, colocando o dedo no nariz do esquilo como fez com raposas e ursos adultos no Alasca.
Sobre este filme cheguei a redigir um texto sobre ética na imagem que iria apresentar no Congresso Nacional de Jornalistas, não sobre o filme, mas sobre um procedimento ético do cineasta Herzorg.
No dia de sua morte por um urso selvagem, que já tinha sido dopado anos atrás para extrair um dente, e tinha uma marca tatuada, como “identificação”, a câmera estava ligada com a tampa na lente, e gravou o audio, sem imagem, o ataque do urso e os gritos de morte do homem urso e de sua namorada, que o visitava neste último verão apesar dos mosquitos e certo receio do ursos. Na cena Herzorg, em silencio ouve o audio em silencio, com o fone de ouvido, se emociona, e diz para a proprietária do material, uma ex namorada ecologista, que dirige a “fundação” do homem urso: “Não ouça, destrua esta fita, ela vai ser um elefante branco para você”. Em entrevistas após o lançamento do filme Herzorg afirma “Não vou fazer um “Stunff film” (filmes geralmente pornográficos, feitos nas guerras ou em estúdios, onde se estrupam e matam pessoas na frente da câmera. Esta é a “natureza” humana...)
Isto é ética na imagem.
Se fosse no Brasil aposto que o diretor brasileiro ficaria em todos os programas de entrevistas, dizendo o contrario, coisas tipo: “Sei que é chocante, mas não podia deixar o espectador sem ouvir esta cena”, num claro discurso maniqueísta, necrófilo, de busca de audiência.
A entrevista do legista que ouviu o audio é terrível, pois ele narra o que ouviu, e que de dentro do urso foram tirados 4 sacos de restos humanos do homem urso e sua namorada ...
O piloto fala que viu uma mão, com pedaço do pulso e o relógio, que ainda funcionando foi dado meses depois para a ex namorada, e me lembro da tristeza do homem urso ao ver um bracinho de urso, devorado pelos mais fortes, uma caveira de ursinho, também devorado pelos ursos maiores famintos, uma raposa morta e seu inconformismo com a morte.
Taís acrescenta numa conversa que tivemos, a fala final de Herzorg, quando ele dá sua opinião de forma dialética num discurso duro, incisivo, em contraste com cenas belíssimas do urso pescando, mergulhando na água azul, parecendo brincar, tão humano com as solas dos pés fora da água. Herzorg afirma no texto, a questão da barreira entre o humano e o selvagem e usa cenas de close dos ursos onde o homem urso captura bem perto o olhar do urso. Herzorg afirma que não vê no olhar do urso mais do que o vazio de um animal selvagem, pronto para atacar em busca de comida, e acrescento: sem a possibilidade da intermediação simbólica, do discurso via linguagem.
Para terminar venho com uma questão do meu imaginário. Será que a mulher ao ver o namorado, homem urso tão perto do urso, não se assustou? Gritou, e fez com que o urso atacasse ambos? Ou o urso sentiu o “cheiro’ do medo da mulher ou será que ela menstruou e o cheiro da menstruação “surtou” este urso, já dopado antes, e talvez o doping, a inserção da “cultura” humana no sangue deste urso, possa tê-lo feito virar um urso psicótico. Ou talvez, apenas o instinto básico da fome foi a causa da morte do homem urso. Afinal são os instintos que regem a vida animal -fome e sexo - já dizia o bom e velho Sigmund são as pulsões, que nos movem também. Questões que levo na tentativa de entender o que não tem entendimento, a morte, o fim, o momento derradeiro da vida.
Não perca, isto é cinema, isto é Herzorg.

*jornalista e psicólogo

sábado, 5 de janeiro de 2008


Amarelo Manga

Texto sinóptico: Arthur Lobato

A cor do defunto.
O sabor agri-doce
da morte.

Amarelo Manga,
com Jonas Bloch
na velha
Mercedes Benz,
“road movie”
 de dia
de noite
pela periferia
do Recife velho.
Pobreza, miséria,
sofrimento, solidão,
esperança, ilusão...

O “povo” é filmado,
sem maniqueísmo,
nas esquinas,
nos locais de trabalho
e viver.

Hotel Texas
olhar de Win Wenders
sobre seu hotel decadente
chamado um milhão de dólares.

Lá estão os excluídos,
abandonados,
em um hotel abandonado,
o índio, o velho, a prostituta,
a bichinha, o padre sem fé...

Perversões:
O açougueiro,
que diz
cortando um boi,
que gente
é que é bicho
que merece morrer...

Em sua casa
não falta carne
que a mulher vomita,
reza na igreja
na cama é fria
Canibal é seu apelido
devoradora
recalcada pela religião.

Moralista,
Vomita
ao comer a carne
Que nunca falta
em sua casa...
Seu marido açougueiro
tem uma amante
que quer seu divórcio
e o seduz,
e o controla
com promessas
do sexo gostoso,
que ele
não tem
em casa.

Mas quem é de fato
apaixonado por ele
é a bichinha, cozinheira,
que joga em sua comida
pozinhos mágicos
do terreiro de candomblé.

Manda cartas para
Des-velar o amor
Revelar a amante
Para que a esposa
Separe
e ele
seja
dele.

A velha prostituta,
gorda,
sempre com asma,
sem clientes,
oxigena sua vagina.

O padre sem fé
em sua igreja tricentenária
fechada, abandonada
lacrada
com cimento.

O banquete dos mendigos:
um jantar comunitário
onde a prostituta
ao sufocar
é ajudada
pelo padre,
que passa as mãos
nos seus peitos;
bolinação explícita,
de desejos implícitos
de um padre
que perdeu a fé.

O velho,
dono do hotel
não liga para nada,
e dorme,
morrendo.

O velho morre,
a bichinha
entrega a carta
revelando o encontro
do marido
com a amante
para a Santa Canibal.

Ela vê o marido
trepando na rua
arranca a orelha
da vadia
e foge.

O marido chora,
busca consolo
na bichinha.
O filtro,
o feitiço do amor
funcionou.

Ele chora
a bicha consola
Convida
a ir ao quarto,
eles vão...
Mas ante a visão do morto
marido vai para casa.
Perdeu o amor,
a família
a amante,
e sua dignidade.

O padre não tem
coragem
de enfrentar
a morte do amigo
“Chame um pastor!”

Jonas
Procura defuntos
Amarelo Manga,
cor e sabor
Lambe seu corpo
quente
atira nele
e goza
“Desvio quanto ao objeto e objetivo”.S.F,

Troca fumo
por defuntos
com o motorista
do rabecão.

A bela ruiva
que atura
os bebuns
explode
expulsa
perdoa.
Mostra
seus pelos
Pubianos
ruivos
e o homem
que amava defuntos
Amarelo Manga
sonha
com aquela
púbis ruiva
vagina delicada
e poderosa,
exibida.
ao levantar
o vestido.


O marido briga
com a amante
e desconta
no telefone.

E o homem
Que ama
Amarelo Manga
pega aquela
Canibal
que estava
morta por dentro.
Sexo Selvagem
Perversão?????
Escova de cabelo no cu
cigarrinho aceso
ela morreu?


Filme amargo,
de revoltas
cru, real, sofrido.
belíssimo
ao mostrar
o vazio do ser humano

a fragmentação
de
Desejos
paixões
Perversões,
exclusão
Abandono, revolta, desespero.

Amarelo Manga
A cor do brasileiro
mestiço
A cor do cabelo
da canibal
que renasceu
na cama
do necrófilo
pinta o cabelo
de Amarelo Manga
símbolo da libertação
da morte
de um desejo
pervertido?
Agora
bem resolvido
ao encontrar
sua
Sexualidade Canibal
não mais recalcada pela fé
luta
Evangélicos (bem)
X
O Mal (excluídos).


Amarelo Manga:
A falência de uma nação
refletida nos seres
perdidos
sofridos
anestesiados por uma tv
sempre ligada,
mesmo no velório,
junto com
o rádio
da igreja evangélica.

Amarelo Manga,
Um filme
De Cláudio Assis

terça-feira, 16 de outubro de 2007


Cinema em pauta

A cada ano o Brasil amplia seus horizontes, difundindo o cinema brasileiro além das fronteiras. Por outro lado, necessitamos cada vez mais preservar a memória e difundir o cinema como um todo, em especial o cinema nacional, além de formar um público crítico e reflexivo, sem o qual o cinema se torna objeto de consumo descartável.

Desde os primórdios do cinema registram-se atitudes militantes frente à aventura de constituir nossa identidade nas telas, como não deixam dúvidas as palavras de Humberto Mauro: ”Eu tenho fé no cinema Brasileiro”. Para isso, desde as primeiras décadas do século XX os cineclubistas se movimentaram, criando circuitos para possibilitar o debate e uma tela privilegiada para o cinema que dialogue com o seu público.

O movimento Cineclubista Brasileiro, desarticulado no início dos anos 90, necessita do estabelecimento de políticas em âmbito municipal, estadual e federal, cuja aplicação responda a necessidades de curtíssimo, curto e médio prazos.O cinema nacional deve ser visto por todos os brasileiros.

Nosso objetivo está voltado para a alfabetização do olhar, a formação e a organização do público. A inclusão de cada um no exercício da convivência com a diversidade cultural do outro possibilitará que desse processo de permanente construção coletiva do olhar, e consequentemente do saber, brote um novo público pleno de consciência sobre seus direitos de cidadão, em oposição à tendência monopolista do mercado, que cria obstáculos para que as particularidades vivam e floresçam.