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Em 8 de março de 1917, operárias russas foram às ruas em protesto contra o czar Nicolau 2º, a entrada do país na 1ª Guerra Mundial, contra a fome e os baixos salários. |
A luta de mulheres como Clara Zetkin (1857- 1933), Alexandra Kollontai (1872-1953), Rosa Luxemburgo (1871-1919) não pode ser esquecida, e nos oferece argumentos fundamentais para se pensar a condição da mulher na sociedade.
Alexandra Kollontai participou como delegada da Rússia na I Conferência Internacional de Mulheres de Stuttgart.
Em 1908 publicou “As bases sociais da questão feminina”, influenciada pelo trabalho e as análises de Clara Zetkin, analisa a luta de classes, o trabalho feminino na Rússia, e acrescenta-o com as suas teses sobre a moral sexual e a liberdade sexual.
Junto com Clara Zetkin, propôs a realização de campanhas em favor dos direitos das mulheres e do estabelecimento de um dia internacional de luta das mulheres operárias.
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Clara Josephine Zetkin, professora, incansável na luta contra a guerra e o fascismo. Fundou e dirigiu a revista "Igualdade" que durou 16 anos. (1891 - 1907) |
Clara Zetkin, militava junto ao movimento operário e se dedicava à conscientização feminina. Em 1910, durante a II Conferência Internacional da Mulher Socialista, propôs um dia internacional dedicado à reivindicação dos direitos das mulheres, ainda não havia um dia definido, mas havia a intenção de unificar uma data para celebrar a luta internacional pelos objetivos comuns.
Rozalia
Luksenburg, Rosa Luxemburgo, uma
revolucionária de esquerda em sua terra de origem, a Polônia
ocupada pelos russos, e vanguarda dos operários alemães no país
que adotou como seu, a Alemanha. Crítica do capitalismo,
revolucionária e democrata, combateu com lucidez a políticas ditatoriais e totalitárias. Tentou impedir a primeira Guerra
Mundial (1914 – 1918) com suas posições antimilitaristas e
internacionalistas dentro do Partido Social-Democrata Alemão (SPD).
Dia de consciência política e de solidariedade internacional
A relação entre a greve na indústria têxtil de Nova York e o incêndio
Um ano antes do incêndio, de setembro de 1909 a fevereiro de 1910, aconteceu uma das maiores greves da indústria têxtil de Nova York. As trabalhadoras da Triangle Shirtwaist Company (Companhia de Blusas Triângulo) foram as primeiras a parar, produzindo o início da greve geral, conhecida como “o levante das 30 mil”– a primeira grande greve de mulheres no país, numa época em que nem mesmo o direito ao voto tinha sido conquistado.
No setor têxtil, as mulheres constituíam a maior parte da mão de obra. As condições em que trabalhavam eram deploráveis. (…) A paralisação começou no dia 27 de setembro de 1909, precisamente na Triangle Shirtwaist Company. (…)
A maioria das jovens era imigrante, tinha entre 16 a 24 anos e trabalhava em condições
desumanas. Seus salários equivaliam a um terço do recebido pelos homens, enfrentavam jornadas de trabalho de 52 horas semanais e não tinham condições mínimas de segurança.
* Taís Ferreira é jornalista profissional independente, blogueira e fotógrafa
- Durante toda a sua vida lutou pelas minorias discriminadas e perseguidas e contra os preconceitos. Obteve doutorado em 1898, numa época em que raras mulheres iam para a universidade. Foi assassinada em 15 de novembro de 1919 pelos que apoiaram abertamente a entrega do poder a Hitler.
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Rosa Luxemburgo, (1871-1919) |
Para Rosa Luxemburgo a liberdade e a democracia não eram luxo que políticos socialistas podiam doar ou recusar, mas a condição para a existência da política socialista.
“Liberdade
apenas para os partidários do governo, apenas para os membros de um
partido – por mais que sejam numerosos – não é liberdade.
Liberdade é sempre a liberdade daquele que pensa de modo diferente.
Não por fanatismo pela justiça, mas porque tudo quanto há de
vivificante, salutar, purificante na liberdade política depende
desse caráter essencial e deixa de ser eficaz quando a liberdade se
torna um privilégio”. Rosa Luxemburgo
Dia de consciência política e de solidariedade internacional
”Retomar o significado político da história do Dia Internacional das Mulheres é uma ferramenta importante contra as fogueiras materiais e simbólicas que continuam acesas" Daniela Lima
O processo de instituição de um Dia Internacional da Mulher já vinha sendo elaborado pelas socialistas americanas e européias há algum tempo, desde a proposta de Clara Zetkin, em 1910, mas foi comemorado em datas diferentes do
mês março, entre 1911 e 1914.
Um ano antes do incêndio, de setembro de 1909 a fevereiro de 1910, aconteceu uma das maiores greves da indústria têxtil de Nova York. As trabalhadoras da Triangle Shirtwaist Company (Companhia de Blusas Triângulo) foram as primeiras a parar, produzindo o início da greve geral, conhecida como “o levante das 30 mil”– a primeira grande greve de mulheres no país, numa época em que nem mesmo o direito ao voto tinha sido conquistado.
No setor têxtil, as mulheres constituíam a maior parte da mão de obra. As condições em que trabalhavam eram deploráveis. (…) A paralisação começou no dia 27 de setembro de 1909, precisamente na Triangle Shirtwaist Company. (…)
A maioria das jovens era imigrante, tinha entre 16 a 24 anos e trabalhava em condições
desumanas. Seus salários equivaliam a um terço do recebido pelos homens, enfrentavam jornadas de trabalho de 52 horas semanais e não tinham condições mínimas de segurança.
No
incêndio de 25 de março de 1911, morreram 146 trabalhadores, 17 homens e 129 mulheres e
meninas – 90 delas se jogaram pelas janelas do prédio da fábrica. |
Nos
relatos as sobreviventes do incêndio disseram que não havia nenhuma
greve naquele momento.
"Eu, junto com outras moças estava no vestiário do oitavo andar [da fábrica] (…), às 4h40 em ponto, da tarde de sábado, 25 de março, quando ouvi alguém gritar: fogo! Larguei tudo e corri para a porta [de emergência] que estava trancada e, imediatamente, as meninas se amontoavam atrás dela. Os patrões mantinham todas as portas fechadas a chave o tempo todo por medo que as meninas pudessem roubar alguma coisa. Algumas meninas estavam gritando, outras esmurrando a porta com os punhos." (Depoimento de Rosey Safran apud GONZÁLEZ, 2010)
Os trabalhadores demandavam salários mais altos, melhorias nas condições de trabalho, abolição do sistema de subcontratação e, sobretudo,o reconhecimento de seus direitos sindicais.(GONZÁLEZ, 2010, p. 33-45)
Em Nova York, depois do incêndio, foi criada a Comissão de Investigação das Fábricas, que passou a avaliar o risco em locais de trabalho. Com os dados apurados pela Comissão foram promulgadas leis que regulavam normas de segurança, salário mínimo, assistência aos operários.
Em 8 de março de 1917, com a greve das tecelãs de São Petersburgo a data ficou conhecida como o Dia Internacional das Mulheres. Porém, organizações internacionais – como a ONU e a UNESCO – demoraram mais de 50 anos para reconhecer a data, e só o fizeram por pressão e insistência dos movimentos feministas.
No
Brasil repete-se a cada ano a associação entre o Dia Internacional
da Mulher e o incêndio na fábrica Triangle que causou a morte de 146 trabalhadores, 129 mulheres e meninas e 17 homens, em 25 de março de 1911, quando na verdade Clara Zetkin o
tenha proposto em 1910, um ano antes do incêndio.
Relembrar mulheres como Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo, Alexandra Kollontai e os caminhos que levaram à escolha da data, é um modo de resistir no combate a todas as formas de exclusão, injustiças e negação de direitos, e impedir que o significado revolucionário desta data seja substituído como um produto comercial que comemora estereótipos de gênero que sempre determinaram e limitaram a vida das mulheres.
Referências:
- BOSI, Ecléa. Simone Weil: a razão dos vencidos. São Paulo: Brasiliense, 1982.
- GIANOTTI, Vito. A origem socialista do dia da mulher. Rio de Janeiro: Núcleo Piratininga de Comunicação, 2016.
- GONZÁLEZ, Ana Isabel Álvarez. As origens e a comemoração do dia internacional das mulheres. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
- KOLLONTAI, Alexandra. International Women’s Day. Cleveland, Ohio: Hera Press, 1982.
- MARIN, Alexandra Ayala. "Caja de Pandora". Clara Zetkin. Entrevista dada para UNIFEM. Ver. http://www.unifemandina.org
- TROTSKI, Leon. História da revolução russa tomo um: parte um. São Paulo: Sundermann, 2007.
- http://www.esquerda.net/artigo/memorias-alexandra-kollontai-morreu-ha-63-anos/36118
- http://www.esquerda.net/artigo/que-vieram-antes-de-nos-historias-do-dia-internacional-das-mulheres/41625
- https://www.marxists.org/portugues/tematica/rev_prob/30/zetkin.htm
- http://blogdaboitempo.com.br/2016/03/07/as-que-vieram-antes-de-nos-historias-do-dia-internacional-das-mulheres/
* Taís Ferreira é jornalista profissional independente, blogueira e fotógrafa
(31)99806-3249
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