terça-feira, 28 de junho de 2011

UNESCO publica estudo sobre regulação da radiodifusão no Brasil e Globo ameaça romper contrato

O estudo sobre a regulamentação da radiodifusão no Brasil é de autoria de Toby Mendel e Eve Salomon.




O estudo concluiu o óbvio: a mídia brasileira é dominada por 35 grupos, que controlam 516 empresas; uma única rede detém 51,9% da audiência nacional. 

A média de TVs ligadas entre as 7 da manha e a meia-noite atinge 45% da população brasileira, um dos maiores índices do mundo. Os dados foram citados por Comparato em sua palestra.

Segundo ele, depois da publicação do estudo a TV Globo disse aos autores, Toby Mendel e Eve Salomon, que poderia romper o vínculo entre a emissora e o programa Criança Esperança.


Embora a concentração da mídia seja fartamente conhecida no Brasil, o documento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, reforça a credibilidade internacional dos que lutam por um novo marco regulatório da comunicação no país. 

Junho de 2011.


Confira o estudo aqui:


Inconformismo e Criatividade

O capitalismo necessita de adversários que atuem como corretivos da sua tendência para a irracionalidade e para a auto-destruição, a qual lhe advém da pulsão para funcionalizar ou destruir tudo o que pode interpor-se no seu inexorável caminho para a acumulação infinita de riqueza, por mais anti-sociais e injustas que sejam as consequências.


Por Boaventura de Sousa Santos

É hoje consensual que o capitalismo necessita de adversários credíveis que atuem como corretivos da sua tendência para a irracionalidade e para a auto-destruição, a qual lhe advém da pulsão para funcionalizar ou destruir tudo o que pode interpor-se no seu inexorável caminho para a acumulação infinita de riqueza, por mais anti-sociais e injustas que sejam as consequências. Durante o século XX esse corretivo foi a ameaça do comunismo e foi a partir dela que, na Europa, se construiu a social-democracia (o modelo social europeu e o direito laboral). Extinta essa ameaça, não foi até hoje possível construir outro adversário credível a
nível global.

Nos últimos trinta anos, o FMI, o Banco Mundial, as agências de rating e a desregulação dos mercados financeiros têm sido as manifestações mais agressivas da pulsão irracional do capitalismo. Têm surgido adversários credíveis a nível nacional (muitos países da América
Lat ina) e, sempre que isso ocorre, o capitalismo recua, retoma alguma racionalidade e reorienta a sua pulsão irracional para outros espaços. Na Europa, a social-democracia começou a ruir no dia em que caiu o Muro de Berlim. Como não foi até agora possível reinventá-la, o FMI intervém hoje na Europa como em casa própria.

Poderá surgir em Portugal algum adversário credível capaz de impedir que o país seja levado à bancarrota pela irracionalidade das agências de rating apostadas em produzir a realidade que serve os interesses dos especuladores financeiros que as controlam com o objetivo de pilhar a nossa riqueza e devastar as bases da coesão social? É possível imaginar duas vias por onde pode surgir um tal adversário. 

A primeira é a via institucional: líderes democraticamente eleitos reúnem o consenso das classes populares (contra os media conservadores e os economistas encartados) para praticar um ato de desobediência civil contra os credores e o FMI, aguentam a turbulência criada e relançam a economia do país com maior inclusão social. Foi isto que fez Nestor Kirchner, Presidente da Argentina, em 2003. Recusou-se a aceitar as condições de austeridade impostas pelo FMI, dispôs-se a pagar aos credores apenas um terço da dívida nominal, obteve um financiamento de três bilhões de dólares da Venezuela e lançou o país num processo de crescimento anual de 8% até 2008. Foi considerado um pária pelo FMI e seus agentes. Quando morreu, em 2010, o mesmo FMI, com inaudita hipocrisia, elogiou-o pela coragem com que assumira os interesses do país e relançara a economia.

Em Portugal, um país integrado na UE e com líderes treinados na ortodoxia neoliberal, não é crível que o adversário credível possa surgir por via institucional. O corretivo terá de ser europeu e Portugal perdeu a esperança de esperar por ele no momento em que o PSD, de maneira irresponsável , pôs os interesses partidários acima dos interesses do país.

A segunda via é extra-institucional e consiste na rebelião dos cidadãos inconformados com o sequestro da democracia por parte dos mercados financeiros e com a queda na miséria de quem já é pobre e na pobreza de quem era remediado. A rebelião ocorre na rua mas visa pressionar as instituições a devolver a democracia aos cidadãos. É isto que está ocorrendo na Islândia. Inconformados com a transformação da dívida de bancos privados em dívida soberana (o que aconteceu entre nós com o escandaloso resgate do BPN), os islandeses mobilizaram-se nas ruas, exigiram uma nova Constituição para defender o país contra aventureiros financeiros e convocaram um referendo em que 93% se manifestaram contra o pagamento da dívida. 

O parlamento procurou retomar a iniciativa política, adoçando as condições de pagamento mas os cidadãos resolveram voltar a organizar novo refer endo, o qual teve lugar a 9 de Abril. Para forçar os islandeses a pagar o que não devem as agências de rating estão a usar contra eles as mesmas técnicas de terror que usam contra os portugueses. No nosso caso é um terror preventivo dado que os portugueses ainda não se revoltaram. Alguma vez o farão?

*Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

domingo, 19 de junho de 2011

Campanha em Defesa da Profissão de Jornalista



Após quase dois anos da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que extinguiu a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo, a imprensa pouco tem falado do assunto. “A volta do diploma não é de interesse da imprensa, não é interesse jornalístico. Os jornalistas cobrem tudo, mas não falam da situação deles”, critica o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), autor da PEC 386/09, que pede a volta da exigência da graduação específica em jornalismo.

De acordo com o parlamentar, a proposta só foi aprovada em todas as Comissões da Câmara pelo barulho nas redes sociais, nas faculdades de jornalismo e pelo trabalho nas bases políticas.

O deputado também critica a postura dos jornalistas e veículos de comunicação que não se sentem parte da questão. “O jornalista que está no mercado acredita que não é um problema para ele e existe a pressão das empresas também. O pano de fundo por trás de tudo isso é a questão da força econômica. Os grandes grupos de comunicação - que cada vez mais diversificam suas atividades, abrem seus capitais - a informação é uma mercadoria como qualquer outra, igual ao cara que vende laranja, vendo atum, vende feijão. Eles vendem informação”.

Pimenta acredita que nesses quase dois anos da queda do diploma, que serão completados nesta sexta-feira (17/6), muitas questões devem ser respondidas. “Aumentou a liberdade de expressão?, o sigilo da fonte será para todos? E como ficará o credenciamento dos jornalistas na Copa e Olimpíadas aqui no Brasil, já que todos podem ser jornalistas?”, questiona.

A expectativa do deputado é que a PEC possa ser votada até o final deste ano, trazendo novamente a exigência do diploma para o exercício da profissão. Outra PEC, a 33/09, de autoria do senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), aguarda para ser votada no Senado.



*Colaboraram Anderson Scardoelli, Silvana Chaves, Cibele Ramos

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Senado renova concessões de rádios de políticos


15/06/2011 |
                                                              
Ana Rita Cunha
Observatório do Direito à Comunicação
Na reunião da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) realizada nesta quarta-feira (15), os senadores aprovaram por unanimidade a renovação das concessões de radiodifusão de empresas do senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA) e do deputado federal José Rocha (PR-BA).
O senador Lobão Filho, segundo dados do Ministério das Comunicações (Minicom), é um dos sócios da Rádio e TV Difusora do Maranhão. A empresa ganhou o direito de explorar por mais 10 anos os serviços de rádio em ondas médias em São Luís do Maranhão. Além disso, o parlamentar, que está afastado do Congresso por licença médica, é membro da CCT. Ele é filho de Edison Lobão, ministro de Minas e Energia desde 2008 e ex-governador do Maranhão.
O caso do deputado federal José Rocha é um pouco diferente. Segundo os dados do Minicom, a esposa do parlamentar Noelma Rocha é que é sócia da Rio São Francisco Radiodifusora. A empresa teve a concessão dos serviços de rádio em ondas médias em Bom Jesus da Lapa (BA) renovados também por mais 10 anos.

A Constituição não impede parentes e cônjuges de políticos de serem concessionários. O artigo 54 da Carta Magna proíbe, entretanto, que os próprios parlamentares sejam proprietários de empresas concessionárias de serviço público. O texto constitucional diz que deputados e senadores não poderão, desde a expedição do diploma, “firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes”. A quem desrespeitar a lei, a Constituição prevê perda do mandato.
Desrespeito
Segundo dados da ONG Transparência Brasil, no entanto, 21% dos senadores e 10% dos deputados federais são concessionários de rádio e TV, isso sem contar aqueles que têm empresas em nome de familiares ou laranjas. Uma lista com os nomes dos proprietários e sócios de emissoras foi recém disponibilizada no site do Ministério das Comunicações.
Além da driblar a legislação colocando laranjas na direção de suas empresas, vários parlamentares se valem de interpretações divergentes do Legislativo e da Justiça sobre o texto consitucional para controlar emissoras. Esse entendimento pode estar a caminho de uma resolução. Em 2009, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal aprovou uma resolução afirmando o caráter ilícito de parlamentares figurarem como diretores, proprietários ou controladores de empresas que explorem serviços de radiodifusão.
Além disso, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, tem afirmado ser contra a prática e que pretende propor alguma alteração na lei que colabore com isso no projeto de revisão do marco legal que está construindo. “Só não mandaremos se dentro do governo chegarmos a conclusão que não deve mandar. Mas não sou ingênuo de achar que não vai ter reação”, disse ele em entrevista a Carta Maior, publicada segunda-feira (13).
O Senado no mês passado alterou algumas regras de aprovação de concessões na CCT. As mudanças que começaram a valer a partir da reunião desta quarta incluem apenas o impedimento que um senador seja relator de uma concessão do seu próprio estado.

Sociedade civil organizada barrada de se pronunciar em audiência pública



"É o direito dos telespectadores e ouvintes, não o direito dos radiodifusores, que é soberano."
Byron White
Juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos



A sociedade civil organizada foi barrada de se pronunciar no evento público, hoje, em que cinco comissões do Senado - de Ciência e Tecnologia (CCT), de Constituição e Justiça (CCJ), de Educação, Cultura e Esporte (CE), de Assuntos Econômicos (CAE) e de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) -, discutiram conjuntamente, em audiência no Congresso, o Projeto de Lei Complementar 116/2010, que trata da entrada das empresas de Telecomunicações no mercado de TV por assinatura no Brasil. 

O espaço para manifestação na audiência pública do PLC 116 foi aberto apenas aos representantes das empresas de radiodifusão, de telecomunicações e entidades ligadas ao Estado. 

Inscrito para participar do debate público, o Fórum Nacional pela Democratização (FNDC) enviou representante ao Senado no dia de hoje, mas teve negado o direito à fala. A assessoria do Senador Eduardo Braga, presidente da CCT e da mesa de debates, alegou que não houve quorum suficiente para aprovar o requerimento de participação do FNDC à mesa. 

Ao mesmo tempo, porém, foram aceitas, de última hora, outras três representações ligadas à Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) para se pronunciar nesta audiência. 

Representantes legítimos de uma parcela da sociedade civil organizada em torno da democratização da comunicação - que inclui jornalistas, centrais de trabalhadores, artistas, radialistas, psicólogos, comunicadores comunitários, entre as mais de 100 entidades associadas -, ficam, assim, impedidos de manifestar sua percepção sobre o projeto que coloca em jogo, mais do que interesses econômicos, a possibilidade do povo brasileiro continuar ou não tendo acesso à programação gratuita das TVs. 

Se manifestaram, nesta audiência (no Auditório Antônio Carlos Magalhães – Av. N2, Anexo E, em Brasília), as entidades: Agência Nacional do Cinema (Ancine), Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra), Home Box Office (HBO), Associação Brasileira de Programadores de Televisão por Assinatura (ABPTA), Associação Brasileira das Produtoras Independentes de Televisão (ABPI-TV), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil). 

O FNDC, entidade que luta pela democratização da comunicação há mais de duas décadas, reconhecido pela sua seriedade, formulação e vocação para o diálogo, detentor de reconhecido histórico de dedicação às questões públicas, protesta veementemente pela sua exclusão neste debate, estranhando o comportamento dos parlamentares, e exige uma explicação pública sobre o veto que lhe foi imposto. 


Brasília, 16 de junho de 2011. 

Coordenação Executiva FNDC: 

ABRAÇO - Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária 
ANEATE - Associação Nacional das Entidades de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões 
CFP - Conselho Federal de Psicologia 
CUT - Central Única dos Trabalhadores 
FENAJ - Federação Nacional dos Jornalistas 
FITERT - Federação Interestadual dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão

BRASIL: Senadores não poderão mais relatar processos de concessão de rádio e TV de seus estados



A partir da próxima reunião da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), nenhuma nova proposta de outorga e renovação de concessão, permissão e autorização para funcionamento de rádio ou TV terá como relator senador do mesmo estado em que será feita a prestação do serviço. 

A determinação está prevista em ato aprovado nesta quarta-feira (1º) em reunião da CCT. Segundo o presidente da comissão e autor do Ato 1/2011, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), a intenção é assegurar imparcialidade e impessoalidade dos julgamentos.

- Existem casos registrados nesta Casa e também na Câmara de como uma animosidade ou amizade política pode influenciar para que esses processos acelerem ou retardem - explicou Braga. 

Em seu parecer favorável à aprovação do Ato, o senador Pedro Taques (PDT-MT) observou que, embora simples, trata-se de uma medida de "suma importância", principalmente porque os meios de comunicação têm sido usados, muitas vezes, como instrumentos de "coação e chantagem". 

- Existem casos de utilização desses veículos inclusive pelo crime organizado, para lavagem de dinheiro. Temos que estar atentos para o fato de que são serviços públicos, portanto, não se trata de uma atividade econômica qualquer - alertou Pedro Taques, ex-procurador da República. 

Ângela Portela (PT-RR) observou que a aprovação do ato é importante para aprimorar a legislação sobre o assunto e evitar "qualquer desvirtuamento de concessão nesta comissão". 

Para Walter Pinheiro (PT-BA), a decisão tomada pela CCT nesta quarta-feira é mais um passo para evitar que um senador possa, em seu relatório, "fazer qualquer tipo de marcação" a um adversário político. 

Flexa Ribeiro (PSDB-PA) votou pela aprovação do ato, mas afirmou não acreditar que a proibição de um senador de relatar outorga para seu estado vá contribuir para que haja maior transparência nas concessões de rádio e TV. 

- Só mudar o relator não vai atingir o objetivo proposto. Temos sim é que aprofundar a discussão em relação ao disciplinamento dos procedimentos de outorga. Atualmente, tudo isso é feito lá no Ministério das Comunicações, e nós, aqui, apenas confirmamos o que vem de lá - observou Flexa Ribeiro. 

Segundo a Secretaria da CCT, a determinação vale apenas para os novos processos distribuídos. Os que já foram entregues aos senadores, mesmo que sejam do mesmo estado das concessões, não serão redistribuídos. 

Decreto
Ao iniciar a reunião desta quarta, Eduardo Braga relatou aos membros da CCT que recebeu na terça-feira (31), do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, uma minuta de proposta de modificação do Decreto (52.795/63) que regulamenta os serviços de radiodifusão, para tornar mais rigorosos os processos de concessão de rádio e TV. 

Segundo Eduardo Braga, trata-se ainda de uma proposta informal, entregue a ele para que a CCT possa fazer sugestões sobre a matéria. Ele explicou ainda que a minuta vem ao encontro das conclusões do grupo de trabalho criado pela própria comissão para aprimorar o processo de concessão de serviços de radiodifusão no Brasil e evitar também que as empresas de rádio e TV possam ser entregues a "laranjas" (sócios falsos) ou entidades fantasmas. 

- Os senadores desta comissão têm até a próxima quarta [8] para se manifestarem sobre o assunto, para que possamos contribuir com essa proposta - explicou o presidente da CCT. 

Código Florestal
Nesta quarta, a CCT também aprovou a realização de uma audiência pública para debater as alterações propostas ao projeto de reforma do Código Florestal Brasileiro (Lei 4.771/65), tendo por referência as atribuições da comissão. 

Os convidados para o debate serão os ministros da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante; do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Wagner Rossi. Também serão chamados o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Marco Antonio Raupp, e o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis Junior. 

Radiodifusão
Também foram aprovados nesta quarta-feira 22 projetos de decreto legislativo de autorização para exploração de serviço de radiodifusão comunitária em diversas cidades brasileiras. 

Fonte: Agência Senado

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O capitalismo não quer assumir responsabilidades’, alerta István Mészáros

Por Paulo Pastor Monteiro para o “Opera Mundi
O teórico húngaro, aos 81 anos, em São Paulo.
Quando Rosa Luxemburgo escreveu a frase “Socialismo ou Barbárie” (no ensaio The Junius Pamphlet, 1916) para apontar as escolhas que os países tinham, ela se referia à segunda opção como um produto natural do capitalismo. “Se ela escrevesse essa frase hoje, o título deveria ser: ‘Barbárie… se tivermos sorte’”.
A tirada irônica foi feita pelo professor e teórico marxista, István Mészáros, em uma palestra que fez parte do lançamento de dois livros: István Mészáros e os desafios do tempo histórico (Organizações Ivana Jinkings e Rodrigo Nobile) e o segundo volume de Estrutura Social e Formas de Consciência, do próprio Mészáros. Além do número 16 da revista Margem Esquerda, da editora Boitempo. O evento ocorreu na quarta-feira (08/06) no teatro TUCA, em São Paulo.
Durante a palestra, Mészáros criticou a ideia do capitalismo como um sistema eficiente para a humanidade. “O capitalismo é tido como a melhor opção. Então porque, mesmo em tempos de superprodução, ainda há pessoas que se revoltem contra a fome?” questiona o professor.
Ele explica que, atualmente, a sociedade global funciona de acordo com três pilares: o capital (que tem o capitalismo como subsistema), o Estado e o Trabalho. “Para haver mudanças efetivas, precisamos substituir essas bases e não consertá-las”, explica.
O capitalismo criou uma lógica de funcionamento na qual ninguém assume a responsabilidade pelos problemas que ele cria, afirma. “O sistema que estamos operando toma decisões e nenhum personagem assume a responsabilidade por elas, como se ninguém pudesse ser responsabilizado”, aponta o professor
Crise de 29: um ‘chá da tarde’
Ele conta que, nos últimos meses de 1967, conversava com um amigo e ouviu dele que o capitalismo finalmente tinha se organizado e estava funcionando de uma maneira mais justa e menos desequilibrada.
“A minha resposta foi que a crise de 1929 era é um “chá da tarde com biscoitos” comparada às próximas crises. Logo alguns meses depois da nossa conversa, deram-se os acontecimentos de maio de 1968. Vocês se lembram o que aconteceu em maio de 68, não lembram?”, brinca o professor.
Ao falar sobre a atual crise econômica, Mészáros argumenta que esta não é uma das crises cíclicas que ocorrem a cada sete ou dez anos como as outras, mas uma profunda crise na estrutura do capitalismo.
De acordo com sua análise, ainda não há sinais de uma recuperação da economia mundial. As chamadas “ondas ascendentes” – termo usado para definir períodos de recuperação econômica – ainda não vieram. Apesar de alguns países aparentemente demonstrarem alguma reação, ninguém apresentou uma solução estrutural, via capitalismo, para os problemas mundiais.
A guerra como saída
Mészáros cita o general alemão Carl von Clausewitz que, em seu livro Da guerra (Vom Kriege, no original), fez a seguinte pergunta: “O que é a guerra?”. E cuja resposta era: “É a continuação da política por outros meios”.
Para o teórico marxista, o capitalismo usa a guerra, que é um “mecanismo anacrônico”, para tentar solucionar os seus problemas mais imediatos. Ele lembra o ex-presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower, o qual alertou que capitalismo estava excessivamente atrelado ao complexo da indústria militar.
“As guerras espalhadas ao redor do mundo não estão resolvendo os problemas do capitalismo. Por isso, é possível ver que está sendo preparado o cenário de uma Terceira Guerra Mundial. Alguns militares norte-americanos já começam a argumentar que é legítimo usar armamento nuclear contra qualquer país”, observa.
Consciência mundial
Para Mészáros, a saída para a “crise estrutural” passa necessariamente por uma tomada de consciência mundial. “É preciso uma ação global unificada, com uma visão estratégia de fundo político, para que sejamos capazes de encontrar uma solução para essa crise estrutural”.
As pessoas não podem somente esperar algo dos partidos e achar que estão fazendo política “quando colocam o papel em uma urna”. O teórico aponta que os trabalhadores e grupos críticos do capitalismo precisam, em escala global, desenvolver e propor ações interligadas que façam frente ao capital. “Não é fácil apontar uma resposta para um problema deste nível. Por isso, é preciso que as pessoas busquem em parceria uma solução”.
Ele também critica a atuação dos partidos de esquerda na Europa os quais, ao longo do tempo, foram mudando as suas políticas e posicionamentos aderindo à social-democracia e, após isso, ao neoliberalismo. “O antigo partido comunista italiano, que se autodenominava democratas de esquerda, retiraram a palavra ‘esquerda’ e se autodenominaram somente democratas”, cita o professor.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

István Mészáros no Brasil (junho de 2011)


O filósofo húngaro István Mészáros vem ao Brasil na próxima semana para apresentar a conferência “Crise estrutural necessita de mundança estrutural” em quatro cidades brasileiras (São Paulo, Salvador, Fortaleza e Rio de Janeiro). Os encontros marcam o lançamento de três novos títulos da editora: o livro-homenagemIstván Mészáros e os desafios do tempo histórico (orgs. Ivana Jinkings e Rodrigo Nobile), o segundo volume de Estrutura social e formas de consciência, de Mészáros; e o número 16 da revista Margem Esquerda, publicação semestral de ensaios marxistas, que nesta edição traz entrevista com David Harvey, artigo de Alain Badiou, entre outros. Em István Mészáros e os desafios do tempo histórico, a Boitempo Editorial presta homenagem à trajetória intelectual de um dos maiores pensadores marxistas da atualidade. A coletânea de ensaios de 22 renomados intelectuais do Brasil e do exterior sobre os escritos fundamentais do filósofo húngaro traz as reflexões que resultaram da última visita de Mészáros ao país, em 2009, quando foi tema do III Seminário Internacional Margem Esquerda.
Todos os eventos são gratuitos. 
Programação completa
08/06 | 19h30 - São Paulo (SP)
Teatro TUCA - PUC-SP
R. Monte Alegre, 1024 - CEP 05014-001, Perdizes - Tel. (11) 3670-8458
Realização: APROPUC, NEPEDH, NEHTIPO, Boitempo Editorial
Apoio: PUC-SP, TUCA
13/06 | 18h30 - Salvador (BA)
II Encontro de São Lázaro - FFCH UFBA
Para mais informações e inscrição, visite www.ffch.ufba.br
Estrada de São Lázaro, 197 - CEP 40210- 730, Federação - Tel. (71) 3283-6431
Realização: FFCH UFBA, IPS, Boitempo Editorial
16/06 | 19h - Fortaleza (CE)
Mercado dos Pinhões
Praça Visconde de Pelotas - CEP 60110-210 - Tel. (85) 3105-1569
Realização: Prefeitura de Fortaleza, Universidade Federal do Ceará, Escola Nacional Florestan Fernandes, Boitempo Editorial
20/06 | 18h - Rio de Janeiro (RJ)
Auditório 11 - UERJ (Campus Maracanã)
Rua São Francisco Xavier, 524 - CEP 20550-013, Maracanã - Tel. (21) 2334-0890
Realização: PPFH/UERJ, Flacso, LEMA-UFRJ, ADUFRJ, Boitempo Editorial
Para ver o material de divulgação, clique aqui.