sexta-feira, 31 de agosto de 2012

I Encontro de Jornalistas de Imagem


 
 
Durante os dias 1º e 2 de setembro, Fortaleza se transforma na capital dos debates sobre o futuro do Jornalismo de imagem, com a realização do I Encontro Estadual dos Jornalistas de Imagem e Profissionais da Comunicação do Ceará (EEJIC/CE). Evento pioneiro no Estado, o EEJIC/CE pretende reunir, na sede da Associação Cearense de Imprensa, cerca de 200 participantes, entre diagramadores, ilustradores, repórteres cinematográficos e repórteres fotográficos, além de observadores e estudantes de Jornalismo e áreas afins.

Preparado durante 12 meses pelo Departamento de Jornalistas de Imagem do Sindjorce, o EEJIC tem como tema central "A identidade do jornalista de imagem e o futuro da profissão", numa conferência de abertura que será ministrada, às 8h30, pelo presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e da Federação dos Periodistas da América Latina e do Caribe (Fepalc), Celso Schröder. Ao seu lado, ainda, o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e secretário-geral da FENAJ, José Augusto Camargo. Ambos são jornalistas de imagem.

O EEJIC tem o patrocínio do Banco do Nordeste (BNB), Coelce e Governo do Estado. Conta com apoio do Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest/CE).

Conheça os palestrantes e debatedores do EEJIC/CE:

Celso Augusto Schröder é lustrador do Correio do Povo (RS), presidente da Federação dos Periodistas da América Latina e do Caribe (FEPALC) e da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ);

José Augusto Camargo , o Guto, é diagramador do Diário do Comércio (SP), presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) e secretário-geral da FENAJ;

André Liohn Garcia de Oliveira é repórter-fotográfico e cinematográfico internacional, especialista em coberturas de guerra e único sulamericano vencedor do Prêmio Robert Capa;

Arthur Lobato é repórter-cinematográfico da Rede TV! MG, psicólogo, foi 2º tesoureiro da FENAJ e vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais;

André Freire é repórter fotográfico, trabalhou em jornais, revistas e assessorias como repórter e editor de fotografia, é diretor do Departamento de Mobilização dos Jornalistas de Produção e Imagem da FENAJ;

Fátima Duarte é psicóloga, especialista em saúde, trabalho e meio ambiente para o desenvolvimento sustentável (UFC) e Diretora do Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST-CE);

Adalberto Diniz é repórter-fotográfico, secretário da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual dos Jornalistas (Apijor) e diretor da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

Silas de Paula é coordenador do grupo de pesquisa em Cultura Visual, professor doutor do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará (UFC);

Eduardo Queiroz é editor de fotografia do jornal Diário do Nordeste (CE), graduado em Sistemas de Informação pela Faculdade Integrada do Ceará (FIC) e especialista em Teorias da Comunicação e Imagem pela UFC;

Celso de Oliveira Silva é fotojornalista freelancer, já tendo passado pelo jornal O Povo (CE), um dos criadores da agência e editora Tempo D’Imagem, desenvolve ensaios documentais e livros de fotografia;

José Alberto Lovetro , o Jal, é um dos mais conhecidos cartunistas na imprensa nacional, criador do Prêmio HQ Mix, o Oscar do humor gráfico brasileiro, preside a Associação de Cartunistas do Brasil (ACB);

Liduína Figueiredo é designer gráfico, professora da disciplina de Produção Gráfica na Universidade de Fortaleza (Unifor), já tendo trabalhado no jornal Diário do Nordeste (CE), fundou a Pah Comunicação e Eventos;

Glaymerson Moises é jornalista graduado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), já tendo passado pelo Diário do Nordeste (CE), é designer gráfico e editorial freelancer, e criador da logomarca do EEJIC/CE;

Carlus Campos , o Carlão, é ilustrador e caricaturista do jornal O Povo (CE). Peças publicitárias, livros infantis e exposições de arte são outros projetos do artista, que publicou trabalhos nas revistas Bravo e Caros Amigos.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Por que defendemos o Wikileaks e Assange

Por Michael Moore e Oliver Stone  em 28/08/2012 na edição 709

Reproduzido do Outras Palavras, 22/8/2012, tradução de Daniela Frabasile; intertítulos do OI
  
Passamos nossas carreiras de cineastas sustentando que a mídia norte-americana é frequentemente incapaz de informar os cidadãos sobre as piores ações de nosso governo. Portanto, ficamos profundamente gratos pelas realizações do WikiLeaks, e aplaudimos a decisão do Equador de garantir asilo diplomático a seu fundador, Julian Assange – que agora vive na embaixada equatoriana em Londres.
O Equador agiu de acordo com importantes princípios dos direitos humanos internacionais. E nada poderia demonstrar quão apropriada foi sua ação quanto a ameaça do governo britânico, de violar um princípio sagrado das relações diplomáticas e invadir a embaixada para prenderAssange.
Desde sua fundação, o WikiLeaks revelou documentos como o filmeAssassinato Colateral, que mostra a matança aparentemente indiscriminada de civis de Bagdá por um helicóptero Apache, dos Estados Unidos; além de detalhes minuciosos sobre a face verdadeira das guerras contra o Iraque e Afeganistão; a conspiração entre os Estados Unidos e a ditadura do Yemen, para esconder nossa responsabilidade sobre os bombardeios no país; a pressão do governo Obama para que outras nações não processem, por tortura, oficiais da era-Bush; e muito mais.
Como era de prever, foi feroz a resposta daqueles que preferem que os norte-americanos não saibam dessas coisas. Líderes dos dois partidos chamaram Assange de “terrorista tecnológico”. E a senadora Dianne Feinstein, democrata da Califórnia que lidera o Comite do Senado sobre Inteligência, exigiu que ele fosse processado pela Lei de Espionagem. A maioria dos norte-americanos, britânicos e suecos não sabe que a Suécia não acusou formalmente Assange por nenhum crime. Ao invés disso, emitiu um mandado de prisão para interrogá-lo sobre as acusações de agressão sexual em 2010.

Acusação sigilosa
Todas essas acusações devem ser cuidadosamente investigadas antes que Assange vá para um país que o tire do alcance do sistema judiciário sueco. Mas são os governos britânico e sueco que atrapalham a investigação, não Assange.
Autoridades suecas sempre viajaram para outros países para fazer interrogatórios quando necessário, e o fundador do WikiLeaks deixou clara sua disposição de ser interrogado em Londres. Além disso, o governo equatoriano fez uma oferta direta à Suécia, permitindo que Assange seja interrogado dentro de sua embaixada em Londres. Estocolmo recusou as duas propostas.
Assange também comprometeu-se a viajar para a Suécia imediatamente, caso o governo sueco garanta que não irá extraditá-lo para os Estados Unidos. Autoridades suecas não mostraram interesse em explorar essa proposta, e o ministro de Relações Exteriores, Carl Bildt, declarou inequivocamente a um consultor jurídico de Assange e do WikiLeaks que a Suécia não vai oferecer essa garantia. O governo britânico também teria, de acordo com tratados internacionais, o direito de prevenir a reextradição de Assange da Suécia para os Estados Unidos, mas recusou-se igualmente a garantir que usaria esse poder. As tentativas do Equador para facilitar esse acordo entre os dois governos foram rejeitadas.

Em conjunto, as ações dos governos britânico e sueco sugerem que sua agenda real é levar Assange à Suécia. Por conta de tratados e outras considerações, ele provavelmente poderia ser mais facilmente extraditado de lá para os Estados Unidos. Assange tem todas as razões para temer esses desdobramentos. O Departamento de Justiça recentemente confirmou que continua a investigar o WikiLeaks, e os documentos do governo australiano de fevereiro passado, recém-divulgados afirmam que “a investigação dos Estados Unidos sobre a possível conduta criminal de Assange está em curso há mais de um ano”. O próprio WikiLeaks publicou emails da Stratfor, uma corporação privada de inteligência, segundo os quais um júri já ouviu uma acusação sigilosa contra Assange. E a história indica que a Suécia iria ceder a qualquer pressão dos Estados Unidos para entregar Assange. Em 2001, o governo sueco entregou à CIA dois egípcios que pediam asilo. A agência norte-americana entregou-os ao regime de Mubarak, que os torturou.

Pela liberdade
Se Assange for extraditado para os Estados Unidos, as consequência repercutirão por anos, em todo o mundo. Assange não é cidadão estadunidense, e nenhuma de suas ações aconteceu em solo norte-americano. Se Washington puder processar um jornalista nessas circunstâncias, os governos da Rússia ou da China poderão, pela mesma lógica, exigir que repórteres estrangeiros em qualquer lugar do mundo sejam extraditados por violar suas leis. Criar esse precedente deveria preocupar profundamente a todos, admiradores do WikiLeaks ou não.
Conclamamos os povos britânico e sueco a exigir que seus governos respondam algumas questões básicas. Por que as autoridades suecas recusam-se a interrogar Assange em Londres? E por que nenhum dos dois governos pode prometer que Assange não será extraditado para os Estados Unidos? Os cidadãos britânicos e suecos têm uma rara oportunidade de tomar uma posição pela liberdade de expressão, em nome de todo o mundo.


[Michael Moore e Oliver Stone são cineastas nos Estados Unidos]


Correa defende asilo político a Assange e rebate críticos

Tradução: Larriza Thurler (edição de Leticia Nunes)

O presidente do Equador, Rafael Correa, tem uma postura no mínimo controversa em relação à liberdade de imprensa. Conhecido por processar veículos e atacar verbalmente a mídia de seu país, na semana passada ele teve que rebater críticos que o acusavam de hipocrisia por ter concedido asilo ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange. Em entrevista a Jonathan Watts, do jornal britânico The Guardian [24/8/12], Correa defendeu sua atitude em relação à liberdade de expressão no Equador alegando ser necessária para controlar proprietários de jornais e emissoras de rádio e TV que abusam do poder que têm.
O líder equatoriano chegou a comparar suas ações com as investigações realizadas nos tabloides da News International no Reino Unido. “Não vamos tolerar abusos e crimes cometidos diariamente em nome da liberdade de expressão. Isso é liberdade de extorsão e chantagem”, disparou. “A imprensa equatoriana (e latino-americana) não é como a europeia ou a americana, que tem ética profissional. Ela pensa que está acima da lei e faz extorsão e chantagem. Lamento por boas pessoas, em um nível internacional, que defendem este tipo de imprensa”.

Revista censurada
Dias antes de o governo ter concedido asilo a Assange e se promovido como defensor da liberdade de expressão, a polícia equatoriana invadiu os escritórios em Quito de uma das maiores revistas do país, a Vanguardia,e confiscou computadores. Também ordenou que a publicação fosse suspensa por uma semana, como “punição por violação das leis trabalhistas”. Foi a segunda vez em menos de dois anos que a Vanguardia teve seus escritórios invadidos. Seus jornalistas afirmam receber ameaças de morte depois de terem sido criticados pelo presidente durante seu programa semanal na TV.
O diretor editorial da revista, Juan Carlos Calderón, foi processado por Correa e condenado a pagar R$ 20 milhões por “danos morais”, após ter sugerido que o presidente sabia que seu irmão estava ganhando milhões em contratos com o governo. Depois de protestos públicos, o presidente retirou uma ação e emitiu um indulto sobre outra. Ainda assim, justificou o direito de ter aberto uma ação contra Calderón: “Há uma lei escrita proibindo processar um jornalista? Desde quando? Então ninguém deveria processar Murdoch e seus parceiros no crime no Reino Unido?”.
Calderón já havia afirmado ao Guardian que havia se tornado alvo de Correa por ter criticado o governo e acusado o presidente de usar dois pesos e duas medidas. “O governo disse que concedeu asilo a Assange porque ele é perseguido por defender a liberdade de expressão. Mas o mesmo acontece conosco”, disse. “Este não é um país com uma imprensa livre, como descrito por Correa”.

Faça o que digo, não o que faço
O sentimento de Calderón é compartilhado por outros jornalistas. O observatório da imprensa equatoriano Fundamedios descreveu a situação no país como uma “guerra de baixa intensidade com jornalistas” que fica mais forte a cada dia. No ano passado, foram registrados 151 casos de agressão física contra repórteres; em 2009, foram 101. O aumento é, em grande parte, resultado de injúrias constantes a jornalistas feitas por Correa em seu programa semanal de TV, que é exibido em quase todos os canais do país.

A Fundamedios também observou que 17 emissoras de rádio foram fechadas este ano acusadas de desrespeitar regulamentações. Além disso, o governo emitiu, recentemente, novas regras que obrigam servidores de internet a fornecer os endereços de IP de seus usuários para autoridades, mesmo sem ordem de um tribunal. “Há uma grande distância entre o que Correa diz sobre a liberdade de imprensa e a realidade”, afirma César Ricaurte, presidente da organização. “Se Assange fosse equatoriano, eu ouso dizer que já estaria preso”. Grupos internacionais, como o Comitê para a Proteção dos Jornalistas e a Repórteres Sem Fronteiras, também acusaram Correa de tentar depreciar e intimidar críticos.

Estratégia?
Críticos de mídia dizem que a atitude do presidente com relação à mídia – em especial no seu programa semanal – é tão agressiva quanto a adotada pelo venezuelano Hugo Chávez, mas menos destrutiva. “Chávez foi muito mais longe. [No Equador] Há confronto, mas não houve emissoras de TV fechadas, como na Venezuela”, observa Maurice Cerbino, professor da Universidade Andina Simon Bolívar.

Já partidários de Correa alegam que o governo está tentando reequilibrar a mídia, que anteriormente, em sua grande maioria, pertencia a algumas poucas famílias. Quando Correa assumiu o governo, em 2007, havia apenas uma organização de mídia pública, a Radio Nacional. Desde então, foi ampliado o número de emissoras de TV e jornais privados e estatais. Hoje, dizem eles, há mais oportunidade para organizações críticas às autoridades e um maior acesso a funcionários do governo. Os que trabalham na imprensa pública afirmam que o ambiente midiático está mais saudável, pois anunciantes têm menos influência.

Segundo Correa, o asilo político a Assange é uma tentativa de apoio a um indivíduo ameaçado por um estado poderoso. “Não concordo com tudo o que Assange fez. Mas acredito que ele deva ter um processo legal. Ele nunca roubou informação – foi entregue a ele pelo soldado Bradley Manning. Ele apenas a distribuiu. Então por que os jornais que a publicaram também não são penalizados? Assange é apenas um cidadão”, disparou.

Alguns aceitaram os argumentos idealistas do presidente. Outros disseram que ele está tentando tirar o foco do tratamento que dá à mídia equatoriana. Outra teoria é a de que Correa não passa de um oportunista político que sabe dos benefícios de se envolver em uma briga do alto escalão – neste caso, com o Reino Unido. Dentro do próprio governo houve divergências sobre o caso; alguns acham que a ajuda a Assange pode prejudicar o comércio com a União Europeia. Já nas ruas, parece que Correa tem apoio do público.

TELESUR transmitirá entrevista exclusiva com Assange

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

ENTREVISTA COM MARTA HARNECKER


para a Folha de São Paulo.

Ela se define como "educadora popular" marxista-leninista. Chilena, foi discípula do filósofo Louis Althusser, líder estudantil católica e integrante do governo socialista de Salvador Allende. Casou-se com um dos comandantes da revolução cubana (Manuel Piñeiro, o Barba Roja) e nos anos 2000 virou conselheira de Hugo Chávez.
A reportagem e a entrevista é de Eleonora de Lucena e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 28-08-2012.

Marta Harnecker conta que escreveu mais de 80 livros. O mais conhecido, "Conceitos Elementares do Materialismo Histórico", dos anos 1960, vendeu mais de 1 milhão de exemplares e está na 67ª edição. Aos 75 anos, viaja pela América Latina e se diz otimista: os EUA já não fazem o querem na região e o conceito de soberania cresceu.

Hoje morando em Vancouver (Canadá), ela considera Chávez um "líder revolucionário fundamental", mas uma "pessoa contraditória": "Ele é um militar que crê na participação popular. O importante é ver o fruto dessa coisa". A Venezuela é o país menos desigual do continente.
Eis a entrevista.
Como a sra. avalia a situação política na América Latina?

Sou muito otimista. Quando Chávez ganhou estava sozinho e o panorama hoje mudou muito. Considero que as situações mais avançadas estão na Venezuela, Bolívia e Equador. Meu último livro foi sobre o Equador e se chama "A Esquerda em Busca da Vida em Plenitude". A concepção desses governos é de uma sociedade alternativa ao capitalismo, em que a pessoa humana tenha um pleno desenvolvimento.

Não demos importância a isso no passado. E hoje em dia é fundamental: uma sociedade construída pelas pessoas, de baixo para cima. Não é fazer com que o povo seja um mendigo que recebe presentes do Estado. Não é o que queremos nem o que está sendo feito. O parteiro desse processo foi o neoliberalismo, que provocou contradições e os povos começaram a resistir e começaram a entender que tem que participar da política e criar instrumentos políticos. Foi o caso do Equador, da Bolívia e da Venezuela. Lá houve pressões populares nos anos 1980 que estão na origem do triunfo de Chávez.

Há uma crise estrutural do Estado. As pessoas já não confiam na política e nos políticos e querem coisas novas. Estão cansadas de promessas não cumpridas. Surgem esses governos e, contra os prognósticos de alguns, inclusive de intelectuais brasileiros, o processo se seguiu. Houve quem achasse que se tinha atingido um topo e iria diminuir. Mas não foi assim.

Mas temos o império presente. São os casos de Manuel Zelaya e de Fernando Lugo. Eles tinham processos mais débeis internamente, com organizações populares mais fracas, sem partidos. Os dois vinham de partidos da burguesia. Não há o que copiar na América Latina. Alguns se entusiasmam com o processo da Venezuela e acham que se pode fazer em todos os países a mesma coisa. O processo no continente é completamente diferenciado. O que os une é o processo social. Na Bolívia e no Equador, por exemplo, os indígenas são grupos importantes; na Venezuela, não.

O desempenho de Chávez não está muito ligado ao petróleo?

O petróleo já estava nacionalizado quando Chávez chegou ao poder. Mas não estava nas mãos do governo. Estava sendo gerenciado pelos grupos ligados à oposição. Como consequência do golpe de 2002 se recupera a gestão para o governo. Os excedentes do petróleo passam a servir para as missões sociais internas e para apoiar outros processos na América Latina. Há dependência, mas eles têm clareza de que ela precisa ser superada.

O governo está investindo em projetos de industrialização, pois o neoliberalismo desindustrializou os nossos países. Estratégia é depender cada vez menos do petróleo.

O governo Morales enfrenta oposição de movimentos populares na Bolívia. Como explicar isso?

São as contradições que vivem os processos. Esses são muito diferentes dos processos revolucionários dos anos 1920, da Revolução Russa. Nesses casos só se consegue chegar ao governo. Em muitos deles, com uma correlação de forças no parlamento, nos governos locais, nos meios de comunicação e no poder econômico que permanecem nas mãos de quem dominava antes.

Álvaro Liñera [vice-presidente da Bolívia] reflete as contradições que vive o país. Entre um governo, que tem que ser executivo, tomar decisões, resolver problemas de todo o país, e os movimentos sociais, que têm um ritmo de discussão democrática etc. No processo boliviano, o povo é diverso e tem contradições. Fica unido em torno de bandeiras como, por exemplo, a do Estado plurinacional. Mas as contradições se agudizam e o governo tem que entender isso e olhar democraticamente as partes. É muito complicado. O povo quer que o Estado resolva o problema. É uma espécie de paternalismo. Quando chegam esses governos, querem soluções imediatas, não sabem de política nem de correlação de forças. Além disso, prima a visão localista, sem uma visão de conjunto.

É preciso um processo de educação popular para que uma comunidade entenda que para o país e para outras comunidades é negativo não fazer uma estrada. Liñera reconhece que existem e haverá contradições e que é preciso o governante saber lidar com elas.

Como a sra. analisa a situação do Brasil, da Argentina e do Uruguai?

São diferentes. São governos muito mais moderados, mas que estão tomando medidas de soberania. Porque a primeira coisa que precisamos conseguir é a soberania perante os EUA. Temos feito reuniões deixando de fora os EUA; não vem o Departamento de Estado dizer o que devemos fazer. Na maioria dos governos da região, a soberania é um valor. É um êxito que tenham constituído a Unasul e que nela estejam o Chile, o México, a Colômbia.

O poder dos EUA diminuiu na região?

Os Estados Unidos já não podem fazer o que querem. Mas claro que o seu poder é imenso. Há uma contraofensiva dos EUA que se reflete em casos como o de Zelaya, e na tentativa contra Correa. Houve o golpe contra Lugo. Estão tentado refazer um golpe na Bolívia, com setores da oposição se aproveitando das contradições no interior do povo. Em Santa Cruz e em outros lugares estão tentando fazer alianças com os setores do povo descontentes. A intenção de separatismo foi vencida graças à organização popular. Agora não há um perigo iminente, mas essas forças estão se reconstituindo.

Não temos um caminho fácil. São processos que não se definem de um dia para outro. A melhor defesa é ter um povo organizado. Chávez entendeu muito bem. Ele sempre insiste em dizer que não podemos resolver o problema da pobreza se não dermos poder ao povo. Chávez é um tipo que sente o popular, é muito humano. Fiz um livro com ele que se chama "Um Homem, um Povo". Não digo que não haja defeitos do homem Chávez e que não haja contradição entre o seu discurso e o que se faz. Vivemos processos humanos, não de deuses puros.

Poderia haver um modelo comum entre os países latino-americanos na sua visão?

Sou chilena. No Chile se consolidou a contrarevolução burguesa, com Pinochet e os seguintes. A Concertação segue as políticas neoliberais com algumas políticas sociais. Houve um neoliberalismo exitoso, pelo aumento do PIB, a construção de estradas. Mas o Chile, que era um dos países mais igualitários da América Latina, é hoje um dos com maiores diferenças entre os pobres e os ricos. No Chile não existiam muros nas casas da grande burguesia. Não se pode medir o resultado do neoliberalismo apenas pelo lado econômico. Conheci um casal de arquitetos chilenos que trabalha 14 horas por dia. Vivem para trabalhar; não trabalham para viver.

Pessoas da pequena burguesia conseguem alguma coisa, mas há muita competição, estão sempre correndo, nunca têm tranquilidade no trabalho. No Brasil também se consolidou a contrarevolução burguesa.

Como assim? O governo do PT significa a contrarevolução burguesa?

Os setores dominantes se consolidaram, o agronegócio. O PT está buscando fazer outra coisa. Não se pode comparar com a Venezuela ou a Bolívia, por causa da correlação de forças da vitória de Lula. Num país que é a sexta economia do mundo, o capital financeiro e as transnacionais têm um poder enorme. Então o capitalismo se consolida, mas há atenção aos setores populares. Tiram pessoas da pobreza.

No Brasil, falta o governo facilitar mais o processo de organização popular. Temos uma esquerda que esteve na oposição. O governo tem que executar, resolver e não pode esperar a discussão do partido. Vai se dando um distanciamento entre partido e governo. Quadros do setor popular passam a ter postos no governo. Num Estado como o brasileiro precisa ser muito firme para não se transformar em outra coisa. Um trabalhador que chega a ser senador ou deputado muda a sua vida. Como ensina o marxismo, as condições materiais influem. Creio que há provavelmente a deformação de muitos dirigentes, que deixam de representar os interesses populares.

Há muitas críticas da esquerda a Lula e Dilma que são feitas sem entender a correlação de forças que existe. Não quer dizer que não possam fazer mais do que têm feito.

Então não há um modelo comum para a América Latina?

Não. Cada situação na América Latina é distinta. É preciso estudar cada lugar, suas origens históricas, as correlações de forças.

Sou estudiosa de Lênin. É preciso fazer a análise concreta das forças, escolher a estratégia e a tática. Há um horizonte que é o socialismo do século XXI, a sociedade do bem viver. Não queremos um socialismo como o soviético, estatista, totalitário, de partido único, ateu, que usou os movimentos sociais como correia de transmissão. É preciso ler os clássicos, Marx e Engels. A meta é uma sociedade solidária, que não hajam exploradores e explorados, em que cada um encontre o que fazer, que respeite as diferenças. É uma meta utópica. Mediria os governos com perguntas: 1. Esses governos têm conquistas em relação à soberania nacional?; 2. Consolidam, aumentam a organização do povo? 3. Fazem um desenvolvimento que respeite a natureza?

Como a sra. analisa a crise econômica mundial?

É uma crise estrutural importante. Não é terminal, porque o capitalismo se recompõe. As condições objetivas estão mais adiantadas do que as condições subjetivas. Valorizo movimentos como o dos indignados. A rebeldia é um passo inicial, mas é preciso fazer com que isso vire uma força. "Reconstruindo a Esquerda" é um livro meu em que digo que é preciso um instrumento de articulação que não são os partidos tradicionais. O neoliberalismo fragmenta a população.

Como assim?

A política não é a arte do possível. Isso é diplomacia. Escrevi um livro sobre isso. O político revolucionário precisa entender que para lograr seu objetivo tem que criar uma correlação de forças. Construir forças sociais para ter força política para buscar o seu objetivo. Se constrói força social com protagonismo popular. O Estado não pode criar o que não existe, mas pode criar condições para que as forças se fortaleçam.

Os partidos políticos não seriam esse instrumento? Não há diferenças?


Partidos políticos não compreendem a política como a arte de construir forças sociais. Mas entendem a política como forma de ganhar postos no governo, ter mais deputados, mais força. Não é a ideia. Muitas vezes a política fica muito desprestigiada. A direita se apropriou da linguagem da esquerda. A esquerda muitas vezes faz uma prática política igual à direita: clientelismo, personalismo, carreirismo político, às vezes até corrupção. O povo vê discursos iguais, vê práticas iguais, se decepciona.

Por exemplo?

Sem exemplos. O diagnóstico faz cada um. Mas está claro. É preciso ser muito coerente entre o que diz e o que faz. É preciso que se trabalhe para construir força social, e não se dedicar a pelejas institucionais. O socialismo requer uma grande maioria, uma hegemonia, convencer o máximo de gente pelo projeto, sendo muito pluralista e respeitando as diferenças.

Tenho um livro que faz uma análise dos erros que cometeu a esquerda. Quando uma pessoa conhece o valor da solidariedade, começa a entender que é mais importante ser do que ter. Essa é a luta contra o consumismo. Há uma democracia desmobilizadora. As pessoas então endividadas. Os trabalhadores estão desmobilizados porque podem perder o trabalho e não estão tão protegidos como antes. Quando os partidos de esquerda conseguem ganhar algum espaço, muitas vezes os dirigentes deixam de ser dirigentes revolucionários. O perigo é muito grande. Um membro político que se mete no aparato burguês tem que ter algum tipo de estrutura, um grupo de pessoas de controle, de consulta. Que pergunte ao dirigente porque ele está comparando um carro que não tem necessidade. É fácil fazer a cooptação, pela ideologia e pela cultura, de um sujeito solitário.

A sra. foi casada com um dirigente da revolução cubana e morou muitos anos na ilha. Como vê a situação do país?


Cuba foi minha segunda pátria. Tenho uma filha cubana que mora lá. Cuba mostrou à América Latina a dignidade, a capacidade de defender a soberania, de resistência a todos os males. A economia é muito complicada.

Como avalia as mudanças em curso na economia?
Precisava haver mudanças. As pessoas precisam de espaço para desenvolver sua capacidade produtiva. É certo. Creio que a participação dos trabalhadores em cooperativas seria um caminho que deveria ser explorado.

A sra. foi discípula de Louis Althusser (1918-1990). Como foi essa experiência?

Estudei psicologia na Universidade Católica do Chile. Como dirigente da ação católica universitária visitei Cuba e fiquei fascinada. Eu era católica e comecei a discutir com cristãos marxistas. Fui à França e conheci Althusser, que também havia sido católico. Li suas obras estabeleci uma relação de discípula. Vivia a poucos metros da casa dele e o via três vezes por dia. Ele me dizia o que ler. Não segui psicologia. Isso foi entre 1963 e 1968. Trabalhei também com Paul Ricoeur (1913-2005). Voltei ao Chile pensando em ensinar francês.

Deliberadamente eu não tinha título. Eu tinha escrito um livro ­-"Conceitos Elementares do Materialismo Histórico"- com as notas que tinha feito de um curso para haitianos e mexicanos no ultimo ano que estive em Paris. Esse livro vendeu mais de um milhão de exemplares. Está agora na 67ª edição e foi traduzido para várias línguas. No Brasil circulou em edições clandestinas. Por causa do livro, fui ser professora da Universidade do Chile, com Theotonio dos Santos e Ruy Mauro Marini. Virei diretora da revista política da Unidade Popular, a "Chile Hoy". Transformava artigos de intelectuais, tornando-os acessíveis para a população. Foi quando me apaixonei pelo jornalismo. Fazia cartilhas de formação e cursos para operários e camponeses. Só aí fiz doze cadernos de educação popular.

Tenho mais de 80 livros publicados. Alguns são livros de testemunhos, com experiências de vários países - El Salvador, Equador, Bolívia, Paraguai, Venezuela. Tenho um livro sobre o PT que está pendente. No Chile fazia parte do Partido Socialista e fiquei fascinada pela educação popular. Para mim, a maior satisfação é criar um texto que todos entendam. Que não seja acadêmico. Não sou doutora. Sou educadora popular: é a minha autodefinição. Depois do golpe no Chile, fui para Cuba, quando consolido minha relação com o comandante Manuel Piñeiro, o Barba Roja (1933-1998). Fiquei em Cuba até 2003. Fui entrevistar Hugo Chávez, na Venezuela. Recolhi as criticas de esquerda, as dúvidas sobre o governo. Ele gostou muito que eu lhe transmitisse as críticas e me convidou para trabalhar no palácio. Não quis salário. Pagavam um apartamento e a comida, só.

Que críticas eram?

Que tal ministério não estava fazendo tal coisa, que tinha um discurso demasiado autoritário, tudo. Vivi seis anos da Venezuela.

Hoje a sra acha que Chávez é uma pessoa autoritária?

Chávez é um militar. Que crê na participação popular e quer promovê-la. E que como pessoa é contraditória. E tem que se respeitar essa contradição. Queríamos que não fosse tão autoritário, mas entendemos. Eu mesma tenho um caráter muito complicado. Muitas vezes quis mudar e não é tão fácil. O importante é ver o fruto dessa coisa. Se comparamos a Venezuela do primeiro ano com a hoje, temos gente com personalidade, que critica, que cresceu como ser humano. E é isso que buscamos. Eu o saturava com críticas.

E hoje a sra. ainda mora na Venezuela?

Moro em Vancouver, no Canadá, com o meu companheiro Michael Lebowitz.

Como avalia a sucessão de Chávez?


Não tem ninguém na altura de Chávez. O ideal seria uma direção coletiva. Dada a fragmentação que o liberalismo produziu nos setores populares latino-americanos, os trabalhadores de hoje não têm nada que ver com os do tempo de Marx: há subcontratação, precarização. É preciso pessoas com grande carisma e uma personalidade muito forte para aglutinar todos esse setores.

Há o líder populista que usa o povo para os seus objetivos políticos e o líder revolucionário que, usando sua capacidade, promove o crescimento da população. Um líder revolucionário com carisma se comunica com o povo igual que um populista. A diferença é que o populista dá coisas, como Perón, mas não é ajuda para que o povo se independize. Não é ponte de um crescimento.

Recordo de uma das primeiras viagens que fiz com Chávez, para a inauguração de escola. As pessoas pediam coisas, passavam papéis. Um deles pediu um caminhão. Chávez sugeriu que ele se organizasse com outros numa cooperativa para obter o caminhão. Essa é a ideia. Para mim não é populismo; é um dirigente revolucionário. Para mim e o processo venezuelano e Chávez são fundamentais para esse processo na América Latina.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Filmes Brasileiros Completos (lista de reprodução)

Pontos de Cultura: agora em toda a América Latina


 

Criador de um programa que marcou MinC até 2010, Célio Turino conta como iniciativa, semi-interrompida no Brasil, está contagiando continente

Por Célio Turino*
“Uma notícia está chegando lá do exterior
Não deu no rádio no jornal ou na televisão”

Em minhas centenas de viagens aos Pontos de Cultura pelo interior do Brasil, sempre cantarolava a música “Notícias do Brasil” de Milton Nascimento com letra de Fernando Brant. Queria compartilhar este país que eu tinha oportunidade de ver com meus próprios olhos, um Brasil energizado e compartilhado pelos Pontos de Cultura, com gente criativa e valente, fazendo coisas diferentes na defesa do Bem Comum. De certa forma pude contar essas histórias no meu livro Ponto de Cultura, o Brasil de baixo para cima, tanto que abro o livro fazendo um diálogo com esta música e a história dos meninos e meninas de Araçuaí (Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais) e o presente que deram à sua cidade: um cinema.

Agora, distante há mais de dois anos do ministério da Cultura, me relembro da música e apenas faço uma mudança na letra, trocando “interior” por “exterior”. A vida tem me levado para fora do Brasil. Desde março de 2011, tenho recebido incontáveis convites para conferências e cursos em outros países, sobretudo América Latina, mas também Europa. No período em que estava trabalhando no ministério da Cultura, evitei as viagens oficiais ao exterior, pois tinha consciência de que, naquele momento, minhas responsabilidades estavam em dar conta de meu trabalho para o povo brasileiro, atendendo às milhares de entidades culturais comunitárias do Brasil, e assim fiz.

Agora, sem responsabilidades de governo, posso sair difundindo, não mais um programa governamental, mas teoria, conceitos e experiências que podem e devem ser compartilhadas. Com isso já estamos realizando uma campanha continental pela Cultura Viva Comunitária, que busca assegurar em lei um orçamento mínimo de 0,1% do orçamento público para o “fazer cultural” autônomo e protagonista, potencializando os Pontos de Cultura existentes em cada país. Esta é uma experiência de lei continental, que se estende da Terra Fogo ao Rio Grande (o rio seco que separa o México do estado norte-americano do Texas), unindo 21 países.

Uma primeira percepção com estas viagens: é tudo tão comum! Eu nos vejo quando estou na Guatemala, junto com a Caja Lúdica fundada por um casal de colombianos de Medellin. Neles encontro os tantos casais que diariamente levam adiante seus Pontos de Cultura no Brasil (entre os muitos Pontos de Cultura que conheci, aqui e no exterior, sempre encontro a presença dedicada e cúmplice de casais). Em verdade, a Caja Lúdica de Guatemala, atua como um Pontão de Cultura, articulando, capacitando e difundindo Pontos de Cultura por todo o país e mesmo entre seus vizinhos da América Central.

São 50 pessoas em trabalho diário, vivendo da caixa lúdica, sendo remunerados por ela (não muito, pois sabemos o quanto é dura a vida de quem opta para trabalhar em uma perspectiva do bem comum; mas suficiente para uma vida digna e feliz). Des-silenciam um povo silenciado pelos genocídios recentes (na guerra civil que assolou o país até o final do século XX, há mais de 50 mil desaparecidos e 200 mil mortos em genocídio, isto em um país com pouco mais de 14 milhões de habitantes) e passados (a Guatemala está no centro da civilização Maya), recuperando a medicina tradicional dos povos Maya, seus ritos e histórias; mobilizando jovens e difundindo a cultura paz no país com o segundo maior índice de homicídios do mundo (70 assassinatos para cada 100 mil habitantes – no Brasil a taxa é de 22 por 100 mil); recuperando brincadeiras infantis e ocupando as ruas e praças com teatro, dança e música.
Na Guatemala, eles não contam uma política pública como o Cultura Viva e obtêm recursos financeiros através de acordos de colaboração internacional; mas querem que o estado assuma sua responsabilidade reconhecendo a Cultura como um direito humano inalienável. Em agosto deste ano participei de uma Comparsa (passeata festiva) nas ruas da cidade de Guatemala, a capital; estávamos em mais de 500 manifestantes, gente em perna de pau (lá descobri que a perna de pau era usada pelos Mayas há milênios), com roupas diferentes, máscaras, e muito sorriso no rosto. O que queriam e querem? Pontos de Cultura como base e a Cultura Viva como alavanca para o desenvolvimento sustentável.

Em outro extremo da América, a Argentina, nova manifestação (foi em novembro de 2010, se bem me recordo): El Pueblo Hace Cultura! Igualmente, mais de 500 pessoas nas ruas. Grupos de Teatro do Oprimido se apresentando en las calles (com sotaque bem portenho, em que dois eles formam gê). As avenidas largas de Buenos Aires foram palco de uma linda manifestação com tambores e caminhões artísticos do Calderón Timbal (outro Pontão de Cultura que preenche a periferia da grande Buenos Aires com arte). Juntos, saímos do Congresso Nacional e fomos até a Casa Rosada (palácio presidencial), concentrando-nos na histórica Plaza de Mayo e provando que Crear vale la pena! (mais um Ponto de Cultura). E para lavar a festa, uma chuva de verão, com direito a sol e arco-íris. Na Argentina já há edital do governo para seleção de Pontos de Cultura e projeto de lei no Congresso.

Mais ao norte, no Peru, novas manifestações pela Cultura Viva por una Nueva Lima! O governo da capital já está implantando o programa como estratégia para o desenvolvimento local, e o ministério da Cultura, após a vitória do presidente Ollanta Humalla, definiu os Pontos de Cultura como prioridade; há até um slogan no site do ministério: Punto de Cultura, la identidad en la diversidad! Tudo começou com uma moça peruana que esteve presente na Teia de Fortaleza e que leva o nome de pomba: Paloma; mas hoje já são tantas as pessoas engajadas nas terras incas que nem é possível contá-las. Tudo em tão pouco tempo e já voam como a Cultura Viva que se espalha pelo mundo.

Atravessando os Andes, e regressando à América Central: Costa Rica. Pura Vida! É assim que eles definem a vida por lá, Pura Vida, um país de gente corajosa, que há 60 anos decidiu viver sem forças armadas e priorizar o investimento em cultura e educação. Um pais pequeno, com um povo feliz e educado; eles se autodefinem como “Ticos”, isso porque tem o hábito de se referir a tudo no diminutivo. O ministro da cultura é um músico entre o erudito, o tradicional e o jazz. Há anos sai recolhendo ritmos e sons da cultura popular da América Central, depois compõe em coisas novas com a orquestra da Papaya, pura mistura, como a realizada a partir dos prêmios do Interações Estéticas do Cultura Viva. Há redes de cultura no interior do país, na montanha, no litoral, entre vulcões, na capital. Surpreendam-se! em San Jose (a capital, com 1,5 milhão de habitantes), há vinte teatros com programação regular, de quarta a domingo. Todos querem ser Ponto de Cultura; ou melhor: PunTICOS de Cultura!

Mais ao norte: México. Um país-continente como o Brasil. A terra das cores vibrantes, das mil culturas, das pirâmides e da sabedoria ancestral ameríndia. O ponto de encontro foi a Cidade do México, enorme, e para lá foi gente de todo país. Na divisa com os Estados Unidos, uma cidade assolada pelos cartéis do trafico de drogas e a super exploração da mão de obra em fabricas maquiadoras de produtos importados, Ciudad Juarez, combate o genocídio de mulheres com biblioteca comunitária e ações de leitura e gênero; mais um Ponto de Cultura que já é. Há outros, na periferia da capital, nos estados de Oaxaca, Chiapas, falando em espanhol ou em idiomas indígenas. Além de um enorme interesse das universidades mexicanas por toda a experiência brasileira; na faculdade de economia da UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México) a conferencia foi “Economia Viva e Economia Criativa?”, na IberoAmericana, sobre Cultura Digital e na Universidade do Distrito Federal, sobre Cultura e Direitos Humanos. Pura troca, em que fui acompanhado por um Ponto de Cultura do Brasil, o Vídeo nas Aldeias.

Unindo as partes desta América diversa e ensolarada, a Colômbia. Uma surpresa! Eu próprio, acostumado a combater estereótipos e preconceitos, me surpreendi com aquele país. Um povo tão gentil e amável. Como podem viver em meio a tanta violência? Narcotraficantes, contras, guerrilheiros. Como pode? Em sua cultura ancestral, vi uma das mais delicadas metalurgias, só trabalhos em ouro, com imagens de flores, pássaros, macacos, nenhuma arma, nenhuma cena de violência. Enquanto visitava esta bela ourivesaria no Museu do Ouro de Bogotá, comparava com a cultura grega, romana ou dos demais povos europeus ou asiáticos e lembrava das imagens de guerra e destruição, das armas e batalhas aterradoras. Com a arte dos primeiros habitantes do El Dorado (os conquistadores espanhóis supunham que a cidade de ouro estava no território da atual Colômbia) só vi beleza e paz.

Para eles, os Pontos de Cultura têm um significado: desesconder a Colômbia ancestral e religar o presente com a paz. Em Bogotá, há toda uma articulação da prefeitura municipal pela Cultura Viva; em Cali, mais de cem grupos a defender a defender os conceitos da Cultura Viva (autonomia, protagonismo e empoderamento social) e em Medellin, um dos mais instigantes laboratórios de tecnologias sociais no mundo. Uma cidade que se reinventa pela Cultura (5% do orçamento público vai para a pasta da Cultura), que faz lindas bibliotecas em meio a favelas, que estabelece um compromisso cidadão e trata bem ao seu povo; assim estão superando as marcas do narcotráfico e das desigualdades. Mas faltava um ponto a aproximar ainda mais governo e povo, um ponto de potência que só se encontra nas comunidades ativas. Quem fez este ponto e alavanca, foi um Ponto de Cultura que já é, Nuestra Gente, uma casa comunitária em meio à favela, com Jorge Blandon e tantos amigos gentis.

Nuestros hermanos, em todos os países, gente comum a todas as outras que conheci em cada viagem pelo interior do Brasil e agora por nuestra América.

*Célio Turino é historiador, escritor e gestor de políticas públicas. Foi idealizador e gestor do programa Cultura Viva e dos Pontos de Cultura, tendo exercido diversas funções públicas, entre elas: Secretário de Cultura e Turismo em Campinas/SP (1990/92), Diretor de Esporte e Lazer em São Paulo/SP (2001/2004) e Secretário da Cidadania Cultural no Ministério da Cultura (2004/2010). Autor dos livros: Na Trilha de Macunaíma – ócio e trabalho na cidade (Ed. SENAC, 2005) e Ponto de Cultura – o Brasil de baixo para cima (Ed. Anita Garibaldi, 2009), entre outros.

Publicado em:  http://www.outraspalavras

A nova batalha de Hugo Chávez


publicado em 09/08/2012
Ignácio Ramonet
Por Ignacio Ramonet

É a décima quarta. Desde qua ganhou sua primeira eleição presidencial, em dezembro de 1998, Hugo Chávez já submeteu-se – direta ou indiretamente – treze vezes ao sufrágio dos eleitores da Venezuela. Quase sempre, ganhou [1], em condições de reconhecida legalidade democrática, avalizada por missões de observadores enviadas pelas instituições internacionais mais exigentes (ONU, União Europeia, Centro Carter e outras).

O pleito do próximo 7 de outubro constituirá, pois, o décmo quarto encontro do mandatário com os cidadãos venezuelanos [2]. Desta vez, joga-se sua reeleição à presidência. A campanha eleitoral começou em 1º de julho, com duas singularidades notáveis em relação às votações anteriores. Primeiro, Hugo Chávez está saindo de treze meses de tratamento contra um câncer, detectado em junho de 2011. Segundo, a principal oposição conservadora aposta, desta vez, na unidade. Reagrupou-se no seio de uma Mesa da Unidade Democrática (MUD), que escolheu como candidato, por meio de eleições primárias (em 12 de fevereiro), Hugo Capriles Radonski, um advogado de 40 anos, governador do Estado de Miranda.

Filho de uma das famílias mais ricas da Venezuela, Henrique Capriles foi um dos artífices do golpe de Estado de 11 de abril de 202 e participou, com um grupo de putschistas, no assalto à embaixada de Cuba em Caracas [3]. Embora tenha origem na organização ultraconservadora Tradição, Família e Propriedade [4] e seja apoaido pelos setores mais direitistas (entre eles, os meios de comunicação de massa privados, que continuam dominando amplamente a informação), Capriles faz campanha habilmente. Reivindica todas as conquistas sociais do governo bolivariano. E até jura que seu modelo político é o de esquerda, do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva… [5] Mas aposta, sobretudo, no debilitamento físico do presidente Chávez [6].

Nisso, equivoca-se. O autor destas linhas, presente em julho passado na Venezuela, acompanhou as duas primeiras semanas de campanha do presidente, conversou várias vezes com ele, assistiu a alguns de seus extenuantes comícios para multidões. E pode testemunhar sua boa saúde e sua excepcional forma física e intelectual.

Desmentindo as falsas notícias que circularam em alguns meios de comunicação (Wall Street Journal e El País), segundo as quais devido a supostas “metástases nos ossos e na espinha dorsal” teria apenas “seis ou sete meses de vida”, Chávez – que completou 58 anos em 28/7 – afirmou, para consternação de seus adversários: “Estou totalmente livre da enfermidade; a cada dia, sinto-me melhor”.

E voltou a surpreender os que apostavam numa presença apenas virtual na campanha, anunciando sua decisão de “retomar as ruas” e começar a percorrer os rincões da Venezuela, para conquistar seu terceiro mandato. “Disseram de mim: ‘Ele estará trancado em Miraflores (o palácio presidencial), numa campanha virtual por twitter e vídeos’. Zombaram de mim como quiseram. Pois aqui estou de novo, retornando, com a força indômita do furacão bolivariano. Já sentia falta do cheiro das multidões e do rugir do povo nas ruas”.

Este rugir, poucas vezes ouvi tão poderoso e tão fervoroso como nas avenidas de Barcelona (Estado de Anzoátegui) e de Barquisimeto (Estado de Lara), que acolheram Chávez em 12 e 14 de julho, respectivamente. Um oceano de povo. Uma torrente escarlate de bandeiras, símbolos, camisas vermelhas. Um maremoto de gritos, cantos, paixões, arrebatamentos.

Ao longo de quilômetros e quilômetros, no alto de um caminhão colorado que avançava abrindo espaço entre a multidão, Chávez saudou sem descanso a centenas de milhares de simpatizantes que foram vê-lo em pessoa, pela primera vez desde sua doença. Com lágrimas de emoção e beijos de agradecimento para um homem e um governo que, respeitando as liberdades e a democracia, atenderam aos humildes, resgataram a dívida social e deram a todos, por fim, educação gratuita, emprego, previdência social e habitação.

Para tirar as esperanças da oposição, Chávez, nos longos discursos eleitorais que pronunciou sem dar sinais de cansaço, começou dizendo: “Sou como o eterno retorno de Nietzche, porque na realidade venho de várias mortes… Que ninguém se engane, enquanto Deus me der vida estarei lutando pela justiça dos pobres. Mas quando eu me for fisicamente, ficarei com vocês por estas ruas e sob este céu. Porque já não sou eu, sinto-me encarnado no povo. Chávez já se fez povo e agora somos milhões. Chávez é você, mulher. Chávez é você, jovem. Chávez é você, criança; é você, soldado; são vocês, pescadores, agricultores, camponeses e comerciantes. Ocorra o que ocorrer comigo, não poderão resistir a Chávez, porque Chávez agora é um povo invencível”.

Em suas intevenções, não hesitou inclusive em criticar duramente alguns governadores e prefeitos de seu próprio partido, que descumpriram compromissos com os eleitores. “Tornei-me o primeiro opositor”, declarou. Mas também advertiu: “Pode-se criticar a revolução, mas não se pode votar na burguesia. Isso seria traição. Às vezes, podemos falhar, mas temos no coração amor de verdade pelo povo”.

Orador incomum, seus discursos são amenos e coloquiais, ilustrados de histórias, rasgos de humor e até canções. Mas são também, mesmo que não pareçam, verdadeiras composições didáticas muito elaboradas, muito estruturadas, preparadas de maneira muito séria e profissional, com objetivos concretos. Trata-se, em geral, de transmitir uma ideia central, que constitui o tronco de seu percurso discursivo. Nesta campanha, vai expondo e explicando metodicamente seu programa [7].

Mas, para não cansar nem ser pesado, Chávez afasta-se amiúde deste tronco principal e realiza o que poderíamos chamar de excursões em campos anexos (histórias, recordações, chistes, poemas), que não parecem ter nexo com seu propósito central. Mas sempre têm. E isso permite ao orador, depois de ter aparentemente abandonado por bastante tempo seu curso central, regressar a ele e retomá-lo no ponto exato onde o deixou. O que produz, de modo subliminar, um prodigioso efeito de admiração no auditório. Esta técnica retórica permite-lher fazer discursos de enorme duração.

Em seus recentes discursos eleitorais, Chávez compara as políticas de demolição do Estado de bem-estar social, executadas em vários países da União Europeia (cita, em particular, os brutais cortes feitos por Mariano Rajoy, na Espanha), com as importantes conquistas sociais de seu governo, empenhado em seguir “construindo o socialismo venezuelano”.

Em seus catorze anos de existência (1999-2012), a Revolução Bolivariana conseguiu, em âmbito regional, avanços consideráveis: criação da Petrocaribe, da Petrosul, do Banco do Sul, da ALBA, do Sucre (Sistema Único de Compensação Regional), da Unasul, da Celac, ingresso da Venezuela no Mercosul. E tantas outras políticas, que fizeram da Venezuela de Hugo Chávez um manancial de inovações para avançar até a independência definitiva da América Latina.

Ainda que campanhas agressivas de propaganda afirmem que, na Venezuela bolivariana, os meios de comunicação estão controlados pelo Estado, a realidade – verificável por qualquer testemunha de boa-fé – é que apenas uns 10% das emissoras de rádio são públicas; as 90% restantes são privadas. E não mais que 12% dos canais de TV são públicos, ficando 88% em mãos privadas ou comuntárias. Entre os jornais impressos, os principais diários, El Universal e El Nacional, são privados e sistematicamente hostis ao governo.

A grande força do presidente Chávez é que sua ação concentra-se sobretudo no social (saúde, alimentação, educação, habitação), o que mais interessa aos venezuelanos humildes (75% da população). Consagra 42,5% do orçamento do Estado a inversões sociais. Reduziu à metade a mortalidade infantil. Erradicou o analfabetismo. Multiplicou por cinco o número de professsores nas escolas públicas (de 65 mil para 350 mil). A Venezuela à hoje o segundo país da região com maior número de estudantes matriculados no ensino superior (83%), atrás de Cuba mas à frente da Argentina, Uruguai e Chile; e é o quinto no plano mundial, superando Estados Unidos, Japão, China, Reino Unido, França e Espanha.

O governo bolivariano generalizou saúde e educação gratuitas. Multiplicou a construção de casas. Elevou o salário mínimo (o mais alto da América Latina). Concedeu aposentadorias a todos os trabalhadores (inclusive os informais e donas-de-casa) e todos os idosos, mesmo aqueles que nunca contribuíram. Melhorou a infra-estrutura dos hospitais. Oferece às famílias modestas, por meio do sistema Mercal, alimentos 60% mais baratos que nos supermercados privados. Limitou os latifúndios, multiplicando por dois a produção de alimentos. Assegurou formação técnica a milhões de trabalhadores. Reduziu as desigualdades. Rebaixou a pobreza a menos de 1/3. Reduziu a dívida externa. Acabou com a pesca de arrasto, antiecológica. Impulsionou o ecossocialismo…
Todas estas ações, desenvolvidas há 14 anos, explicam o apoio popular a Chávez, que promete, em sua campanha: “Tudo o que fizemos é pouco, comparado ao que faremos”.
Testemunhei que milhões de pessoas humildes o veneram como um santo. Ele – que foi garoto pobre, vendedor ambulante de doces, nas ruas de sua cidade – repete com calma: “Sou candidato dos humildes, e me consumirei a serviço dos pobres”. Seguramente irá fazê-lo. Certa vez, a escritora Alba de Céspedes perguntou a Fidel Castro como pôde ter feito tanto por seu povo. Ele respondeu simplesmente: “Com grande amor”. A respeito da Venezuela, Chávez poderia dizer o mesmo. E que pensarão os eleitores venezuelanos? Respostas em 7 de outubro.

Tradução: Antonio Martins

Notas
[1] Perdeu apenas, por margem ínfima, o referendo de 2 de dezembro de 2007, sobre um “projeto de reforma constitucional”.
[2] Além de Hugo Chávez, outros seis candidatos disputam as eleições de 7 de outubro: Henrique Capriles Radonski, pela Mesa da Unidade (MUD); Orlando Chirinos, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSL); Yoel Acosta Chirinos, pelo partido Vanguarda Bicentenária Republicana (VBR); Luís Reyes Castillo, pela Organização Renovadora Autêntica (ORA); María Bolivar, pelo Partido Democrático Unidos pela Paz e Liberdade (PDUPL) e Reina Sequera, pelo Partido Poder Popular (PP).
[3] Leia-se, de Gilberto Maringoni, “En Venezuela, Chávez sigue favorito”, Le Monde Diplomatique em espanhol, maio de 2012. Leia-se também, de Romain Mingus, “Henrique Capriles, candidat de la droite décomplexée du Venezuela”, Mémoire des luttes, 28/2/2012.
[4] Foi co-fundador de seu braço venezuelano.
[5] Lula enviou a Chávez, em 6 de julho, uma mensagem pública em que lhe manifestou pleno apoio na caompanha eleitoral, afirmando: “Tua vitória será nossa vitória”.
[6] Em meados de julho, as principais pesquisas de opinião davam a Chávez uma vantagem entre 15 e 20 pontos percentuais sobre Henrique Capriles.
[7] Propuesta del candidato de la patria Comandante Hugo Chávez para la gestión bolivariana socialista 2013-2019, Comando de Campanha Carabobo, Caracas, junho de 2012.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Os filhos dos dias, de Eduardo Galeano


Todo lançamento de livro de Eduardo Galeano é um acontecimento. Ainda mais no Brasil, que é um dos poucos países – eu pelo menos não conheço outro – em que seus artigos não sejam publicados regularmente pela imprensa – pela velha mídia. Galeano faz companhia a autores como Chomsky e Michael Moore, que também são vítimas da censura da mídia tradicional brasileira.

Assim que, quando a cada tantos anos, Galeano nos brinda com um dos seus livros, é um momento ainda mais especial no Brasil.

Saiu este mês a edição brasileira de "Os filhos dos dias", sempre pela L&PM e sempre com a tradução de Eric Nepomuceno, com colagens internas do próprio Galeano.

Desta vez é uma espécie de Almanaque ou de diário, com notas correspondentes a cada dia do ano, conforme acontecimentos ou outros ganchos que permitem Galeano falar sobre o mundo de cabeça pra baixo.

Os dias? Porque para os maias, na sua Genesis:

E os dias se puseram a andar.
E eles, os dias, nos fizeram.
E assim fomos nascidos nós,
os filhos dos dias,
os averiguadores,
os buscadores da vida.


Ou, como ele mesmo diz:

"Este livro tem o formato de um calendário.
A cada dia, nasce uma história.
Porque somos feitos de átomos, mas também
de histórias".


Galeano faz isso: busca a vida, ao longo dos dias de um ano. E nos fala, todos os dias, sobre o sentido das coisas, da vida, da trajetória dos povos, do sem sentido do mundo que vive para a riqueza e o poder e das esperanças da vida.

O estilo de Galeano é indefinível, nem é necessário defini-lo. A leitura das notas diárias nos chega como algo essencial, paradoxal, evidente, revelando como o que conta é a arte de combinar escrita e sentido, palavras e valores.

É o melhor livro de cabeceira possível. Dose de um nota por dia, de manhã ou à noite, sem conta indicações. Com risco grave para os clichês, os preconceitos, os dogmas, a insensibilidade social, o machismo, os racismos. Contem com o Galeano para amanhecer melhor cada dia ou dormir melhor consigo mesmos e com o mundo.



sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Cinema e Direitos Humanos na América do Sul

Edição 2012 abre chamada para receber trabalhos audiovisuais

Prevista para os meses de outubro a dezembro de 2012, a 7ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul abriu chamada para receber trabalhos audiovisuais com vistas à análise de sua curadoria.

As inscrições estão abertas até o dia 3 de agosto.

O evento é voltado a obras realizadas em países da América do Sul, finalizadas a partir de 2010, cujo conteúdo contemple aspectos relacionados aos Direitos Humanos, como os que se seguem:
Direitos das pessoas com deficiência; população LGBT/enfrentamento da homofobia; memória e verdade; crianças e adolescentes; pessoas idosas; população negra; população em situação de rua; mulheres; direitos humanos e segurança pública; proteção aos defensores de Direitos Humanos; combate à tortura; democracia e Direitos Humanos; e situação prisional.
A iniciativa é uma realização da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, com produção da Cinemateca Brasileira, vinculada ao Ministério da Cultura, e patrocínio da Petrobras. A mostra é apresentada nas capitais e no Distrito Federal.

Celebração
O evento celebra o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948.
Não há restrição quanto à duração, gênero ou suporte de captação/finalização. As exibições serão em suporte digital. A mostra não é competitiva, no entanto as obras mais votadas pelo público serão contempladas com o Prêmio Exibição TV Brasil nas categorias curta, média e longa-metragem.
A ficha de inscrição deve ser baixada no site da mostra, preenchida, assinada e enviada por e-mail para contato@cinedireitoshumanos.org.br.

O DVD deverá ser enviado até 03 de agosto para:

7ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul
Cinemateca Brasileira
Largo Senador Raul Cardoso nº 207
São Paulo – S.P. – Brasil
C.E.P. 04021-070

Mais informações: (11) 3512-6111, ramais 211 e 235 (Cinemateca Brasileira) e
(61) 2025.3732 (Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República)

Conferencia de Eva Golinger "Lo que no se conoce de las ONG´S

Principais candidatos na capital mineira preenchem agendas com categorias

Publicado em:  http://www.otempo.com.br/

ISABELLA LACERDA E LARISSA ARANTES 
 
FOTO: LEO FONTES - 27.9.2011
Estratégia. Empenho pela conquista de centrais sindicais ainda está descolado das causas trabalhistas
Os dois principais candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB) e Patrus Ananias (PT), disputam uma corrida para conquistar o apoio de sindicatos em suas agendas de campanha. Contudo, ainda não têm posicionamentos claros a respeito das principais reivindicações das categorias. Ainda é evasivo o discurso sobre bandeiras, como a redução da jornada de trabalho e a revisão do imposto sindical.

Ontem, Lacerda, que é empresário, se encontrou com comerciários para um almoço no restaurante do sindicato em Minas Gerais e, apesar de defender uma "gestão colaborativa" entre prefeitura e cidadãos, não detalhou os pontos da pauta trabalhista. "Acho que avanços sociais são necessários. O país reclama de uma forma muito ampla para que as pessoas tenham mais horas para o lazer. A questão do bem-estar tem que ser atacada de todas as formas", declarou. "Não é um assunto que, no meu trabalho, eu tenha tido oportunidade de analisar ou de refletir de forma mais profunda", admitiu.

Patrus Ananias também se reuniu com trabalhadores, ontem, na abertura do seminário no Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações em Minas Gerais, que é filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT). O petista também não foi além de tangenciar reivindicações das centrais.

"Também vamos estudar a questão dos trabalhadores, embora nós saibamos que não são responsabilidade da prefeitura as questões ligadas diretamente às causas trabalhistas, a não ser no caso dos servidores públicos", destacou. "É de interesse da prefeitura discutir com eles sobre as questões propostas", completou.
Economia. O equilíbrio das finanças foi apontado pelos dois candidatos como a razão primordial para analisar com cuidado a possibilidade de redução da jornada das categorias, o que demandaria a criação de novos turnos em diversos setores.

"Toda a reivindicação trabalhista legítima precisa ser avaliada, mas temos que ver até que ponto a economia suporta. Se poderia ser feito de uma vez ou de forma gradativa", pontuou o prefeito. Ele lembrou, ainda, que a realidade atual, como o tempo gasto no trânsito, eleva a importância desse tipo de debate.

O candidato do PT também adotou um tom ponderado. "A princípio, sou a favor da diminuição da jornada de trabalho. Temos que considerar, também, as exigências da questão econômica. Mas, ao mesmo tempo, é importante considerar que o trabalhador tem que ter tempo para se aprimorar. É preciso sempre buscar uma composição de interesses", disse.
Análise
Conquista de militância poderosa é fundamental
Reuniões com as centrais sindicais já são um pilar estratégico das campanhas dos dois principais candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte. Contudo, o interesse principal das coligações é a incorporação de uma militância historicamente aguerrida, organizada e, atualmente, fundida às estruturas partidárias.

"Hoje, nós temos um novo sindicalismo no Brasil, uma forma de neocorporativismo. As centrais sindicais não só lutam pelos interesses das categorias, mas, também, começam a influenciar diretamente o governo. A maioria das entidades se tornou partidária", analisa o cientista político Rudá Ricci.

O professor explica que é importante para os candidatos conquistar esse tipo de apoio, já que as centrais sindicais entram com "muito dinheiro". "Elas também são importantes pela contingência de militância. Os quadros profissionais que entram na campanha possuem muita força", disse. (GP)


Beatriz declarou apenas saber qual o projeto que a CUT não quer
História



FOTO: CHARLES SILVA DUARTE - 16.9.2011

      
























 A presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Minas Gerais, Beatriz Cerqueira, afirmou ontem que a entidade não irá declarar apoio a um candidato específico na capital mineira. "Mas nós, representantes que formamos a CUT, sabemos, em Belo Horizonte, do projeto de governo que não nos interessa. Temos vários problemas em BH que precisam ser discutidos e resolvidos", ressaltou.

Beatriz esteve no ato com Patrus Ananias (PT), no qual o petista pediu o apoio da central. "Queremos o voto de vocês, que é importante para nós, mas queremos, também, a sugestão de vocês para os nossos projetos", discursou.

Marcio Lacerda (PSB)também disse que espera contar com a CUT e diminuiu o tom crítico adotado no início da semana. "Ela (a CUT) é historicamente alinhada ao PT, e nós precisamos respeitar isso, tanto a central CUT como o partido PT, que eu sempre respeitei", declarou. (IL e LA)

quarta-feira, 1 de agosto de 2012






INSCRIÇÕES ATÉ 3 DE AGOSTO DE 2012

Vivendo no fim dos tempos: o apocalipse do capital


Em seu novo livro, Vivendo no fim dos tempos (Boitempo Editorial), Slavoj Zizek defende que o capitalismo global está se aproximando rapidamente da sua crise final.
 
Ele identifica os quatro cavaleiros deste apocalipse: a crise ecológica, as consequências da revolução biogenética, os desequilíbrios do próprio sistema (problemas de propriedade intelectual, a luta vindoura por matérias-primas, comida e água) e o crescimento explosivo de divisões e exclusões sociais.

Zizek apresenta sua obra como “parte da luta contra aqueles que estão no poder em geral, contra sua autoridade, contra a ordem global e contra a mistificação ideológica que os sustenta”.
Não deveria haver mais nenhuma dúvida: o capitalismo global está se aproximando rapidamente da sua crise final. Slavoj Žižek identifica neste livro os quatro cavaleiros deste apocalipse: a crise ecológica, as consequências da revolução biogenética, os desequilíbrios do próprio sistema (problemas de propriedade intelectual, a luta vindoura por matérias-primas, comida e água) e o crescimento explosivo de divisões e exclusões sociais. E pergunta: se o fim do capitalismo parece para muitos o fim do mundo, como é possível para a sociedade ocidental enfrentar o fim dos tempos?
Para explicar porque estaríamos tentando desesperadamente evitar essa verdade, mesmo que os sinais da “grande desordem sob o céu” sejam abundantes em todos os campos, Žižek recorre a um guia inesperado: o famoso esquema de cinco estágios da perda pessoal catastrófica (doença terminal, desemprego, morte de entes queridos, divórcio, vício em drogas) proposto pela psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, cuja teoria enfatiza também que esses estágios não aparecem necessariamente nessa ordem nem são todos vividos pelos pacientes.

De acordo com Žižek, podemos distinguir os mesmos cinco padrões no modo como nossa consciência social trata o apocalipse vindouro. “A primeira reação é a negação ideológica de qualquer ‘desordem sob o céu’; a segunda aparece nas explosões de raiva contra as injustiças da nova ordem mundial; seguem-se tentativas de barganhar (‘Se mudarmos aqui e ali, a vida talvez possa continuar como antes…’); quando a barganha fracassa, instalam-se a depressão e o afastamento; finalmente, depois de passar pelo ponto zero, não vemos mais as coisas como ameaças, mas como uma oportunidade de recomeçar. Ou, como Mao Tsé-Tung coloca: ‘Há uma grande desordem sob o céu, a situação é excelente’”.

Os cinco capítulos se referem a essas cinco posturas
O capítulo 1, “Negação”, analisa os modos predominantes de obscurecimento ideológico, desde os últimos campeões de bilheteria de Hollywood até o falso apocaliptismo (o obscurantismo da Nova Era, por exemplo).

O capítulo 2, “Raiva”, examina os violentos protestos contra o sistema global, em especial a ascensão do fundamentalismo religioso.

O capítulo 3, “Barganha”, trata da crítica da economia política, com um apelo à renovação desse ingrediente fundamental da teoria marxista.

O capítulo 4, “Depressão”, descreve o impacto do colapso vindouro, principalmente em seus aspectos menos conhecidos, como o surgimento de novas formas de patologia subjetiva.
E, por fim, o capítulo 5, “Aceitação”, distingue os sinais do surgimento da subjetividade emancipatória e procura os germes de uma cultura comunista em suas diversas formas, inclusive nas utopias literárias e outras.

Žižek é otimista quanto ao que pode surgir desse processo de emancipação e apresenta sua obra como parte da luta contra aqueles que estão no poder em geral, contra sua autoridade, contra a ordem global e contra a mistificação ideológica que os sustenta. Para ele, engajar-se nessa luta significa endossar a fórmula de Alain Badiou, para quem mais vale correr o risco e engajar-se num Evento-Verdade, mesmo que essa fidelidade termine em catástrofe, do que vegetar na sobrevivência hedonista-utilitária. Rejeita, assim, a ideologia liberal da vitimação, que leva a política a renunciar a todos os projetos positivos e buscar a opção menos pior.

Trecho do livro
“Essa virada na direção do entusiasmo emancipatório só acontece quando a verdade traumática não só é aceita de maneira distanciada, como também vivida por inteiro: ‘A verdade tem de ser vivida, e não ensinada. Prepara-te para a batalha!’. Como os famosos versos de Rilke (“Pois não há lugar que não te veja. Deves mudar tua vida”), esse trecho de O jogo das contas de vidro, de Hermann Hesse, só pode parecer um estranho non sequitur: se a Coisa me olha de todos os lados, por que isso me obriga a mudar? Por que não uma experiência mística despersonalizada, em que ‘saio de mim’ e me identifico com o olhar do outro? E, do mesmo modo, se é preciso viver a verdade, por que isso envolve luta? Por que não uma experiência íntima de meditação?
Porque o estado ‘espontâneo’ da vida cotidiana é uma mentira vivida, de modo que é necessária uma luta contínua para escapar dessa mentira. O ponto de partida desse processo é nos apavorarmos com nós mesmos.

Quando analisou o atraso da Alemanha em sua obra de juventude Crítica da filosofia do direito de Hegel, Marx fez uma observação sobre o vínculo entre vergonha, terror e coragem, raramente notada, mas fundamental:
É preciso tornar a pressão efetiva ainda maior, acrescentando a ela a consciência da pressão, e tornar a ignomínia ainda mais ignominiosa, tornando-a pública. É preciso retratar cada esfera da sociedade alemã como a partie honteuse [parte vergonhosa] da sociedade alemã, forçar essas relações petrificadas a dançar, entoando a elas sua própria melodia! É preciso ensinar o povo a se aterrorizar diante de si mesmo, a fim de nele incutir coragem.”

Sobre o autor
Slavoj Žižek nasceu em 1949 na cidade de Liubliana, Eslovênia. É filósofo, psicanalista e um dos principais teóricos contemporâneos. Transita por diversas áreas do conhecimento e, sob influência principalmente de Karl Marx e Jacques Lacan, efetua uma inovadora crítica cultural e política da pós-modernidade. Professor da European Graduate School e do Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana, Žižek preside a Society for Theoretical Psychoanalysis, de Liubliana, e é diretor internacional do Instituto de Humanidades da Universidade Birkbeck de Londres.
Vivendo no fim dos tempos é o seu sétimo livro traduzido pela Boitempo. Dele, a editora também publicou Bem-vindo ao deserto do Real!, em 2003, Às portas da revolução (escritos de Lenin de 1917), em 2005, A visão em paralaxe, em 2008, Lacrimae Rerum, em 2009, Em defesa das causas perdidas e Primeiro como tragédia, depois como farsa, os dois últimos em 2011.
 
Ficha técnica
Título: Vivendo no fim dos tempos
Título original: Living in the end times
Autor: Slavoj Žižek
Tradução: Maria Beatriz de Medina
Orelha: Emir Sader
Páginas: 368
Editora: Boitempo




Por Redação, com Vermelho.com - de São Paulo

O Analfabeto Político


(Berthold Brecht)


O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.

A concepção de socialismo de Antonio Candido

Por Marco Antonio L. - Do Brasil de Fato

“O socialismo é uma doutrina triunfante”

Aos 93 anos, Antonio Candido explica a sua concepção de socialismo, fala sobre literatura e revela não se interessar por novas obras
Crítico literário, professor, sociólogo, militante. Um adjetivo sozinho não consegue definir a importância de Antonio Candido para o Brasil. Considerado um dos principais intelectuais do país, ele mantém a postura socialista, a cordialidade, a elegância, o senso de humor, o otimismo. Antes de começar nossa entrevista, ele diz que viveu praticamente todo o conturbado século 20. E participou ativamente dele, escrevendo, debatendo, indo a manifestações, ajudando a dar lucidez, clareza e humanidade a toda uma geração de alunos, militantes sociais, leitores e escritores.
Tão bom de prosa como de escrita, ele fala sobre seu método de análise literária, dos livros de que gosta, da sua infância, do começo da sua militância, da televisão, do MST, da sua crença profunda no socialismo como uma doutrina triunfante. “O que se pensa que é a face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele”, afirma.

Brasil de Fato – Nos seus textos é perceptível a intenção de ser entendido. Apesar de muito erudito, sua escrita é simples. Por que esse esforço de ser sempre claro?
Antonio Candido – Acho que a clareza é um respeito pelo próximo, um respeito pelo leitor. Sempre achei, eu e alguns colegas, que, quando se trata de ciências humanas, apesar de serem chamadas de ciências, são ligadas à nossa humanidade, de maneira que não deve haver jargão científico. Posso dizer o que tenho para dizer nas humanidades com a linguagem comum. Já no estudo das ciências humanas eu preconizava isso. Qualquer atividade que não seja estritamente técnica, acho que a clareza é necessária inclusive para pode divulgar a mensagem, a mensagem deixar de ser um privilégio e se tornar um bem comum.

Brasil de Fato – O seu método de análise da literatura parte da cultura para a realidade social e volta para a cultura e para o texto. Como o senhor explicaria esse método?
Antonio Candido – Uma coisa que sempre me preocupou muito é que os teóricos da literatura dizem: é preciso fazer isso, mas não fazem. Tenho muita influência marxista – não me considero marxista – mas tenho muita influência marxista na minha formação e também muita influência da chamada escola sociológica francesa, que geralmente era formada por socialistas. Parti do seguinte princípio: quero aproveitar meu conhecimento sociológico para ver como isso poderia contribuir para conhecer o íntimo de uma obra literária. No começo eu era um pouco sectário, politizava um pouco demais minha atividade. Depois entrei em contato com um movimento literário norte-americano, a nova crítica, conhecido como new criticism. E aí foi um ovo de colombo: a obra de arte pode depender do que for, da personalidade do autor, da classe social dele, da situação econômica, do momento histórico, mas quando ela é realizada, ela é ela. Ela tem sua própria individualidade. Então a primeira coisa que é preciso fazer é estudar a própria obra. Isso ficou na minha cabeça. Mas eu também não queria abrir mão, dada a minha formação, do social. Importante então é o seguinte: reconhecer que a obra é autônoma, mas que foi formada por coisas que vieram de fora dela, por influências da sociedade, da ideologia do tempo, do autor. Não é dizer: a sociedade é assim, portanto a obra é assim. O importante é: quais são os elementos da realidade social que se transformaram em estrutura estética. Me dediquei muito a isso, tenho um livro chamado “Literatura e sociedade” que analisa isso. Fiz um esforço grande para respeitar a realidade estética da obra e sua ligação com a realidade. Há certas obras em que não faz sentido pesquisar o vínculo social porque ela é pura estrutura verbal. Há outras em que o social é tão presente – como “O cortiço” [de Aluísio Azevedo] – que é impossível analisar a obra se m a carga social. Depois de mais maduro minha conclusão foi muito óbvia: o crítico tem que proceder conforme a natureza de cada obra que ele analisa. Há obras que pedem um método psicológico, eu uso; outras pedem estudo do vocabulário, a classe social do autor; uso. Talvez eu seja aquilo que os marxistas xingam muito que é ser eclético. Talvez eu seja um pouco eclético, confesso. Isso me permite tratar de um número muito variado de obras.

Brasil de Fato – Teria um tipo de abordagem estética que seria melhor?
Antonio Candido – Não privilegio. Já privilegiei. Primeiro o social, cheguei a privilegiar mesmo o político. Quando eu era um jovem crítico eu queria que meus artigos demonstrassem que era um socialista escrevendo com posição crítica frente à sociedade. Depois vi que havia poemas, por exemplo, em que não podia fazer isso. Então passei a outra fase em que passei a priorizar a autonomia da obra, os valores estéticos. Depois vi que depende da obra. Mas tenho muito interesse pelo estudo das obras que permitem uma abordagem ao mesmo tempo interna e externa. A minha fórmula é a seguinte: estou interessado em saber como o externo se transformou em interno, como aquilo que é carne de vaca vira croquete. O croquete não é vaca, mas sem a vaca o croquete não existe. Mas o croquete não tem nada a ver com a vaca, só a carne. Mas o externo se transformou em algo que é interno. Aí tenho que estudar o croquete, dizer de onde ele veio.

Brasil de Fato – O que é mais importante ler na literatura brasileira?
Antonio Candido – Machado de Assis. Ele é um escritor completo.
Brasil de Fato – É o que senhor mais gosta?
Antonio Candido – Não, mas acho que é o que mais se aproveita.

Brasil de Fato – E de qual o senhor mais gosta?
Antonio Candido – Gosto muito do Eça de Queiroz, muitos estrangeiros. De brasileiros, gosto muito de Graciliano Ramos… Acho que já li “São Bernardo” umas 20 vezes, com mentira e tudo. Leio o Graciliano muito, sempre. Mas Machado de Assis é um autor extraordinário. Comecei a ler com 9 anos livros de adulto. E ninguém sabia quem era Machado de Assis, só o Brasil e, mesmo assim, nem todo mundo. Mas hoje ele está ficando um autor universal. Ele tinha a prova do grande escritor. Quando se escreve um livro, ele é traduzido, e uma crítica fala que a tradução estragou a obra, é porque não era uma grande obra. Machado de Assis, mesmo mal traduzido, continua grande. A prova de um bom escritor é que mesmo mal traduzido ele é grande. Se dizem: “a tradução matou a obra”, então a obra era boa, mas não era grande.

Brasil de Fato – Como levar a grande literatura para quem não está habituado com a leitura?
Antonio Candido – É perfeitamente possível, sobretudo Machado de Assis. A Maria Vitória Benevides me contou de uma pesquisa que foi feita na Itália há uns 30 anos. Aqueles magnatas italianos, com uma visão já avançada do capitalismo, decidiram diminuir as horas de trabalho para que os trabalhadores pudessem ter cursos, se dedicar à cultura. Então perguntaram: cursos de que vocês querem? Pensaram que iam pedir cursos técnicos, e eles pediram curso de italiano para poder ler bem os clássicos. “A divina comédia” é um livro com 100 cantos, cada canto com dezenas de estrofes. Na Itália, não sou capaz de repetir direito, mas algo como 200 mil pessoas sabem a primeira parte inteira, 50 mil sabem a segunda, e de 3 a 4 mil pessoas sabem o livro inteiro de cor. Quer dizer, o povo tem direito à literatura e entende a literatura. O doutor Agostinho da Silva, um escritor português anarquista que ficou muito tempo no Brasil, explicava para os op erários os diálogos de Platão, e eles adoravam. Tem que saber explicar, usar a linguagem normal.

Brasil de Fato – O senhor acha que o brasileiro gosta de ler?
Antonio Candido – Não sei. O Brasil pra mim é um mistério. Tem editora para toda parte, tem livro para todo lado. Vi uma reportagem que dizia que a cidade de Buenos Aires tem mais livrarias que em todo o Brasil. Lê-se muito pouco no Brasil. Parece que o povo que lê mais é o finlandês, que lê 30 volumes por ano. Agora dizem que o livro vai acabar, né?

Brasil de Fato – O senhor acha que vai?
Antonio Candido – Não sei. Eu não tenho nem computador… as pessoas me perguntam: qual é o seu… como chama?

Brasil de Fato – E-mail?
Antonio Candido – Isso! Olha, eu parei no telefone e máquina de escrever. Não entendo dessas coisas… Estou afastado de todas as novidades há cerca de 30 anos. Não me interesso por literatura atual. Sou um velho caturra. Já doei quase toda minha biblioteca, 14 ou 15 mil volumes. O que tem aqui é livro para visita ver. Mas pretendo dar tudo. Não vendo livro, eu dou. Sempre fiz escola pública, inclusive universidade pública, então é o que posso dar para devolver um pouco. Tenho impressão que a literatura brasileira está fraca, mas isso todo velho acha. Meus antigos alunos que me visitam muito dizem que está fraca no Brasil, na Inglaterra, na França, na Rússia, nos Estados Unidos… que a literatura está por baixo hoje em dia. Mas eu não me interesso por novidades.

Brasil de Fato – E o que o senhor lê hoje em dia?
Antonio Candido – Eu releio. História, um pouco de política… mesmo meus livros de socialismo eu dei tudo. Agora estou querendo reler alguns mestres socialistas, sobretudo Eduard Bernstein, aquele que os comunistas tinham ódio. Ele era marxista, mas dizia que o marxismo tem um defeito, achar que a gente pode chegar no paraíso terrestre. Então ele partiu da ideia do filósofo Immanuel Kant da finalidade sem fim. O socialismo é uma finalidade sem fim. Você tem que agir todos os dias como se fosse possível chegar no paraíso, mas você não chegará. Mas se não fizer essa luta, você cai no inferno.

Brasil de Fato – O senhor é socialista?
Antonio Candido – Ah, claro, inteiramente. Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. E não é paradoxo. O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo… tudo isso. Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabal hadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais. Conversando com um antigo aluno meu, que é um rapaz rico, industrial, ele disse: “o senhor não pode negar que o capitalismo tem uma face humana”. O capitalismo não tem face humana nenhuma. O capitalismo é baseado na mais-valia e no exército de reserva, como Marx definiu. É preciso ter sempre miseráveis para tirar o excesso que o capital precisar. E a mais-valia não tem limite. Marx diz na “Ideologia Alemã”: as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias… tudo é conquista do socialismo. O socialismo só não deu certo na Rússia.

Brasil de Fato – Por quê?
Antonio Candido – Virou capitalismo. A revolução russa serviu para formar o capitalismo. O socialismo deu certo onde não foi ao poder. O socialismo hoje está infiltrado em todo lugar.

Brasil de Fato – O socialismo como luta dos trabalhadores?
Antonio Candido – O socialismo como caminho para a igualdade. Não é a luta, é por causa da luta. O grau de igualdade de hoje foi obtido pelas lutas do socialismo. Portanto ele é uma doutrina triunfante. Os países que passaram pela etapa das revoluções burguesas têm o nível de vida do trabalhador que o socialismo lutou para ter, o que quer. Não vou dizer que países como França e Alemanha são socialistas, mas têm um nível de vida melhor para o trabalhador.

Brasil de Fato – Para o senhor é possível o socialismo existir triunfando sobre o capitalismo?
Antonio Candido – Estou pensando mais na técnica de esponja. Se daqui a 50 anos no Brasil não houver diferença maior que dez do maior ao menor salário, se todos tiverem escola… não importa que seja com a monarquia, pode ser o regime com o nome que for, não precisa ser o socialismo! Digo que o socialismo é uma doutrina triunfante porque suas reivindicações estão sendo cada vez mais adotadas. Não tenho cabeça teórica, não sei como resolver essa questão: o socialismo foi extraordinário para pensar a distribuição econômica, mas não foi tão eficiente para efetivamente fazer a produção. O capitalismo foi mais eficiente, porque tem o lucro. Quando se suprime o lucro, a coisa fica mais complicada. É preciso conciliar a ambição econômica – que o homem civilizado tem, assim como tem ambição de sexo, de alimentação, tem ambição de possuir bens materiais – com a igualdade. Quem pode resolver melhor essa equação é o socialism o, disso não tenho a menor dúvida. Acho que o mundo marcha para o socialismo. Não o socialismo acadêmico típico, a gente não sabe o que vai ser… o que é o socialismo? É o máximo de igualdade econômica. Por exemplo, sou um professor aposentado da Universidade de São Paulo e ganho muito bem, ganho provavelmente 50, 100 vezes mais que um trabalhador rural. Isso não pode. No dia em que, no Brasil, o trabalhador de enxada ganhar apenas 10 ou 15 vezes menos que o banqueiro, está bom, é o socialismo.

Brasil de Fato – O que o socialismo conseguiu no mundo de avanços?


Antonio Candido – O socialismo é o cavalo de Troia dentro do capitalismo. Se você tira os rótulos e vê as realidades, vê como o socialismo humanizou o mundo. Em Cuba eu vi o socialismo mais próximo do socialismo. Cuba é uma coisa formidável, o mais próximo da justiça social. Não a Rússia, a China, o Camboja. No comunismo tem muito fanatismo, enquanto o socialismo democrático é moderado, é humano. E não há verdade final fora da moderação, isso Aristóteles já dizia, a verdade está no meio. Quando eu era militante do PT – deixei de ser militante em 2002, quando o Lula foi eleito – era da ala do Lula, da Articulação, mas só votava nos candidatos da extrema esquerda, para cutucar o centro. É preciso ter esquerda e direita para formar a média. Estou convencido disso: o socialismo é a grande visão do homem, que não foi ainda superada, de tratar o homem realmente como ser humano. Podem dizer: a religião faz isso. Mas faz isso p ara o que são adeptos dela, o socialismo faz isso para todos. O socialismo funciona como esponja: hoje o capitalismo está embebido de socialismo. No tempo que meu irmão Roberto – que era católico de esquerda – começou a trabalhar, eu era moço, ele era tido como comunista, por dizer que no Brasil tinha miséria. Dizer isso era ser comunista, não estou falando em metáforas. Hoje, a Federação das Indústrias, Paulo Maluf, eles dizem que a miséria é intolerável. O socialismo está andando… não com o nome, mas aquilo que o socialismo quer, a igualdade, está andando. Não aquela igualdade que alguns socialistas e os anarquistas pregavam, igualdade absoluta é impossível. Os homens são muito diferentes, há uma certa justiça em remunerar mais aquele que serve mais à comunidade. Mas a desigualdade tem que ser mínima, não máxima. Sou muito otimista. (pausa). O Brasil é um país pobre, mas há uma certa tendência igualitária no brasileiro – apesar da e scravidão – e isso é bom. Tive uma sorte muito grande, fui criado numa cidade pequena, em Minas Gerais, não tinha nem 5 mil habitantes quando eu morava lá. Numa cidade assim, todo mundo é parente. Meu bisavô era proprietário de terras, mas a terra foi sendo dividida entre os filhos… então na minha cidade o barbeiro era meu parente, o chofer de praça era meu parente, até uma prostituta, que foi uma moça deflorada expulsa de casa, era minha prima. Então me acostumei a ser igual a todo mundo. Fui criado com os antigos escravos do meu avô. Quando eu tinha 10 anos de idade, toda pessoa com mais de 40 anos tinha sido escrava. Conheci inclusive uma escrava, tia Vitória, que liderou uma rebelião contra o senhor. Não tenho senso de desigualdade social. Digo sempre, tenho temperamento conservador. Tenho temperamento conservador, atitudes liberais e ideias socialistas. Minha grande sorte foi não ter nascido em família nem importante nem rica, senão ia ser um reac ionário. (risos).

Brasil de Fato – A Teresina, que inspirou um livro com seu nome, o senhor conheceu depois?
Antonio Candido – Conheci em Poços de Caldas… essa era uma mulher extraordinária, uma anarquista, maior amiga da minha mãe. Tenho um livrinho sobre ela. Uma mulher formidável. Mas eu me politizei muito tarde, com 23, 24 anos de idade com o Paulo Emílio. Ele dizia: “é melhor ser fascista do que não ter ideologia”. Ele que me levou para a militância. Ele dizia com razão: cada geração tem o seu dever. O nosso dever era político.

Brasil de Fato – E o dever da atual geração?
Antonio Candido – Ter saudade. Vocês pegaram um rabo de foguete danado.

Brasil de Fato – No seu livro “Os parceiros do Rio Bonito” o senhor diz que é importante defender a reforma agrária não apenas por motivos econômicos, mas culturalmente. O que o senhor acha disso hoje?
Antonio Candido – Isso é uma coisa muito bonita do MST. No movimento das Ligas Camponesas não havia essa preocupação cultural, era mais econômica. Acho bonito isso que o MST faz: formar em curso superior quem trabalha na enxada. Essa preocupação cultural do MST já é um avanço extraordinário no caminho do socialismo. É preciso cultura. Não é só o livro, é conhecimento, informação, notícia… Minha tese de doutorado em ciências sociais foi sobre o camponês pobre de São Paulo – aquele que precisa arrendar terra, o parceiro. Em 1948, estava fazendo minha pesquisa num bairro rural de Bofete e tinha um informante muito bom, Nhô Samuel Antônio de Camargos. Ele dizia que tinha mais de 90 anos, mas não sabia quantos. Um dia ele me perguntou: “ô seu Antonio, o imperador vai indo bem? Não é mais aquele de barba branca, né?”. Eu disse pra ele: “não, agora é outro chamado Eurico Gaspar Dutra”. Quer dizer, ele está fora da cultura, para ele o imperador existe. Ele não sabe ler, não sabe escrever, não lê jornal. A humanização moderna depende da comunicação em grande parte. No dia em que o trabalhador tem o rádio em casa ele é outra pessoa. O problema é que os meios modernos de comunicação são muito venenosos. A televisão é uma praga. Eu adoro, hein? Moro sozinho, sozinho, sou viúvo e assisto televisão. Mas é uma praga. A coisa mais pérfida do capitalismo – por causa da necessidade cumulativa irreversível – é a sociedade de consumo. Marx não conheceu, não sei como ele veria. A televisão faz um inculcamento sublimar de dez em dez minutos, na cabeça de todos – na sua, na minha, do Sílvio Santos, do dono do Bradesco, do pobre diabo que não tem o que comer – imagens de whisky, automóvel, casa, roupa, viagem à Europa – cria necessidades. E claro que não dá condições para concretizá-las. A sociedade de consumo está criando necessidades artificiais e está levando os que não têm ao desespero, à droga, miséria… Esse desejo da coisa nova é uma coisa poderosa. O capitalismo descobriu isso graças ao Henry Ford. O Ford tirou o automóvel da granfinagem e fez carro popular, vendia a 500 dólares. Estados Unidos inteiro começou a comprar automóvel, e o Ford foi ficando milionário. De repente o carro não vendia mais. Ele ficou desesperado, chamou os economistas, que estudaram e disseram: “mas é claro que não vende, o carro não acaba”. O produto industrial não pode ser eterno. O produto artesanal é feito para durar, mas o industrial não, ele tem que ser feito para acabar, essa é coisa mais diabólica do capitalismo. E o Ford entendeu isso, passou a mudar o modelo do carro a cada ano. Em um regime que fosse mais socialista seria preciso encontrar uma maneira de não falir as empresas, mas tornar os produtos duráveis, acabar com essa loucura da renovação. Hoje um automóvel é feito para acabar, a moda é feita par a mudar. Essa ideia tem como miragem o lucro infinito. Enquanto a verdadeira miragem não é a do lucro infinito, é do bem-estar infinito.

Antonio Candido de Mello e Souza nasceu no Rio de Janeiro em 24 de julho de 1918, concluiu seus estudos secundários em Poços de Caldas (MG) e ingressou na recém-fundada Universidade de São Paulo em 1937, no curso de Ciências Sociais. Com os amigos Paulo Emílio Salles Gomes, Décio de Almeida Prado e outros fundou a revista Clima. Com Gilda de Mello e Souza, colega de revista e do intenso ambiente de debates sobre a cultura, foi casado por 60 anos. Defendeu sua tese de doutorado, publicada depois como o livro “Os Parceiros do Rio Bonito”, em 1954. De 1958 a 1960 foi professor de literatura na Faculdade de Filosofia de Assis. Em 1961, passou a dar aulas de teoria literária e literatura comparada na USP, onde foi professor e orientou trabalhos até se aposentar, em 1992. Na década de 1940, militou no Partido Socialista Brasileiro, fazendo oposição à ditadura Vargas. Em 1980, foi um dos fundadores do Partid o dos Trabalhadores. Colaborou nos jornais Folha da Manhã e Diário de São Paulo, resenhando obras literárias. É autor de inúmeros livros, atualmente reeditados pela editora Ouro sobre Azul, coordenada por sua filha, Ana Luisa Escorel.