quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Intervozes promove debate e lança cartilha sobre fake news e desinformação



Nos últimos anos, a expressão fake news se popularizou mundialmente e o seu impacto na política e na vida social passou a mobilizar esforços em diversos países, incluindo o Brasil. No intuito de trazer mais elementos para essa discussão, o Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social lançou nessa terça (20) a cartilha Desinformação: ameaça ao direito à comunicação muito além das fake news. Para marcar o lançamento, foi realizado um debate online com transmissão ao vivo pelo canal da organização.


“Teorias da conspiração, boatos, tudo isso já estava no nosso imaginário, mas se transformaram e ganharam uma escala sem precedentes nos últimos anos. Tem um marco mais ou menos consensual que foram as eleições de 2016 nos EUA, quando Donald Trump catapultou a expressãofake news, principalmente para desqualificar quem questionava a sua candidatura, mas ao mesmo tempo a sua campanha surfava em um processo de produção e circulação de desinformação que gerou uma comoção no país”, explica Bruno Marinoni, associado do Intervozes e responsável pela pesquisa e redação da cartilha.

Para Renata Mielli, coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e secretária geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, é preciso olhar para o papel dos monopólios na circulação da informação, seja dos monopólios da mídia tradicional ou dos monopólios digitais. “Quando a internet surgiu, a gente acreditava que o fluxo de informação seria livre, que não haveria mais intermediários no processo de comunicação. O que a gente não contava era com a capacidade do sistema capitalista de construir monopólios e criar novas situações de concentração econômica, que na internet se traduzem nessas grandes plataformas, como Facebook, Google, Twitter, que são os novos intermediários e mediam aquilo que tem relevância ou não no debate público”.

As eleições brasileiras de 2018 são um exemplo de como a desinformação passou a ser um fenômeno estruturante das democracias. Laura Tresca, representante da Coalizão Direitos na Rede e diretora executiva da Artigo 19, chamou a atenção para essa questão. “É importante refletir sobre como o WhatsApp se transformou em uma plataforma de distribuição de desinformação em massa nas últimas eleições. Vimos empresários contratando serviços de distribuição de mensagens na plataforma favorecendo determinado candidato. Chamo atenção para isso porque passa pela questão dos dados pessoais. Existe uma metodologia aí de criação de grupos, de aquecimento de chips, existe uma fábrica para preparar a distribuição em massa das desinformações. Como eram criados esses grupos de distribuição? Eles compravam dados pessoais que eram vendidos aleatoriamente na internet”.

Em resposta às fake news, o Poder Público tem reagido de duas formas: criminalização ou dando mais poder às plataformas para definir o que deve ser retirado ou não. Bia Barbosa, integrante do Conselho Diretor do Intervozes e mediadora do debate, levantou essa questão. “Quando olhamos para os Projetos de Lei que tentam fazer frente ao fenômeno da desinformação, eles se concentram em duas linhas. Uma delas é a linha que quer colocar na cadeia cidadãs e cidadãos que compartilham notícias falsas, como se a gente já não tivesse um problema absurdo no sistema prisional brasileiro e como se prisão resolvesse todos os problemas da nossa sociedade. Tem projetos que chegam a pedir pena de 8 anos para quem compartilha informação falsa, num contexto que é difícil checar informações. Criminalizar quem compartilhou inadvertidamente não é o caminho. A outra linha é obrigar as plataformas a removerem os conteúdos considerados falsos. Isso vai dar ainda mais poder para essas plataformas, que já direcionam o fluxo de informação nas redes. Elas vão ter esse poder de censura privada, não só pela vontade delas, porque muitas já fazem isso, mas por obrigação legal”.

A regulação das grandes plataformas vem sendo alvo de discussões pelo mundo. O Intervozes, Observacom, Idec e Desarrollo Digital lançaram o documento Contribuições para uma regulação democrática das grandes plataformas que garanta a liberdade de expressão na internet, durante o LACIGF 12. A proposta traz a perspectiva latinoamericana para os processos de moderação de conteúdos compatíveis com os marcos internacionais de direitos humanos. O documento está aberto para consulta pública até o dia 15 de outubro neste link.

Muito além das fake news

A expressão “fake news” se popularizou mundialmente e se tornou comum nas conversas cotidianas, em casa, no trabalho, no bar, na escola etc. Entretanto, essas duas palavras lidam mal com a complexidade de um problema maior que o simples julgamento sobre a veracidade ou a falsidade de um conteúdo.

Sabendo disso, o Intervozes, que tem acompanhado a questão em uma perspectiva de defesa do direito à comunicação, produziu a cartilha para compartilhar alguns debates sobre o que considera ser a chave da questão: a desinformação. Tendo isso em vista, a publicação retoma as origens da desinformação, discute os impactos na política e para a liberdade de expressão na contemporaneidade e aponta caminhos para confrontar o problema.

A cartilha, realizada com apoio da Fundação Ford, está disponível para download gratuito neste link.

Assista ao debate na íntegra:
Parte 1





segunda-feira, 22 de julho de 2019

Terra em Transe de Glauber Rocha

Bom momento para rever o filme Terra em Transe de Glauber Rocha.
Um país imaginário — Eldorado.
Bom filme!





Terra em Transe
País de origem: Brasil
Ano: 1967
Duração: 110 minutos
Gênero: Drama
Direção: Glauber Rocha
Roteiro: Glauber Rocha
Fotografia: Luiz Carlos Barreto
Montagem: Eduardo Escorel
Música: Sérgio Machado
Figurino: Clóvis Bornay
Estúdio: Mapa Filmes
Produção: Carlos Diegues, Glauber Rocha, Zelito Viana
Elenco: Jardel Filho, Paulo Autran, José Lewgoy, Glauce Rocha, Paulo Gracindo, Hugo Carvana, Danuza Leão, Jofre Soares, Modesto De Souza, Mário Lago, Flávio Migliaccio, Telma Reston, Francisco Milani, Emmanuel Cavalcanti, Lauro Escorel, José Marinho, Paulo César Peréio.

domingo, 23 de junho de 2019

Almodóvar: “Trump despertou o pior de cada país e os loucos de cada casa”

Diretor apresenta no festival 'Dor e Glória', diz estar ‘impressionado’ com o carinho do público espanhol por este filme e ‘aliviado’ com o resultado das eleições na Espanha.

GREGORIO BELINCHÓN,  Cannes.

 

No terraço do hotel Marriott, no meio do dia em Cannes, geralmente quente, começa a esfriar. Em um dos sofás, Penélope Cruz se abriga em um cardigã. Em outra sala fechada, o restante da equipe artística e da produtora El Deseo começa a comer. Antonio Banderas se despede até a tarde. E Pedro Almodóvar(Calzada de Calatrava, Ciudad Real, 69 anos) encara a última entrevista de sua sessão matinal nesta sexta-feira. A exibição em Cannes coincide com as estreias francesa e italiana de Dor e Glória. "Não vou te dar o meu melhor, estou um tanto sem cabeça", diz o diretor, que retorna ao festival francês, onde já chegou a presidir o júri, para competir pela sexta vez. Penélope Cruz deixa escapar um "ele nunca está sem cabeça", o que se confirma à medida que a conversa avança.
Pergunta. Há poucos dias, um diretor francês garantiu que, para um criador europeu, a Palma de Ouro é mais importante que o Oscar, pelo que o cinema de autor significa. E para você?
Resposta. Provavelmente essa é a impressão do público e da indústria europeia. Obviamente, não ganhei a Palma de Ouro e tenho dois Oscars, o que é muito difícil. Acima de tudo, o de melhor roteiro, que em 90 anos foi conquistado apenas por três filmes que não eram de língua inglesa. Ali as corporações, como as dos escritores, se empenham muito para que seus membros ganhem.
P. Mas você é um europeu que faz cinema de autor. Esse prêmio não lhe atrai?
R. Não tenho ansiedade pela Palma porque, de outro modo, não poderia vir para competir. Estive duas vezes no júri e sei como funciona a mecânica dos prêmios, a difícil negociação. Nunca estarei mais perto do que em 1999, com Tudo Sobre Minha Mãe. David Cronenberg, presidente desse júri, vai ser perseguido a vida toda por aquela pergunta [por que o filme de Almodóvar não recebeu o prêmio]. Não acho que esta edição seja parecida. Quando você vai a uma competição, tem que mentalizar que a lista de prêmios é imprevisível, vai além da qualidade dos filmes, a qual eu pressuponho. Li que estou obcecado pela Palma. Nunca estive, e agora menos ainda.
P. Quando veio apresentar Julieta no festival de 2016, falou muito sobre o legado. Agora apresenta um filme que é puro legado.
R. Sim, lembro bem dessa conversa. Dão como certo que Dor e Glória é um filme de despedida, e não é. Na verdade, estou escrevendo dois roteiros e um será do meu próximo filme. Mas Dor e Glória, é verdade, reflete sobre mim mesmo como diretor e como pessoa, eu paro para me observar. Não sei por que isto se passou. Evidentemente, eu tinha a necessidade de fazer isso, senão não teria escrito esse roteiro. Talvez um psiquiatra me explicasse a razão, mas não vou perguntar. Embora o personagem do Antonio esteja em uma situação mais crítica do que a minha, eu sofria um medo parecido de não poder filmar por doença, de que não houvesse nenhum outro filme. Tenho uma grande dependência do cinema, é total. Este é, para mim, o tema mais pessoal de Dor e Glória. Foi ... terapêutico, apesar de eu odiar essa palavra, porque ninguém dirige como terapia. Você faz filmes porque quer contar uma história. Por que escolhi me expor assim? Não sei. Mas senti um efeito balsâmico quando concluí, que eu não esperava.
P. Sentiu que recuperou o carinho do público?
R. Sim, é muito impressionante. E imprevisível. Pensei, enquanto escrevia, que o efeito seria o oposto. Porque o público espanhol vê outros filmes, comédias produzidas pelas redes de televisão ou de super-heróis. O espectador atual na Espanha é menos interessante do que há dez anos. E se voltarmos mais... Lembro de como ficavam lotados os primeiros cinemas de arte e ensaio. Enfim, esperava o contrário. E parece que o fato de me mostrar fez com que as pessoas sintam que estou mais próximo. À parte minha firme vontade de fazer esse filme, a incerteza rodeou quase todas as decisões. Recebi muito carinho, sentimento que sempre é bem-vindo.
P. Está apoiando a campanha de Manuela Carmena para ser reeleita prefeita de Madri.
R. Depois das eleições gerais, senti um enorme alívio, como voltar a respirar. Votei pelo correio porque tinha que estar em Nova York e de lá acompanhei a contagem grudado no computador. Não tinha nenhuma segurança sobre o resultado. Li a imprensa nos dias anteriores, em que diziam que o Vox subia como espuma, e eu estava com muito medo. Respirei, sobretudo porque durante a campanha não reconhecia o país em que estava vivendo. Nunca houve tamanha degradação da classe política como nos últimos meses. Em nenhuma outra profissão as pessoas se permitem esse nível de insultos, de irritação, de crispação, de mau humor, como acontecia na Câmara dos Deputados. Isso me escandalizou. Felizmente, o país tomou consciência e foi em massa às urnas. E a fumaça da extrema direita vai se acalmar. Dá-se muito ouvido a eles, são muito vocais, mas representam menos gente do que parece. Na realidade, Trump despertou o pior de cada país e os loucos de cada casa. Há um plano da extrema direita para desestabilizar a Europa. E sim, minha opção é Carmena.
P. O próximo vai ser filme ou série?
R. O que estou preparando é um filme. Estou escrevendo dois roteiros que adaptam romances anglo-saxões. E quero fazer os dois. Para uma série, há um livro de histórias de que gosto muito e esse seria o seu formato. Mas eu imporia a duração natural de cada história, os capítulos durariam de acordo com cada conto. O que os uniria é que procedem da mesma autora. Bem, estamos falando de um futuro daqui a quatro anos.
P. É uma grande mudança como roteirista. Sente-se confortável como adaptador?
R. Reduzi tanto a minha vida que, embora esteja a par da realidade espanhola, não conheço os pequenos detalhes da vida dos espanhóis, especialmente das gerações que não são a minha. Eu deveria me documentar porque não sei como são, por exemplo, nos salões de cabeleireiros. Por isso passei a adaptar obras literárias [reflete]. Algum dia gostaria de filmar um romance espanhol como A Tia Tula. Sinto grande atração por filmes que se passam nas cidadezinhas.

terça-feira, 14 de maio de 2019

Driblando a Democracia

Driblando a democracia from Ogum Filmes on Vimeo.

 


Todos deveriam assistir.  O documentário francês fala sobre manipulação de dados, fake news, psicologia de massas, eleições... Está legendado em português.

Sabem aqueles testes, qual artista você é? Qual a música você seria? Que filme seria você?  Estas coisas sem nenhuma intenção, só que não, tem todas as intenções obscuras possíveis...  

Muito bom. Vale a pena conferir.



Driblando a Democracia


“Dribbler la démocratie - Comment Trump a gagné"
O método de trabalho do assessor de Trump e Bolsonaro.
Como, contrariando todas as previsões, Donald Trump conseguiu se tornar presidente ?
O documentário “Driblando a democracia – Como Trump venceu”,  sob a direção de Thomas Huchon, produzido na França este ano, retrata a metodologia de trabalho de Steve Bannon, diretor de campanha do então candidato à Presidência dos Estados Unidos e hoje assessor de Jair Bolsonaro, com base na MANIPULAÇÃO do uso de dados, alcance nas redes sociais sob apelo popular e Fake News.
Revelando uma trama que envolve fake news, o uso de dados pela misteriosa Cambridge Analityca e a ação de poderosos empresários americanos ultraconservadores, este documentário explica como se chegou ao resultado da eleição que chocou a comunidade internacional.
As técnicas de comunicação de Bannon lidam com base na MANIPULAÇÃO DO USO DE DADOS E ALCANCE NAS REDES SOCIAIS COM O USO DE FAKE NEWS.
A produtora de filmes Ogum, que disponibilizou o documentário na íntegra, afirma: "Steve Bannon, diretor de campanha de Donald Trump é também assessor da campanha de Jair Bolsonaro. O filme conta em detalhes as estratégias baseadas em fake news e ROUBO DE DADOS PESSOAIS, que foram usadas para levar Trump a vitória, enganando a América".
# Como a internet está matando a democracia
apublica.org/2019/03/como-a-internet-esta-matando-a-democracia/
# Quem é Stephen Bannon, assessor de Trump acusado de racismo
exame.abril.com.br/mundo/stephen-bannon-racismo-antissemita/
# Apoio de Steve Bannon a Bolsonaro ultrapassa idioma: é ideológico, por Ligia Morris
jornalggn.com.br/noticia/apoio-de-steve-bannon-a-bolsonaro-ultrapassa-idioma-e-ideologico-por-ligia-morris


quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

FENAJ lança, na sexta-feira, seu relatório da violência contra jornalistas


A violência contra jornalistas voltou a crescer em 2018. Foram registrados 135 casos de agressões, atingindo 227 jornalistas, visto que em muitos deles mais de um profissional foi atingido. Em comparação com o ano de 2017, quando houve 99 ocorrências, o aumento foi de 36,36%.
 
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) apresenta, nesta sexta-feira, 18, seu Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil - 2018. O lançamento será no auditório do Sindicato dos Jornalistas no Município do Rio de Janeiro, às 14 horas.
 
Além do número geral de casos de violência ter crescido, o jornalista Ueliton Bayer Brizon, foi assassinado, em Rondônia. Em 2017, nenhuma morte em razão do exercício profissional fora registrada.
 
Também houve aumento no número de assassinatos de outros profissionais da comunicação, em comparação com o ano anterior, quando um blogueiro foi assassinado. Quatro radialistas perderam a vida em razão de suas atividades de comunicação: Jairo Souza (Pará), Jeferson Pureza Lopes (Goiás), Marlon Carvalho de Araújo (Bahia) e Severino Faustino, conhecido como Sílvio Neto (Paraíba).
 
As agressões físicas foram a violência mais comum também em 2018, repetindo a tendência dos anos anteriores. Foram 33 casos, que vitimaram 58 profissionais, contra 29 ocorrências em 2017 (13,79% a mais). Mas houve grande crescimento no número de casos de agressões verbais, ameaças/intimidações e impedimentos ao exercício profissional.
 
Em 2018, as agressões verbais e os impedimentos ao exercício profissional aumentaram mais de 100%, em comparação com o ano anterior. Os casos de ameaças/intimidações cresceram cerca de 87%.
 
Esse significativo crescimento está relacionado diretamente à eleição presidencial e aos fatos associados a ela, como a Caravana Lula, o julgamento do recurso do ex-presidente Lula no Tribunal Regional Federal da 4ª Região e sua prisão posterior. Das violências registradas, 27 casos foram diretamente relacionados à eleição e, 16, ao ex-presidente Lula.
 
Os eleitores/manifestantes foram os principais agressores e os apoiadores do então candidato Jair Bolsonaro foram os responsáveis pela maior parte das violências cometidas. Em segundo lugar ficaram os caminhoneiros que, durante a greve da categoria, também agrediram jornalistas em vários Estados.
 
Os jornalistas foram vítimas também de políticos, policiais, juízes, empresários, dirigentes/torcedores de times de futebol e populares. Além do assassinato, das agressões físicas e verbais, das ameaças/intimidações e dos impedimentos ao exercício profissional, houve ainda casos de cerceamento à liberdade de imprensa por decisões judiciais, censuras, atentados, prisão e práticas contra a organização sindical da categoria.
 
 
Serviço: Lançamento do Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2018
 
Local: Auditório do Sindicato dos Jornalistas no Município do Rio de Janeiro – Rua Evaristo da Veiga, nº 16, Centro. Rio de Janeiro.
 
Data: 18 de janeiro (sexta-feira)
 
Horário: 14 horas.
 
Informações: FENAJ