quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Do agronegócio ao mercado imobiliário: conheça os outros negócios dos donos da mídia


Pesquisa inédita revela gravidade da concentração midiática no Brasil; país tem o pior cenário entre 11 estudados

Por Pedro Rafael Vilela - Brasil de Fato


Os proprietários dos principais grupos de mídia do país, além de concentrarem em poucas mãos os veículos de comunicação de maior audiência, também têm negócios em diversos outros setores da economia, como agronegócio, mercado imobiliário, mercado financeiro, entre outros. É o que revela uma pesquisa inédita, conduzida pela ONG Repórteres Sem Fronteiras e pelo Coletivo Intervozes, sobre a gravidade da concentração midiática no Brasil.
Trata-se de uma pesquisa já realizada em outros 11 países, baseada em uma mesma metodologia desenvolvida pelo Monitor sobre Propriedade da Mídia (MOM, na sigla em inglês), projeto vinculado à União Europeia. O MOM-Brasil tem o objetivo de mapear os veículos de maior audiência — que têm maior potencial de influenciar a opinião pública — e os grupos que os controlam. Com base nisso, produz indicadores sobre o pluralismo de ideias e a independência da mídia, incluindo medições sobre concentração de audiência e de propriedade.
No caso do Brasil, os resultados mostram, por exemplo, que quatro principais grupos de mídia concentram uma audiência nacional exorbitante, que ultrapassa 70% no caso da televisão aberta, que ainda é o meio de comunicação mais consumido no país. "O Brasil tem o pior cenário de concentração da mídia entre todos os países estudados até agora. É um dado assustador", afirma André Pasti, integrante do Intervozes e coordenador da pesquisa no Brasil.
O grau de concentração da mídia no brasileira chega a ser pior do que outros países em desenvolvimento como Camboja, Mongólia, Gana, Filipinas, Peru, Colômbia, Tunísia e Ucrânia.
A pesquisa também evidenciou que, além do controle sobre a audiência, os maiores grupos de mídia também controlam diferentes veículos, como rádio, TV, jornal e sites de notícias. É a chamada propriedade cruzada.
Grupos como Record e RBS (que atua na região Sul do país) aparecem nesse indicador, mas ninguém supera a Rede Globo, que controla as principais cadeias abertas de TV e rádio, e o maior número de canais na TV por assinatura em nível nacional. Também possui o controle de poderosos veículos impresso, como os jornais O GloboExtra e Valor Econômico, bem como as revistas ÉpocaGalileu e Marie Claire, por exemplo.
Outros negócios
De acordo com André Pasti, coordenador da pesquisa, os donos da mídia no Brasil também possuem outras empresas fora do setor de mídia. Assim, 21 dos 26 maiores grupos de mídia do país atuam em áreas como mercado financeiro, imobiliário e agronegócio.
Os membros da Família Marinho, por exemplo, que controlam o grupo Globo, são donos de fazenda e empresas de produção agrícola. Isso explica a razão de a TV Globo gostar de patrocinar campanhas como "Agro é Pop". Além das fazendas, os donos da Globo têm negócios no mercado imobiliário, no setor de finanças e de vendas. Isso faz com que a família Marinho seja dona da maior fortuna do país, segundo a revista Forbes.
João Carlos Di Genio, considerado o "rei" do setor imobiliário em São Paulo, também é dono da rádio MIX FM, que por sua vez, pertence ao Grupo Objetivo, da área de educação, controlado pelo mesmo empresário.
O Grupo Folha, que edita o principal jornal impresso do país, possui negócios em grupos de educação à distância e é proprietário do serviço de pagamentos online Pagseguro.
O Grupo Record é dono de 49% do banco Renner. E Silvio Santos, do SBT, é dono do Baú da Felicidade, um serviço crediário, e da TeleSena.
"As pessoas precisam saber dos interesses que estão por trás do que ela está lendo no jornal ou vendo na TV. Se a pessoa não sabe que está vendo uma TV cujo proprietário é ruralista, ela vai ter dificuldade de filtrar a informação, bem como de perceber uma posição editorial contra a reforma agrária, por exemplo", explica André Pasti.
Publicado em: http://www.sjsp.org.br/

domingo, 25 de fevereiro de 2018

É preciso furar o bloqueio da mídia e lutar pela sua regulação e democratização

Ao silenciar sobre o contraditório, os meios sonegam informações que poderiam
dar uma visão mais ampla dos acontecimentos. Foto: Pixabay/cc


Por Laurindo Lalo Leal Filho*









Os meios de comunicação exercem um tipo de censura peculiar. Sonegam do público informações que poderiam dar-lhe visão mais ampla dos fatos e a oportunidade de tirar suas próprias conclusões.
“Defender o direito de Lula ser candidato é defender a democratização da mídia”, afirmou Jerry Oliveira, coordenador da Rádio Democracia, uma rede então com mais de 250 rádios comunitárias que transmitiu o julgamento do ex-presidente em Porto Alegre, em 24 de janeiro. O objetivo, segundo ele, era o de “furar a bolha da imprensa comercial e defender o Estado de Direito”.
O próprio Lula vem se manifestando constantemente sobre a necessidade de uma regulação da mídia. Ambos retomam um tema que há vários anos é objeto de debates acadêmicos, sindicais e de movimentos sociais voltados para área de comunicação. O marco inicial desse processo pode ser encontrado na Constituição Federal de 1988, que dedicou um capítulo inteiro à Comunicação Social. Só que a quase totalidade dos seus artigos não foi regulada por leis específicas e, por isso, não passaram a vigorar.
Um dos artigos que não viraram lei diz claramente que “os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”. Como sabemos, no Brasil a mídia é oligopolizada. Poucas famílias detêm o controle da maioria dos grandes meios de comunicação os quais, de forma conjunta, transmitem praticamente as mesmas mensagens para toda a população, excluindo divergências que possam afetar seus interesses políticos e econômicos.
Ao silenciar sobre o contraditório, os meios de comunicação exercem um tipo de censura peculiar. Sonegam do público informações importantes que poderiam dar ao leitor, ouvinte ou telespectador uma visão mais ampla dos acontecimentos, oferecendo a ele a oportunidade de tirar suas próprias conclusões. Quando se trata de questões ligadas a uma possível regulação da mídia a situação se agrava. Há um alinhamento editorial contrário compacto.
Pesquisa realizada por Camilo Morano Vannuchi, publicada na revista Alterjor da Escola de Comunicação e Artes da USP, deixa isso claro. Ele observou como os jornais Folha de S.Paulo e O Globo trataram do assunto num período de dez anos, de 2007 a 2017. Foram 125 textos publicados pela Folha e 216 pelo Globo. A maioria concentrada em seis anos, de dezembro de 2010 a novembro de 2015. O autor constata que nesse período dois fatos ampliaram a discussão sobre a regulação da mídia: a realização da primeira Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em dezembro de 2009, na qual foi apresentada a proposta do Conselho Nacional de Comunicação Social, gerando discussões acerca do que foi chamado de “controle social da mídia”, e, no mesmo mês, a emissão do decreto que implementou o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), que tinha entre as suas orientações a criação de uma comissão de monitoramento do conteúdo editorial com o objetivo de organizar um ranking de veículos identificados com a promoção dos direitos humanos. Propostas atacadas com furor pela mídia hegemônica.
Os números mostram como o tema entrou e saiu da pauta desses jornais. Em 2007 a Folha publicou quatro matérias a respeito. O Globo, duas. Em 2011, O Globo publicou 56 e a Folha, 14. E agora, em 2017 o assunto praticamente morreu: Folha, uma; O Globo, zero.
Significativa é a diferença dos números de matérias publicadas pelos dois veículos. Em 2010 e 2011 a frequência desse tipo de informação no Globo foi quase quatro vezes superior à da Folha. O autor da pesquisa acredita que o jornal carioca “chamou para si a responsabilidade por demover todo e qualquer apoio popular à iniciativa e por dispersar imediatamente os riscos de regulação, expediente que, em todas as teorias e propostas de lei, acarretaria em sanções ou perdas ao Grupo Globo empresa que é, simultaneamente, detentora de oligopólio de mídia, praticante de propriedade cruzada, beneficiada por 75% das receitas dos anúncios e concessionária de uma outorga que vem sendo renovada automaticamente, moto contínuo, e que tem deputados e senadores entre os proprietários de retransmissoras regionais”.
A pesquisa foi além e classificou as formas como os dois jornais tratavam do tema a partir de quatro palavras-chave: “marco regulatório” e “regulação da mídia”, consideradas neutras; “controle da mídia”, considerado negativo (ou desfavorável) e “democratização da mídia”, visto como positivo (ou favorável). O resultado era o esperado: houve quatro menções a "controle da mídia" para cada registro de "democratização da mídia" na Folha. A proporção no Globo foi de cinco para um. E mais, das quatro palavras selecionadas “controle da mídia” é a única que aparece nos títulos de primeira página, todas no Globo.
Além disso, a expressão “democratização da mídia” é usada de forma irônica como neste caso da Folha,que deu matéria com o titulo “Presidente do PT afirma que é preciso ‘democratizar’ a mídia”. As aspas são usadas para desmerecer o conteúdo da palavra. Ou uso da expressão “marco regulatório” com o intuito de desconstruí-la, como neste trecho do articulista da Folha Luís Felipe Pondé: “O ‘marco regulatório da mídia’, item do quarto mandato bolivariano, é justamente o nome fantasia para destruição da liberdade de imprensa no pais”.
Os dados da pesquisa são irrefutáveis e só vêm confirmar o que se depreende da leitura desses jornais. Trata-se da editorialização de um tema sensível a essas empresas. Daí a confusão deliberada que fazem dos termos “regulação da mídia” com “controle da mídia”. Regular não é controlar. É, por exemplo, estabelecer regras para a ocupação democrática dos espaços públicos, no caso, as ondas eletromagnéticas por onde transitam os sinais de rádio e TV.
Os números apresentados e as análises realizadas pelo autor da pesquisa darão, sem dúvida, muito mais consistência aos argumentos daqueles que lutam pela democratização da comunicação no Brasil.
*Laurindo Leal Filho é sociólogo e jornalista. Professor do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP
Publicado em:  www.sjsp.org.br

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

“The Post”


Em um mundo virtual infestado de notícias falsas, as "fake news", é cada vez mais importante refletir sobre o verdadeiro jornalismo, conteúdo de qualidade, informativo — o jornalismo como prestação de serviço aos cidadãos.

É aí que “The Post” pode ensinar algo a todos nós.

Baseado em fatos reais, o filme "The Post" traz Meryl Strep e Tom Hanks contando a história do vazamento dos papéis do Pentágono sobre a Guerra do Vietnã no jornal The Washington Post. Dirigido por Steven Spielberg, o filme é uma excelente aula de jornalismo em tempos de notícias "mentirosas".

O filme conta a história real de como The Washington Post arriscou tudo em 1971 ao publicar documentos ultrassecretos que escancararam à opinião pública americana como o governo lhes mentia escandalosamente há décadas sobre o conflito no Vietnã. O que só foi possível graças ao profissionalismo do redator Ben Bradlee (Tom Hanks) e pela coragem da publisher Katharine Graham (Meryl Streep).

Confira o trailer oficial:



Um grande trabalho de reportagem, uma luta contra a própria diretoria do jornal, o qual poderia ter falido, além da possibilidade de prisão dos jornalistas que faziam a sua obrigação em busca da verdade dos fatos. Uma história de coragem que mostrou as mentiras do governo Nixon e da Guerra do Vietnã ao mundo.

Quem tem coragem para isso atualmente?

Mais do que nunca precisamos de noticiários de alta qualidade.

Que imprensa é essa? A quem ela serve? É só ver os anúncios publicitários, não é? Ela é paga pelo sistema financeiro. Nos locais mais escondidos do "nosso" Brasil ela tem como donos, geralmente, grupos políticos/econômicos. E o que temos a ver com isso?

Nas redes, no mínimo temos a obrigação de não compartilhar notícias falsas, além de lutar pela televisão pública, já que 105 milhões de brasileiros não têm internet, mas possuem Tv em casa, segundo dados de 2016.


Porque nós cidadãos nunca nos lembramos que a televisão, é uma concessão pública, que deve nos servir, como cidadãos, com uma programação, segundo artigo 221, inciso I, que dê preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas, e se transformou em uma fábrica de criação de mitos, sejam artistas ou políticos, mostrando em seus telejornais somente o que lhes interessa.

Sim, precisamos de mais Ben Bradlees e de mais Kat Grahams.

Quanto a nós, precisamos parar de acreditar em notícias só por estarem nos noticiários de Tv e parar para pensar a quem interessa aquela versão, enquanto não lutamos para ter de volta o nossos canais PÚBLICOS, sem interferência de governo de plantão, gerido pela própria sociedade através de conselhos como manda nossa constituição.

É uma obrigação não só de nós jornalistas, mas de toda a sociedade que quer informação de qualidade e de interesse público. Só assim podemos pensar em um Brasil melhor para nossos netos.


Taís Ferreira é jornalista, fotógrafa, blogueira.

SJPDF e Comissão dos Empregados da EBC repudiam casos de censura, retaliações e assédios contra jornalistas dentro da empresa.

Escrito por: Redação 

Fonte: Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF
Tempos sombrios pairam sobre a EBC, em especial sobre a Agência Brasil. Durante 2017, os casos de censura se multiplicaram e os assédios contra jornalistas viraram coisa corriqueira. Repórteres setoristas experientes foram transferidos sem nenhum diálogo, instaurando a perseguição contra os trabalhadores da empresa. O programa de correspondentes nacionais também foi interrompido de forma autoritária, após episódios explícitos de assédio moral.
 
2018 inicia com sinais ainda piores. O repórter Ivan Richard, há 10 anos trabalhando na Agência Brasil e hoje representante dos trabalhadores na Comissão dos Empregados, surpreendentemente, foi expulso da Agência Brasil e informado que não faria mais parte da equipe após seu retorno de férias.
 
O repórter sequer foi avisado oficialmente da mudança, sendo comunicado informalmente por um colega de redação sobre sua transferência autoritária para a redação da TV Brasil. Até o momento, nenhuma informação foi dada sobre o que motivou a decisão do gerente executivo da Agência Brasil, Alberto Coura. Questionado por e-mail, o diretor de jornalismo da EBC, Lourival Macedo, não se manifestou, atitude que, em nossa compreensão, demonstra conivência com a perseguição.
 
O cenário sistêmico de assédio a profissionais concursados na atual gestão da Agência Brasil acentua-se ainda mais com a retaliação que tem sido praticada contra as trabalhadoras, umas delas gestante, que tentou sair da Agência Brasil também por sofrer assédio moral e que teve seu pedido negado. Outras trabalhadoras, com reconhecida competência, inclusive premiadas, foram destituídas das funções que exerciam pela gestão Coura.
 
Agora, a medida autoritária contra o repórter Ivan Richard abre um precedente ainda mais perigoso não apenas contra os demais profissionais da Agência Brasil, mas para todos os empregados da EBC que, do dia para noite, sem diálogo ou qualquer informação prévia, poderão ser trocados de setor e de função por capricho dos seus superiores ou mesmo mantidos no veículo, a despeito de suas solicitações de mudança, para ficarem à mercê da perseguição dos gestores.
 
A atitude do gerente executivo da Agência Brasil, Alberto Coura, alvo de processo na Justiça do Trabalho por assédio moral, mostra o total descompromisso dele e da direção da EBC com a moralidade e com a comunicação pública e o desrespeito com os profissionais.
 
A desastrosa gestão de Coura na Agência é reflexo do ataque à empresa pública patrocinada pela atual direção e pelo governo federal. Desde junho, quando assumiu o cargo, o gerente não promoveu sequer uma reunião com seus subordinados.
 
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF não vai compactuar com esse tipo de ação que ameaça e gera insegurança aos trabalhadores, os quais, a cada dia, estão expostos a novas retaliações e a tornarem-se as próximas vítimas de mudanças açodadas.
 
Fica mais evidente que não interessa à direção da EBC garantir a finalidade para qual a empresa foi criada. O interesse passou a ser apenas afagar o governo e garantir os cabides de emprego na estatal, cometendo seguidos atos de ilegalidade e afronta aos trabalhadores e à sociedade brasileira.
 
 Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF
 
Comissão dos Empregados da EBC