sexta-feira, 12 de abril de 2013

Diálogos EBC debate o jornalismo público durante lançamento do Manual de Jornalismo da EBC



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Diretor-presidente da EBC, Nelson Breve, durante o lançamento do Manual de Jornalismo da EBC (Elza Fiúza/ ABr)
 
Questionamento enviado à Ouvidoria da EBC em 2010, sobre o uso do "off" (informação divulgada sem a identificação da fonte) em reportagem da Agência Brasil, suscitou a necessidade de elaboração de um manual de jornalismo para a Empresa. Foram mais de dois anos de debates para se chegar ao documento atual, que teve sua versão impressa lançada nesta quinta-feira (11/04), durante a terceira edição do Diálogos EBC, realizado em Brasília. Nele estão contidos os princípios fundamentais que norteiam o trabalho cotidiano dos profissionais envolvidos na produção de notícias.
“Ao final, estabelecemos, por exemplo, que o "off" não é proibido, mas só deve ser usado em situações especiais, que estão estabelecidas no manual”, avalia a diretora de Jornalismo, Nereide Beirão. Para ela, o resultado final terá um efeito libertador, em vez de criar amarras para o trabalho jornalístico. “O Manual conseguiu refletir os nossos princípios e valores e dar parâmetros para o jornalismo”, afirmou.

O grupo de trabalho responsável pela produção do texto, composto por representantes de todas as áreas, estudou manuais de dez empresas públicas de comunicação do mundo e ouviu vários especialistas. Segundo o ex-presidente da Associação Brasileira das Emissoras Públicas Educaticas e Culturais e coordenador do processo de elaboração do Manual, Antonio Achilis, todo mundo trabalhou duro na formação desse documento. “O texto se insere no papel da EBC de contribuir para a formação de uma cultura e caráter de comunicação pública. O desafio agora é internalizar o Manual na prática”, disse.

O cineasta e diretor do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia, Pola Ribeiro vai além. “O próximo manual não será apenas da EBC, mas de toda a rede de comunicação pública."

Contracorrente

O jornalista português Carlos Fino foi convidado a falar de sua experiência na emissora pública Rádio e Televisão Portuguesa. Vocês estão na contracorrente, em um mundo que caminha cada vez mais para a expansão do setor privado”, elogiou.  Ele lembrou situações de crise enfrentadas pela empresa portuguesa que poderiam ser contornadas com a ajuda de um manual. “Não há linha de conduta definida para lidar com determinadas situações, se essas não estão explicitadas." No seu entendimento, uma televisão pública deve ter o compromisso de produzir o conteúdo que o mercado não consegue. “Tem que fazer diferente. Tem que responder com qualidade. Afinal, é um veículo feito para o público, com dinheiro público e deve ser controlado por ele”, defendeu.
Para o diretor-presidente da EBC,  Nelson Breve, a definição de regras claras para a busca, o tratamento e a publicização da informação é imprescindível para que todos esses processos sejam feitos com integridade."Temos que primar pela perfeição, o que não é fácil, porque somos humanos e erramos, mas o erro não pode ser uma forma de justificar intenções que não são as da busca e divulgação da verdade. O cidadão tem o direito de tomar suas decisões com base nisso, com base nas informações que ele recebe”, enfatizou.

Acesse o link e saiba como fazer o download do Manual de Jornalismo da EBC 

terça-feira, 9 de abril de 2013

Regular a comunicação visa dar voz a mais pessoas

Regulamentação dos meios de comunicação no Brasil serve para diversificar e dar espaço a diferentes visões de mundo na mídia. MB debateu o tema
São Paulo - O que você faria se fosse personagem de uma reportagem de jornal, rádio ou TV que prejudicasse sua imagem com mentiras e você não tivesse espaço para reclamar? Sem direito de resposta mesmo sendo injustiçado? Infelizmente não são poucos exemplos como esse no Brasil, país onde um grupo reduzido de poderosos concentra grande parte dos veículos de mídia. Por ter plena convicção de que a democracia passa por espaço para todos nos meios de comunicação, por pluralidade de vozes, enfim, por mais gente falando, é que o Sindicato abraçou a luta por um marco regulatório para a comunicação.

Nessa segunda-feira 8, o tema democracia e comunicação foi discutido no segundo Momento Bancário Especial 90 Anos. Apresentado pela presidenta da entidade, Juvandia Moreira, o MB foi transmitido ao vivo pelo site e contou com a presença do blogueiro Luiz Carlos Azenha, do Viomundo, do coordenador da Rede Brasil Atual, Paulo Salvador, e do professor doutor da Universidade de São Paulo Laurindo Leal, mais conhecido como Lalo. “Não tem como falar em democracia sem discutir comunicação”, disse Juvandia ao abrir o debate.

A dirigente lembrou que nem o direito de resposta é regulamentado desde o fim da Lei da Imprensa, em 2009. “Precisamos urgentemente de uma lei que garanta que o cidadão reclame quando se sentir lesado por algum veículo de comunicação”, ressaltou.

“Os meios eletrônicos de comunicação são concessões públicas, o espaço onde trafegam essas ondas é limitado, ou seja, o espectro de transmissão é finito. Por isso é importante que esse espaço seja o mais democrático possível. Infelizmente não é isso que ocorre no país. Nosso código de telecomunicações é de 1962, quando a televisão era preto e branco. Hoje temos internet e o código é o mesmo. No Brasil só quem tem liberdade de comunicação são os donos dos veículos. Precisamos mudar isso com urgência”, afirmou Lalo (foto ao lado).

Para o jornalista Luiz Carlos Azenha (foto à direita), não é por acaso que falta regulamentação das mídias no país. “Isso faz parte dos interesses dos donos de grandes veículos. Quando se fala em regulamentar, a grande mídia logo reage como se estivéssemos falando de censura, quando na verdade queremos mais mídias, que mais gente fale, que mais vozes tenham espaço nos meios de comunicação.”

“E não adianta deligar a TV, até porque assistir a uma boa programação na TV é um direito do cidadão. Também não adianta mudar de canal. O controle remoto não é a melhor forma de escolher o que se quer assistir porque todos os canais passam a mesma coisa, mostram a mesma versão dos fatos”, completou Lalo.

O jornalista e diretor do Sindicato, Paulo Salvador (foto abaixo, à esquerda), lembrou que outra forma de promover a democratização dos meios é dividir melhor as verbas de publicidade do governo. “As verbas públicas estão concentradas nas mãos de poucos: 70% da verba da secretaria de comunicação vai para os grandes veículos, e nesse montante nem estão as verbas das empresas estatais.”

Marco regulatório – Para esclarecer como a aprovação de um marco regulatório para a comunicação é importante, o professor Lalo comparou com outros setores como o da energia ou mesmo dos transportes. “Como seria se cada empresa de ônibus resolvesse escolher seu trajeto, se o transporte só passasse onde tem gente com dinheiro? Os controladores da mídia tratam de censura qualquer tipo de regulação, mas isso já é realidade há muito tempo em países como Suécia, Estados Unidos, Grã-Bretanha. Alguns têm órgãos legisladores desde 1930.”

O professor disse ainda que nesse aspecto o Brasil está ficando atrás inclusive na América Latina e citou como exemplo a Lei de Meios da Argentina e processos mais avançados na discussão sobre regulação em países como Venezuela, Equador, Uruguai e Bolívia. “O que a lei de meio argentina fez basicamente foi aumentar a possibilidade para que novos atores possam se expressar. Lá, esse espectro limitado foi dividido em três partes: um terço para emissoras publicas, outro terço para privadas e o uma terceira parte para emissoras privadas sem fins lucrativos. Isso deu oportunidade para quem não tinha voz. Assim, o grupo Clarín, que é a Globo argentina, foi obrigada a abrir mão de uma série veículos que ele concentrava.”

Mobilização – Os debatedores frisaram ainda a importância de mobilização popular para a aprovação de uma lei que regulamente as mídias no país. “Temos de ter uma maior mobilização e é preciso que os setores mais organizados tomem iniciativa”, disse Paulo Salvador, lembrando o projeto de marco regulatório que está sendo elaborado por diversas entidades da sociedade civil e que será apresentado à população no próximo dia 19, quando será aberta uma campanha para coleta de assinaturas pela internet.

“Queremos o marco regulatório e essa é uma construção de todos os dias. Não é abstrata, se dá no concreto. O cidadão tem de estar no movimento, abraçar, divulgar”, completou Salvador, comentando sobre os blogs progressistas e os veículos da Rede Brasil Atual.

> Iniciativa popular por regulação da comunicação

Lalo Leal destacou que se antes essa discussão era restrita, hoje ela está sendo feita por diversas categorias de trabalhadores. “Não sou pessimista quanto o avanço dessa discussão. Antes ela estava restrita, mas hoje estamos discutindo isso aqui nos bancários.”

Vídeo – Durante o programa também foi exibido o segundo curta metragem comemorativo dos 90 anos da entidade, que abordou Comunicação e Cultura. Clique aqui.


Andréa Ponte Souza - 8/4/2013

Publicado em: http://www.spbancarios.com.br/

Leia também: 
Fortalecer a midia alternativa para enfrentar os grandes conglomerados midiaticos

 O poder e o papel dos meios de comunicação




 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Pesquisa constata que maioria dos jornalistas é mulher e ganha até cinco salários mínimos

 
Para comemorar o Dia do Jornalista - 7 de abril, a FENAJ lançou, nesta quinta-feira (4/4), o relatório com a síntese da pesquisa "Perfil do Jornalista Brasileiro".

O lançamento ocorreu em entrevista coletiva em Brasília, com as participações dos presidentes da FENAJ, Celso Schröder, do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, Mirna Tonus, da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo, Dione Moura, e do professor Samuel Lima, um dos coordenadores da pesquisa, que foi desenvolvida pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UFSC em convênio com a FENAJ.

Entre os dados mais evidentes da pesquisa, que subdividiu os entrevistados em 3 segmentos para aprofundar a análise (os que atuam na mídia - 55%, os que atuam em assessoria de imprensa ou outras atividades jornalísticas - 40%, e os que atuam como professores - 5%), as mulheres compõem 64% do universo dos profissionais que estão em atividades, 98% da categoria tem formação superior, 59,9% recebem até cinco salários mínimos, aproximadamente 50% trabalham mais de oito horas por dia e 27% trabalham em mais de um emprego.

Detalhe expressivo é que as mulheres jornalistas, mais jovens, ganham menos que os homens; são maioria em todas as faixas até 5 salários mínimos e minoria em todas as faixas superiores a 5 salários mínimos. E são minoritárias nos cargos de chefia nos veículos e órgãos de comunicação.

O presidente da FENAJ, Celso Schröder, avalia que os resultados deste estudo permitirão às entidades sindicais dos jornalistas buscarem maior sintonia com a categoria. "Apontam, por exemplo, a perspectiva de reforçarmos a luta das mulheres por igualdade de oportunidades, condições de trabalho e de salários", diz.

Para ele, a pesquisa consagra uma tese defendida pela FENAJ e Sindicatos de Jornalistas. "O dado de que três quartos da categoria são favoráveis à criação do Conselho Federal dos Jornalistas, e de que menos de 2 em cada 10 que atuam na mídia são contra, liquida com a expectativa daqueles que sempre buscaram criar um dilema sobre este assunto", comemora.

Schröder lembra que o relatório lançado em comemoração ao Dia do Jornalista é apenas uma síntese. "O livro que traz muito mais detalhes sobre este trabalho brilhantemente conduzido pelos professores Jacques Mick e Samuel Lima já está no prelo e estará disponível aos interessados brevemente", anuncia.
Na semana em que se comemora o Dia Nacional do Jornalista, 7 de abril, a Federação Nacional dos Jornalistas saúda a categoria e convoca a sociedade brasileira a cerrar fileira na luta em defesa do jornalismo ético e de qualidade. Não é possível assegurar o direito de todos à informação, a defesa das liberdades de expressão e de imprensa, dos direitos humanos e da democracia sem a devida valorização da profissão de jornalista.

Inegavelmente, os jornalistas deram importante contribuição para a derrocada do período de exceção e terror instalado em 1964 e que, por mais de 20 anos, tentou calar milhões de vozes que clamavam por liberdade e democracia. Muitos jornalistas tombaram na luta para manter erguidas tais bandeiras. Não foi em vão. Hoje, as Comissões Nacional e Regionais da Verdade dos Jornalistas trabalham para que o país se reencontre com sua história e para que o respeito aos direitos humanos e a Justiça prevaleçam sobre o obscurantismo que fez da tortura - crime de lesa humanidade - prática corriqueira que fez milhares de pessoas chorarem em solo nacional.

Não obstante, a cultura da violência enraizou-se no Brasil, que figura nos relatórios internacionais de violências contra jornalistas. Casos como a recente agressão de autoridades do governo municipal de Araraquara (SP), que impediram à força que um jornalista participasse de uma entrevista coletiva, ou o assassinato do jornalista e radialista Rodrigo Neto em Ipatinga (MG), são exemplos cruéis desta realidade. Não nos conformamos e não recuaremos. Continuaremos denunciando e cobrando dos patrões, do governo e do Congresso Nacional medidas efetivas de proteção aos jornalistas, de combate à impunidade e de garantias do direito da sociedade à informação.

A FENAJ, os 31 Sindicatos da categoria e os jornalistas, além de combater toda forma de violência, enfrentam lutas difíceis e importantes como combater um dos mais concentrados monopólios de comunicação do mundo, defender a democratização e um novo marco regulatório das comunicações no Brasil, as liberdades de imprensa e de expressão, o retorno da exigência do diploma de jornalismo como requisito para o exercício da profissão, a qualificação da formação acadêmica e novas diretrizes curriculares de Jornalismo, entre outras.

Todas estas lutas, aliadas à constante busca valorização dos jornalistas com melhores salários e condições de trabalho, têm a ética como amálgama estruturador e a qualidade do Jornalismo como objetivo maior, considerando o direito à informação como propriedade de toda a sociedade, não somente de uns poucos.

Nesta semana em que se comemora o Dia do Jornalista, o lançamento do relatório da pesquisa "Perfil do Jornalista Brasileiro" saúda e premia a categoria e a sociedade com os resultados de um exaustivo trabalho de doutorandos e mestrandos na busca de dados primários fornecidos pelos Sindicatos de Jornalistas de todo Brasil, informações viabilizadas pelos cursos de Jornalismo e dados obtidos junto ao Ministério do Trabalho e Emprego.

Certamente esta pesquisa se constitui em importante ferramenta para nos orientar na perspectiva de construção de novos horizontes para os jornalistas e o Jornalismo brasileiros.

Diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas

Brasília, 4 de abril de 2013. 
 
Publicado em:  http://www.fenaj.org.br

Mídia: Inglaterra e México avançam e Brasil não sai do lugar

Se na Inglaterra os partidos firmam acordo para regulação de jornais, revistas e internet, e no México o novo governo apresenta projeto de alterações no marco regulatório das comunicações com vistas a quebrar o oligopólio, no Brasil as autoridades descartam qualquer iniciativa. 

No México, o novo governo do presidente Enrique Peña Nieto apresentou projeto de alterações no marco regulatório das comunicações com vistas a quebrar o oligopólio de conglomerados, como América Móvil e Televisa, e promover a concorrência no setor.

O projeto prevê a instituição de um novo órgão regulador com poderes para obrigar a venda de ações de empresas com mais de 50% do mercado, além de multas e regulação de preços para beneficiar empresas menores. Será criada uma infraestrutura estatal de telecomunicações que possibilite o acesso à internet para 70% dos domicílios e 85% das empresas do país.

No que se refere à televisão aberta, o projeto prevê a entrada de duas novas redes de transmissão digital, além de um canal estatal nacional com programas educacionais e culturais. As redes existentes seriam obrigadas a oferecer programação gratuita para operadoras de TV a cabo, sem custo. Prevê-se ainda a eliminação de qualquer restrição ao investimento estrangeiro no setor.

O projeto está em tramitação na Câmara dos Deputados.

E na Terra de Santa Cruz?
Enquanto avanços ocorrem em países tão distintos como a Inglaterra e o México – sem mencionar países vizinhos latino-americanos –, no Brasil autoridades governamentais descartam qualquer iniciativa no que se refere à regulação do setor de comunicações. Ignora-se o que acontece no resto do mundo e se interdita até mesmo o debate público, deliberadamente confundido com ameaças à liberdade de expressão.

É como se, na Terra de Santa Cruz, questões decorrentes das inovações tecnológicas e da ausência de regulamentação de normas e princípios inscritos na Constituição, há um quarto de século, simplesmente não existissem.

Resta à sociedade civil organizada prosseguir trabalhando para mobilizar a “vontade das ruas”.

Todo apoio, portanto, à campanha liderada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), “Para expressar a liberdade – uma nova lei para um novo tempo”, e ao esforço para a elaboração de uma proposta que possa se transformar em Projeto de Lei de Iniciativa Popular.

Existe alguma alternativa?


*Publicado originalmente na revista 'Teoria e Debate'. Venício A. de Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e autor de Política de Comunicações: um Balanço dos Governos Lula (2003-2010), Editora Publisher Brasil, 2012, entre outros livros.

Publicado em:  http://www.cartamaior.com.br/


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Lula e Mujica afirmam que monopólios de mídia são negação da democracia

05/04/2013

Os dois participaram de debate com lideranças sindicais promovido pela CSA e pela FES em Montevidéu

Escrito por: Leonardo Severo e Isaías Dalle, de Montevidéu-Uruguai


Gerardo, Lula, Mujica e Victor Báez
foto: Ricardo Stuckert

“No mundo inteiro os líderes políticos reclamam dos meios de comunicação. Eu já ouvi o Obama reclamando, a Merkel, e dirigentes de vários países. Esse é um tema muito delicado e penso que nós não devemos ter monopólios de mídia no Brasil, onde poucas famílias mandam no setor. Isso é contra a democracia que, para mim, não é uma coisa menor. A democracia é a única razão de ser e a única maneira de um governo de esquerda implementar as mudanças necessárias”.

A afirmação acima foi feita pelo presidente Lula na noite desta quinta-feira, na sede do Parlamento do Mercosul, em Montevidéu, no debate entre lideranças políticas e sindicais “Transformações em risco? Perspectivas e tensões do progressismo na América Latina”, realizado pela Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), com o apoio da Fundação Friedrich Ebert (FES).
O presidente uruguaio, José “Pepe” Mujica, comparou o “despotismo” da ditadura militar com o comportamento dos grandes conglomerados de comunicação e defendeu “mecanismos de regulação” que garantam a diversidade de opiniões. Hoje, condenou, “a liberdade de imprensa tem de passar pelo olho da fechadura de um sistema empresarial muito estreito”. Na verdade, esclareceu, em vez de liberdade de imprensa o que há é liberdade de empresa, havendo uma manipulação “do peso conceitual aparente, através de posições políticas e filosóficas conservadoras”.
O tema da democratização dos meios de comunicação foi introduzido no debate pelo secretário geral da CSA, Victor Báez, o primeiro a responder à pergunta do mediador, o historiador Gerardo Caetano, sobre os desafios mais imediatos da América Latina para consolidar e avançar a democracia e o combate à desigualdade. “Nós do movimento sindical notamos que toda vez que a imprensa noticia algum tema de cunho social, a matéria vem cheia de preconceito e críticas ao processo de inclusão”, declarou Victor.
COMBATE À DESIGUALDADE
Ainda que apontando alguns dos inúmeros avanços obtidos do ponto de vista econômico e social na última década, o moderador lembrou que a região continua apresentando a terceira maior desigualdade de renda do planeta e questionou os debatedores sobre quais as medidas a serem adotadas frente à tamanha adversidade.
Lula respondeu que a primeira ação é o povo continuar elegendo governos democrático-populares, “pois não se consegue mudar em 10 anos toda uma herança de desmandos, mas é possível que um governo conservador retroceda do dia para a noite”. “Em vários dos nossos países da América Latina conseguimos reafirmar o Estado como um polo de desenvolvimento. Conseguimos acabar com a ideia que o Estado não servia, não prestava, e que o mercado, que só atua onde tem lucro, é quem tinha as soluções. Mas o que vimos na Europa é que o deus mercado faliu e quem teve de socorrer foi o pobre diabo do Estado”, advertiu.
O presidente uruguaio disse acreditar na capacidade essencialmente renovadora da democracia, que ventila o ambiente e traz elementos rejuvenescidos a cada tempo. “Esse exercício efetivo, real da democracia, fortalece a participação popular e supre os erros que, inevitavelmente, serão cometidos por quem governa”, acrescentou.
Ao comentar o combate à desigualdade, Victor Báez propôs: “Os países têm de criar impostos sobre os mais ricos. Só vai acabar com a desigualdade e pobreza quem diminuir a concentração de renda”. Mais adiante, o secretário geral da CSA também lembrou que os países da região que mais avançaram no combate à desigualdade são aqueles em que a maioria dos trabalhadores é protegida por acordos coletivos celebrados por organizações sindicais.
INTEGRAÇÃO
A necessidade de continuar e fortalecer o processo de integração, principalmente via o Mercosul, foi apontado como uma das formas de enfrentar as assimetrias e reduzir os impactos negativos da crise dos países capitalistas centrais. Os três debatedores concordaram que essa integração, no entanto, não deve se limitar às trocas comerciais, mas que deve priorizar igualmente a valorização do trabalho.
“Acho que daqui há 15 anos seremos o Continente mais invejado do mundo, porque somos detentores de recursos de caráter estratégico, com abundância de água, por exemplo, com imensas potencialidades que agora começam a se tornar realidade”, comentou Mujica, ao fazer um prognóstico do futuro da região.
Victor Báez também afirmou sua crença num futuro promissor, desde que a esquerda e as forças progressistas promovam uma “centrifugação política”, em que a solidariedade volte a ser um valor essencial.
Encerrando a noite, Lula reiterou seu otimismo em relação ao Continente e às decisões coletivas que devem ser implementadas, sintetizando nossa perspectiva de futuro com uma metáfora: “Quem comeu carne pela primeira vez dificilmente vai se acostumar a comer sem carne. Não há nada que faça a América Latina retroceder. Que se cuide quem quiser ser governo, pois o povo aprendeu a conquistar as coisas”.  

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Pesquisa de perfil dos jornalistas brasileiros será divulgada no dia 4 de abril


 
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) lança nesta quinta-feira, 4 de abril, em entrevista coletiva à Imprensa, o relatório final da pesquisa "Perfil profissional do jornalista brasileiro". A atividade será às 14h30, no Hotel Aracoara, em Brasília. O lançamento do relatório da pesquisa marca as atividades do Dia do Jornalista - 7 de abril.

A pesquisa é um projeto do Núcleo de Estudos sobre Transformações no Mundo do Trabalho da Universidade Federal de Santa Catarina (TMT/UFSC) em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e com apoio do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) e da Associação Brasileira de Pesquisadores do Jornalismo (SBPJor). Foi a primeira vez que se realizou uma pesquisa com jornalistas baseada num estudo prévio das dimensões da categoria - aproximadamente 145 mil profissionais - e com amostragem de todas as regiões do país.

Os resultados se baseiam em respostas de 2.731 jornalistas, de todas as unidades da federação e também dos exterior, a um questionário online. Com margem de erro inferior a 2%, foi desenvolvida com a participação voluntária dos profissionais.

Entre as características demográficas da categoria, o relatório aponta significativa expansão na presença feminina no fazer jornalístico. Segundo os dados da pesquisa, hoje há mais mulheres (64%) do que homens atuando no mercado de trabalho. Apesar disso, os homens ocupam predominante os cargos de chefia.

Quase a íntegra dos jornalistas que atuam no Brasil têm formação superior (98%), segundo os dados. Desses 91,7% têm graduação em Jornalismo. Dos graduados, 61,2% são formados no ensino privado e 40,4% deles têm curso de pós-graduação. Foram identificados 317 cursos de Jornalismo no país.

De acordo com o levantamento, 59,9% dos jornalistas recebem até cinco salários mínimos. O índice de desemprego observado na categoria coincide com a taxa no país, que fechou o ano de 2012 com 5,5%. A cada 4 jornalistas, 1 está filiado a sindicato, ou seja 24,2% são associados a entidades sindicais. Dos jornalistas, 55% atuam em mídia (veículos de comunicação, produtoras de conteúdo etc.), 40% atuam fora da mídia, em atividades de assessoria de imprensa ou comunicação ou outras ações que utilizam conhecimento jornalístico, e 5% trabalham predominantemente como professores.

Estes e muitos outros dados serão apresentados aos participantes da Entrevista Coletiva, que contará com a presença de diretores da FENAJ, do FNPJ, da SBPJOR e de um dos coordenadores da pesquisa, o professor Samuel Pantoja Lima (da Universidade de Brasília, cedido ao Departamento de Jornalismo da UFSC). O relatório será publicado no livro "Perfil do jornalista brasileiro - Características demográficas, políticas e do trabalho jornalístico em 2012", em impressão pela Insular (Florianópolis).

O QUE: Entrevista Coletiva de lançamento nacional do relatório da pesquisa "Perfil do jornalista brasileiro"
ONDE: Hotel Aracoara (Salão Fernando Costa) - Setor Hoteleiro Norte, Quadra 5, Bloco C Brasília - DF, Fone (61) 3252-5252
QUANDO: 4 de abril, quinta-feira, às 14h30
 
Publicado em:  http://www.fenaj.org.br
 

terça-feira, 2 de abril de 2013

As raízes do golpe no Brasil



Documentário 1964 – Um golpe contra o Brasil resgata acontecimentos e interesses que conduziram à queda de João Goulart

1º/04/2013

Patrícia Benvenuti,
da Reportagem

Uma série de iniciativas nos últimos anos vem colocando em pauta o período da ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985). Além de ações de repercussão como a Comissão da Verdade, livros e filmes lançados recentemente também resgatam acontecimentos e contribuem para a compreensão do que ocorreu na época.
Um dos mais novos trabalhos nesse sentido é o documentário 1964 – Um golpe contra o Brasil, uma parceria entre o Núcleo Preservação da Memória Política e a TVT – Televisão dos Trabalhadores. Lançada em março deste ano, a produção tem como foco a questão do regime, mas com uma proposta diferente: relatar e analisar os momentos que antecederam o golpe.
“O Núcleo [de Preservação da Memória Política] pensou em um vídeo capaz de informar aos mais jovens o que foi o pré-golpe e o golpe para que se entendam os interesses de classe em jogo no Brasil naquele momento e os interesses do grande império estadunidense nessa história”, explica o diretor do documentário, o jornalista, escritor e artista plástico Alipio Freire.
O vídeo se antecipa aos 50 anos do golpe, que se completarão em 2014. Para Freire, é preciso desde já disponibilizar outras versões para os fatos, diferentes das que contam a história oficial. “É preciso que as pessoas, e sobretudo os jovens, tenham acesso a outro tipo de informação”, diz.
O documentário se inicia com a eleição de Jânio Quadros para a presidência da República e João Goulart como vice, em 1960, e se estende até a posse de Humberto Castello Branco, primeiro presidente militar, em 15 de abril de 1964. A narrativa foi construída a partir de depoimentos de militantes e opositores do regime como Almino Affonso, então deputado federal e ministro do Trabalho do governo Jango; Rafael Martinelli, dirigente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT); a socióloga Maria Victoria Benevides; Aldo Arantes, então presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), e João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
O vídeo não será comercializado, e sim distribuído para instituições, com a recomendação de que todas que recebam o material façam e difundam cinco cópias, a fim de que o projeto alcance o maior público possível. Em breve, também será disponibilizado na internet.
Para o segundo semestre, está previsto o lançamento de uma versão do documentário voltada à exibição nas escolas. Com o mesmo conteúdo, o material será dividido em oito módulos de 24 minutos cada.
1964 é o primeiro longa-metragem dirigido por Alipio Freire. Nascido em Salvador (BA) em 1945, Alipio Freire vive em São Paulo desde os 16 anos. Sua militância na Ala Vermelha (grupo dissidente do PCdoB) durante o regime o levou à prisão entre 1969 e 1974. Em entrevista ao Brasil de Fato, o jornalista destaca a necessidade de desvelar os interesses de classe que compunham a luta política naquele momento.

Brasil de Fato – Como surgiu a ideia para esse documentário?
   
   Alipio Freire - Foto: Douglas Mansur
Alipio Freire – Quem pensou em fazer o vídeo foi o Núcleo de Preservação da Memória Política, do qual sou presidente nesse momento. O Núcleo pensou um vídeo capaz de informar aos mais jovens o que foi o pré-golpe e o golpe, para que se entendam os interesses de classe em jogo no Brasil naquele momento e os interesses do grande império estadunidense nessa história. No próximo ano serão 50 anos do golpe de Estado civil-militar e eles contarão suas versões oficiais, mais ou menos liberaloides ou ditatoriais, mas todas como um grande mouro [neste sentido, trabalho, abnegação da vida] pela democracia. É preciso que as pessoas, e sobretudo os jovens, tenham acesso a outro tipo de informação. Queremos que as pessoas possam entender bem aquele tempo, porque disso depende grande parte do presente e, sobretudo, o futuro do país.

Qual a principal contribuição trazida por esse documentário, na sua opinião?
É explicitar a disputa de classes no Brasil e de hegemonia dos Estados Unidos no mundo e entender a política como luta de classes. Política é luta de classes, é a disputa entre as classes, setores e segmentos pelos seus interesses. Não tem nenhuma mágica na política.
No documentário, nós trabalhamos com as classes sociais no Brasil, tanto o grande capital aliado ao capital internacional quanto um programa gestado por setores da burguesia nacional a partir de um projeto de desenvolvimento nacional. Trabalhamos também com os trabalhadores urbanos, particularmente a classe operária, com o movimento camponês, estudantes, sujeitos que atuaram na política institucional de correntes políticas diferentes, pessoas da esquerda cristã, comunistas, trabalhistas.
Mas não tive o menor interesse em entrevistar o outro lado. Ouvir certos outros lados em algumas circunstâncias é importante, mas eles [figuras do regime] estão falando o tempo inteiro nos jornais. Tem os filmes deles, que não nos ouvem. Essa é a tentativa de uma versão do povo brasileiro de sua história. É um vídeo com corte de classe, sim, como os deles são. Só que as nossas classes são outras.
Há um corte tolo sobre a ditadura, que acredita que o golpe e a ditadura foram militares. Não foram. Os militares tiveram um peso, mas foi civil-militar. Quando você diz que é militar, onde você põe o fim da ditadura? Na hora em que o Tancredo [Neves] não assume porque fica doente, e assume outro civil, José Sarney. A ditadura não acaba aí. Acaba quando você constitui um novo Estado de Direito, e isso foi em 1988.

Como tem sido a recepção do público?
As pessoas têm gostado, o que para nós é extremamente importante. Têm gostado não só dos conteúdos, mas da maneira como está exposto. Estou muito contente e vou ficar mais ainda quando os brasileiros, particularmente os jovens, e outros companheiros do mundo inteiro se apropriarem dessa história. [O vídeo] é um produto para incidir sobre o saber e a reflexão das pessoas, mesmo que não concordem com o que se fala.

Você acredita que isso de alguma forma atrapalha a compreensão daquele momento?
Muito, demais, porque evita que os que criam e alimentam os mitos façam a crítica às nossas derrotas e também às vitórias anteriores. Crítica no sentido de análise, não é xingar e muito menos um ataque pessoal contra o mito que geralmente não tem nada a ver com isso. São os seguidores que criam essa situação, e isso não é bom. Devemos atingir as pessoas olho no olho e pela porta da frente da cabeça, não mexendo com emoções desconhecidas. Respeitar os nossos companheiros que tombaram e lutaram lá atrás é uma coisa. A mitologização é outra, porque não trabalha com seres humanos, trabalha com os ideais, e isso ninguém foi e ninguém será.

No teaser de apresentação do documentário você afirmou que é preciso superar o sentimento de “solidariedade ao sofrimento” que está presente em relação à ditadura. O que você quis dizer com isso?
No conjunto da sociedade hoje vai se criando uma consciência, a partir dos governos civis, que desabrocha com mais visibilidade a partir do segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma [Rousseff]. Tiveram grande visibilidade as iniciativas do [ex-] ministro Paulo Vanucchi, dos Direitos Humanos, criando os Memoriais das Pessoas Imprescindíveis, jogando para a rua um assunto que estava entre quatro paredes; e do presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, que, ao criar as caravanas da Anistia, levou para o Brasil inteiro essa discussão. Fora os grupos de direitos humanos que, com isso, têm seu trabalho potencializado. Depois veio a Comissão da Verdade, que eu acho um avanço imenso para esse país.
Acontece que, de um modo geral, o primeiro movimento das pessoas frente a isso é um sentimento extremamente generoso de solidariedade com os que foram perseguidos, torturados, assassinados e desaparecidos, o que é muito bom. No entanto, nós não podemos parar por aí. É preciso que toda essa sociedade saiba quais os motivos que moveram essas pessoas a resistir e o que aconteceu no país naquele momento. Consideramos fundamental dar a verdadeira dimensão política dos programas e projetos que estavam em curso durante o governo João Goulart e que foram massacrados pelas elites brasileiras.

Falando um pouco sobre o período do pré-golpe, o que representava a figura do Jango naquele momento?
A rigor, o Jango representava um programa que se inicia pensado e aplicado no governo de Getúlio Vargas dos anos 1950, que o leva ao suicídio. Países atrasados com o desenvolvimento industrial buscavam esse desenvolvimento bancado pelo Estado e articulado com os capitais nacionais e fundado – daí seu grande aspecto popular – em um grande programa de distribuição de renda. A reforma agrária teria um papel fortíssimo nisso. Primeiro porque ela geraria trabalho próximo das ferrovias e das rodovias, e aí o camponês podia desaguar sua produção. Vinha junto com isso a luz elétrica no campo. A indústria de capital nacional produziria geladeiras, liquidificadores e máquinas de costura que eles [camponeses] poderiam consumir. Isso era uma revolução na concepção de Brasil naquele tempo. Ele [Jango] representava esse projeto.

Havia mesmo o apoio das organizações populares para as reformas de base?
Sim, mas o grande problema eram duas questões. Uma é um entulho autoritário que está presente até hoje, que é a Carta Sindical e o Imposto Sindical, ou seja, a subordinação da organização dos trabalhadores ao Estado. O movimento sindical durante a ditadura se bateu contra isso violentamente e depois as centrais sindicais não derrubaram isso. Se o sindicato começa a ter atividades de um tipo que não estão na Carta Sindical, o Estado pode intervir.
Junto com essa questão está o tipo de política dominante, que é a organização dos trabalhadores e do povo em torno das sedes dos sindicatos e das lideranças. E o que acontece em 1964. Tudo era organizado em torno de líderes. Veio o golpe e bastou ocupar as sedes dos sindicatos, botar as lideranças para correr ou matar, que não sobrou organização independente da classe trabalhadora. É diferente, por exemplo, se os trabalhadores estivessem organizados dentro dos seus locais de trabalho. E isso serve tanto para os [trabalhadores] urbanos como para os rurais.

De que forma, para você, os fatos narrados no documentário se relacionam com o presente?
Toda essa memória tem que ser usada para a transformação do presente e do futuro. Senão ela vira nostalgia ou narcisismo. Essa memória tem que nos fazer lembrar que até hoje o mesmo terror de Estado da época da escravidão, da ditadura Vargas e da civil-militar instalada em 1964 permanece. Está nas chacinas das periferias de São Paulo e nas chacinas contra o MST no campo. Isso é o terror de Estado, as torturas continuam a existir. É que o foco agora saiu da repressão maior contra a oposição, e se fixou nos trabalhadores mais pobres. Nos bairros de periferia, não vigora sequer o mais singelo direito garantido pela Constituição, que é o direito de ir e vir. Começa a escurecer e todos se trancam em casa, com medo igualmente da polícia e do crime organizado, e cada vez temos mais dificuldade de saber quais os limites entre um e outro. O terror de Estado está aí, vivo.

1964 – Um golpe contra o Brasil”
Direção: Alipio Freire
Duração: 147 minutos

Foto do topo: Acervo Iconographia