sexta-feira, 25 de março de 2016

A luta das mulheres por direitos, consciência política, liberdade, democracia e solidariedade internacional

Taís Ferreira*
Em 8 de março de 1917, operárias russas foram às ruas 
em protesto contra o czar Nicolau 2º, a entrada do país
na 1ª Guerra Mundial, contra a fome e os baixos salários.

A história do dia internacional das Mulheres é de longa data. Atravessa o movimento das mulheres operárias norte-americanas, que comemoravam em diversos Estados o Woman’s Day, desde 1908, pelo esforço do movimento de mulheres socialistas para internacionalizar a data, em 1910, e por diversos acontecimentos que marcaram a história da luta das mulheres em diferentes partes do mundo. Nenhuma dessas histórias pode ser apagada.


A luta de mulheres como Clara Zetkin (1857- 1933), Alexandra Kollontai (1872-1953), Rosa Luxemburgo (1871-1919) não pode ser esquecida, e nos oferece argumentos fundamentais para se pensar a condição da mulher na sociedade.


Alexandra Kollontai participou como delegada da Rússia na I Conferência Internacional de Mulheres de Stuttgart. 

Em 1908 publicou “As bases sociais da questão feminina”, influenciada pelo trabalho e as análises de Clara Zetkin, analisa a luta de classes, o trabalho feminino na Rússia, e acrescenta-o com as suas teses sobre a moral sexual e a liberdade sexual. 

Junto com Clara Zetkin, propôs a realização de campanhas em favor dos direitos das mulheres e do estabelecimento de um dia internacional de luta das mulheres operárias.





Clara Josephine Zetkin, professora, 
incansável na luta 
contra a guerra e o fascismo. 
Fundou e dirigiu a revista 
"Igualdade" que durou 16 anos.
(1891 - 1907)

Clara Zetkin, militava junto ao movimento operário e se dedicava à conscientização feminina. Em 1910, durante a II Conferência Internacional da Mulher Socialista, propôs um dia internacional dedicado à reivindicação dos direitos das mulheres, ainda não havia um dia definido, mas havia a intenção de unificar uma data para celebrar a luta internacional pelos objetivos comuns.

 Rozalia Luksenburg, Rosa Luxemburgo, uma revolucionária de esquerda em sua terra de origem, a Polônia ocupada pelos russos, e vanguarda dos operários alemães no país que adotou como seu, a Alemanha. Crítica do capitalismo, revolucionária e democrata, combateu com lucidez a políticas ditatoriais e totalitárias. Tentou impedir a primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) com suas posições antimilitaristas e internacionalistas dentro do Partido Social-Democrata Alemão (SPD).
Rosa Luxemburgo, (1871-1919)
Durante toda a sua vida lutou pelas minorias discriminadas e perseguidas e contra os preconceitos. Obteve doutorado em 1898, numa época em que raras mulheres iam para a universidade. Foi assassinada em 15 de novembro de 1919 pelos que apoiaram abertamente a entrega do poder a Hitler.
Para Rosa Luxemburgo a liberdade e a democracia não eram luxo que políticos socialistas podiam doar ou recusar, mas a condição para a existência da política socialista.





Liberdade apenas para os partidários do governo, apenas para os membros de um partido – por mais que sejam numerosos – não é liberdade. Liberdade é sempre a liberdade daquele que pensa de modo diferente. Não por fanatismo pela justiça, mas porque tudo quanto há de vivificante, salutar, purificante na liberdade política depende desse caráter essencial e deixa de ser eficaz quando a liberdade se torna um privilégio”. Rosa Luxemburgo



Dia de consciência política e de solidariedade internacional

Retomar o significado político da história do Dia Internacional das Mulheres é uma ferramenta importante contra as fogueiras materiais e simbólicas que continuam acesas" Daniela Lima

O processo de instituição de um Dia Internacional da Mulher já vinha sendo elaborado pelas socialistas americanas e européias há algum tempo, desde a proposta de Clara Zetkin, em 1910, mas foi comemorado em datas diferentes do mês março, entre 1911 e 1914. 

A relação entre a greve na indústria têxtil de Nova York e o incêndio

Um ano antes do incêndio, de setembro de 1909 a fevereiro de 1910, aconteceu uma das maiores greves da indústria têxtil de Nova York. As trabalhadoras da Triangle Shirtwaist Company (Companhia de Blusas Triângulo) foram as primeiras a parar, produzindo o início da greve geral, conhecida como “o levante das 30 mil”– a primeira grande greve de mulheres no país, numa época em que nem mesmo o direito ao voto tinha sido conquistado.

No setor têxtil, as mulheres constituíam a maior parte da mão de obra. As condições em que trabalhavam eram deploráveis. (…) A paralisação começou no dia 27 de setembro de 1909, precisamente na Triangle Shirtwaist Company. (…)

A maioria das jovens era imigrante, tinha entre 16 a 24 anos e trabalhava em condições
desumanas. Seus salários equivaliam a um terço do recebido pelos homens, enfrentavam jornadas de trabalho de 52 horas semanais e
 não tinham condições mínimas de segurança.

No incêndio de 25 de março de 1911, morreram 146 trabalhadores, 17 homens e 129 mulheres e 
 meninas – 90 delas se jogaram pelas janelas do prédio da fábrica.

Nos relatos as sobreviventes do incêndio disseram que não havia nenhuma greve naquele momento. 
"Eu, junto com outras moças estava no vestiário do oitavo andar [da fábrica] (…), às 4h40 em ponto, da tarde de sábado, 25 de março, quando ouvi alguém gritar: fogo! Larguei tudo e corri para a porta [de emergência] que estava trancada e, imediatamente, as meninas se amontoavam atrás dela. Os patrões mantinham todas as portas fechadas a chave o tempo todo por medo que as meninas pudessem roubar alguma coisa. Algumas meninas estavam gritando, outras esmurrando a porta com os punhos." (Depoimento de Rosey Safran apud GONZÁLEZ, 2010)


 Os trabalhadores demandavam salários mais altos, melhorias nas condições de trabalho, abolição do sistema de subcontratação e, sobretudo,o reconhecimento de seus direitos sindicais.(GONZÁLEZ, 2010, p. 33-45)

 Em Nova York, depois do incêndio, foi criada a Comissão de Investigação das Fábricas, que passou a avaliar o risco em locais de trabalho. Com os dados apurados pela Comissão foram promulgadas leis que regulavam normas de segurança, salário mínimo, assistência aos operários.


Em 8 de março de 1917, com a greve das tecelãs de São Petersburgo a data ficou conhecida como o Dia Internacional das Mulheres. Porém, organizações internacionais – como a ONU e a UNESCO – demoraram mais de 50 anos para reconhecer a data, e só o fizeram por pressão e insistência dos movimentos feministas.

Clara Zetkin (1857-1933),
na foto com Rosa Luxemburgo.

No Brasil repete-se a cada ano a associação entre o Dia Internacional da Mulher e o incêndio na fábrica Triangle que causou a morte de 146 trabalhadores, 129 mulheres e meninas e 17 homens, em 25 de março de 1911, quando na verdade Clara Zetkin o tenha proposto em 1910, um ano antes do incêndio. 


Relembrar mulheres como Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo, Alexandra Kollontai e os caminhos que levaram à escolha da data, é um modo de resistir no combate a todas as formas de exclusão, injustiças e negação de direitos, e impedir que o significado revolucionário desta data seja substituído como um produto comercial que comemora estereótipos de gênero que sempre determinaram e limitaram a vida das mulheres.

Referências:
  • BOSI, Ecléa. Simone Weil: a razão dos vencidos. São Paulo: Brasiliense, 1982.
  • GIANOTTI, Vito. A origem socialista do dia da mulher. Rio de Janeiro: Núcleo Piratininga de Comunicação, 2016.
  • GONZÁLEZ, Ana Isabel Álvarez. As origens e a comemoração do dia internacional das mulheres. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
  • KOLLONTAI, Alexandra. International Women’s Day. Cleveland, Ohio: Hera Press, 1982.
  • MARIN, Alexandra Ayala. "Caja de Pandora". Clara Zetkin. Entrevista dada para UNIFEM. Ver. http://www.unifemandina.org
  • TROTSKI, Leon. História da revolução russa tomo um: parte um. São Paulo: Sundermann, 2007.
  • http://www.esquerda.net/artigo/memorias-alexandra-kollontai-morreu-ha-63-anos/36118
  • http://www.esquerda.net/artigo/que-vieram-antes-de-nos-historias-do-dia-internacional-das-mulheres/41625
  • https://www.marxists.org/portugues/tematica/rev_prob/30/zetkin.htm
  • http://blogdaboitempo.com.br/2016/03/07/as-que-vieram-antes-de-nos-historias-do-dia-internacional-das-mulheres/

* Taís Ferreira é jornalista profissional independente, blogueira e fotógrafa

  (31)99806-3249

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