* Taís Ferreira
Pode parecer utópico falar de ética a jornalistas que recebem baixos salários em meios de comunicação conduzidos por políticos ou financiados por publicidade oficial. Temos que aceitar – é utopia falar de informação pública como um direito se praticamente toda a atividade de comunicação no Brasil é monopolizada por empresas privadas. Mas é uma realidade que deve ser mudada e transformada para que a vida pessoal e profissional adquira outra fisionomia.
Nesse contexto, devemos identificar nos Códigos de Ética a insatisfação com a realidade, reconhecendo neles o estado desejável das coisas. Aceitar que a realidade não agrada e necessitamos mudá-la. Pode ser utopia, parecer impossível, mas o possível é parte da realidade.
Não dá para exigir de uma só vez a perfeição, sem etapas intermediárias e como resultado de uma decisão definitiva e única da vontade. Não podemos descartar os retrocessos, erros e a humildade das correções e das retificações. O trabalho árduo de visualizar o possível aponta metas mais altas. É sentir-se responsável por ser humano.
Utopia da profissão
Quando uma categoria profissional elabora ou atualiza um código de ética para orientar a conduta de seus membros, na responsabilidade de todos e de cada um, compromete-se com o melhor de si e também mostra à sociedade os valores que regem suas atividades, tornando público esse cuidado.
“A ética se situa em níveis mais altos que o real, como expressão, não de outra realidade, mas elevada à sua mais alta potencialidade”, disse Javier Dario Restrepo em sua palestra no Congresso Extraordinário para atualização do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.
Fazer jornalismo é interpretar o que acontece, processar a informação, elaborar o conhecimento, em busca de uma visão mais ampla, com perspectiva de futuro, dos fatos de cada dia. É ter a oportunidade de mudar algo todos os dias “registrar os fatos para mudar a história” como disse Gabriel Garcia Marques, a utopia fundamental do jornalismo.
Ética e qualidade técnica são inseparáveis na atividade jornalística, assim como, ética e dignidade são valores que se geram entre si, como pessoa e profissional sem necessidade de reconhecimento, se impõe apenas com a força de seus valores.
Os jornalistas registram as idéias, os sentimentos, os sonhos, as vitórias e derrotas de uma sociedade. As imagens, vozes e textos dos grandes jornalistas do passado que fizeram história ocupam um lugar que nem o tempo apagará.
Orgulho profissional
A atualização do Código de Ética do Jornalista Brasileiro reafirma valores que são essenciais para o exercício do Jornalismo, recordando à mídia sua função informativa, cidadã e educativa, possibilitando à sociedade um debate mais amplo e verdadeiro sobre a comunicação.
Segundo o colombiano especialista em ética Javier Restrepo, o jornalista deve servir a um só patrão - o público receptor - e deve-se pautar pela verdade, responsabilidade social e independência, a serviço de toda a sociedade.
Os filósofos, século após século, têm acumulado argumentos para demonstrar que o entendimento humano não pode aspirar a obter a verdade de nada; mas ninguém nos tira da cabeça que estamos ali, em algum meio de comunicação para encontrar e difundir todos os dias a verdade dos acontecimentos; é nossa utopia, tanto mais arraigada, pois é ao mesmo tempo, a razão de nosso orgulho profissional.” “Javier Darío Restrepo
O artigo “A utopia ética” de Javier Darío Restrepo, professor de ética da Fundação para um Novo Jornalismo Iberoamericano (FNPI), está disponível, na íntegra, no site da FENAJ.
* Jornalista
Artigo publicado no site do SJPMG em 13-8-2007,no site da FENAJ em 20-8-2007 e no observatório da imprensa em 28-8-2007
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