sexta-feira, 27 de maio de 2011

Seminário do FNDC pede debate público sobre o marco regulatório das comunicações

Representantes de mais de 60 entidades e movimentos sociais participaram, nos dias 20 e 21 de maio, do seminário “Marco regulatório: propostas para uma comunicação democrática”, realizado no Rio de Janeiro. O evento, promovido pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), delineou propostas e encaminhamentos a serem defendidos junto ao governo federal, Congresso Nacional e na sociedade visando a definição de um novo marco regulatório das comunicações no Brasil. A “Carta do Rio de Janeiro” sintetizou os posicionamentos aprovados no evento.

Celso Schröder, presidente da FENAJ e coordenador do FNDC, conta que as propostas aprovadas no seminário serão sistematizadas por uma comissão eleita no evento. “Nossa referência são as propostas aprovadas na 1ª Confecom (Conferência Nacional de Comunicação) e a partir delas será elaborado um documento mais denso para dialogar com o governo federal”.

Segundo ele, a ideia é ampliar o debate com a sociedade sobre a proposta de novo marco regulatório das comunicações que está sendo elaborado no Ministério das Comunicações antes do envio da proposta ao Congresso Nacional. “Definições de políticas públicas para as comunicações necessariamente precisam passar por uma esfera pública de debates, caso contrário corre-se o risco de aprovar projetos que representam apenas os interesses do governo e da iniciativa privada, divorciados dos anseios da maioria da sociedade”, defende.

Para o presidente da FENAJ as resoluções da 1ª Confecom, construída com os movimentos sociais e com empresários que não se recusaram a participar daquele processo, não podem ser negadas. “Agora é a hora do governo apresentar suas propostas”, finaliza.

Veja, a seguir, a íntegra da “Carta do Rio de Janeiro”


Carta do Rio de Janeiro

Nós, militantes de entidades e movimentos sociais reunidos no seminário “Marco regulatório: propostas para uma comunicação democrática”, promovido pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, afirmamos a importância de o Governo Federal iniciar o debate público sobre um novo marco regulatório para o setor, com a apresentação de um anteprojeto de lei a ser amplamente discutido com a sociedade brasileira.

Entendemos que a sociedade já deu uma significativa contribuição ao debate com a realização da I Conferência Nacional de Comunicação, em 2009. As mais de 600 propostas ali aprovadas representam demandas de um conjunto significativo de cidadãos e cidadãs e entidades da sociedade civil, do poder público e do setor empresarial, e devem ser utilizadas como referência neste debate.

Este novo marco regulatório deve abranger todo o setor de comunicações, dando conta do processo de convergência e estabelecendo regras que afirmem a liberdade de expressão e o direito à comunicação de toda a população, buscando garantir a pluralidade e a diversidade informativa e cultural.

Entre os pontos abordados, devem estar os artigos 220, 221 e 223 da Constituição Federal, que afirmam princípios fundamentais, mas seguem até hoje sem regulamentação. Deve ser previsto um processo regulatório amplo, a ser aplicado por um órgão regulador com significativa participação social.

Destacamos que este debate não pode ser feito sem o pleno envolvimento da sociedade brasileira, representada em toda a sua diversidade. De sua parte, as entidades participantes deste seminário se colocam a tarefa de organizar suas propostas em um documento que sintetize e aprofunde as referências da I Conferência Nacional de Comunicação, a fim de compartilhar esse acúmulo com o conjunto da população. Entendemos que, neste momento, esta é a principal tarefa posta para o Ministério das Comunicações, juntamente com políticas que garantam a universalização da banda larga, que não será feita sem a definição deste como um serviço a ser prestado em regime público.

Reafirmamos que o amplo debate público de texto apresentado pelo Executivo, por meio de consultas e audiências públicas, permitirá o aperfeiçoamento da proposta, que chegará ao Congresso Nacional amadurecida para discussão e aprovação pelo Legislativo.

Rio de Janeiro, 21 de maio de 2011

Entidades participantes do seminário
 Associação Nacional das Entidades de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões (Aneate)• Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária - Abraço• Associação das Rádios Públicas do Brasil- Arpub• Rádio UFSCar• Artigo 19• Blogueiros Progressistas - Rio• CP Rio Produções• Câmara de Vereadores de Sapiranga-RS• Campanha Ética na TV• Central Única dos Trabalhadores (CUT) Nacional• CUT-RJ• Centro de Cultura Luiz Freire / Mov. Nac. Direitos Humanos• Conselho Federal de Psicologia CFP• CineBrasil TV• Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada (Ciranda.net)• Clube de Engenharia• Cojira-DF• Cojira-Rio/SJPMRJ• Comitê Regional pela Democratização da Comunicação do Ceará• Conselho Regional de Psicologia 14ª Região/MS• Emerge / Universidade Federal Fluminense• Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão – Fitert• Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)• Federação Regional das Associação de Moradores de Itaguaí /RJ• Fórum de Comunicação Democrática do Sul Fluminense• Humanitas - Direitos Humanos e Cidadania• Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - Idec• Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social• Movimento Enraizados / Estimativa• Movimento Mega Não• Novelbiz• Núcleo de Solidariedade Técnica da UFRJ• Núcleo Piratininga de Comunicação• Rádio Resistência FM Comunitária• Rádio Sideral FM 98,7• Radioclube de Queimados• Rede 3setor• Rede de Mulheres em Comunicação• Riosoft• Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro• Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do RJ• Fórum de Comunicação Democrática do Sul Fluminense• Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais• Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira/SJPMRJ)• Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo• Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará - Sindjorce• Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro• TV Comunitária de Niterói/Comunicativistas• Unirr - União e Inclusão em Redes de RádioPublicado em: http://www.fenaj.org.br

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Emir Sader: a discriminação no Brasil é étnica, social e regional

O processo de ascensão social de massas, inédito no Brasil, volta a promover formas de discriminação. A política – de sucesso comprovado – de cotas nas universidades, a eleição de um operário nordestino para Presidente da República – igualmente de sucesso inquestionável –, a ascensão ao consumo de bens essenciais que sempre lhes foram negados – fenômeno central no Brasil de hoje –, provocaram reações de discriminação que pareciam não existir entre nós.


Por Emir Sader, em seu blog

A cruel brincadeira de repetir um mote das elites – “O Brasil não tem discriminação porque os negros conhecem o seu lugar” – mostra sua verdadeira cara quando essas mesmas elites sentem seus privilégios ameaçados. Setores que nunca se importavam com a desigualdade quando seus filhos tinham preparação sistemática para concorrer em melhores condições às vagas das universidades públicas, passaram a apelar para a igualdade na concorrência, quando os setores relegados secularmente no Brasil passaram a ter cotas para essas vagas.

Professores universitários – incrivelmente, em especial antropólogos, que deveriam ser os primeiros a lutar contra a discriminação racial –, músicos – significativa a presença de músicos baianos, que deveriam ser muito mais sensíveis que os outros à questão negra –, publicaram manifesto contra a política de cotas, em nome da igualdade diante da lei do liberalismo.

A vitória da Dilma, por sua vez, provocou a reação irada e ressentida de vozes, especialmente da elite paulistana, contra os nordestinos, por terem sido os setores do país que pela primeira vez são atendidos em seus direitos básicos. Reacendeu-se o espírito de 1932, aquele que orientou o separatismo paulista na reação contra a ascensão do Getúlio e de suas políticas de democratização econômica e social do Brasil. Um ranço racista, antinordestino, aflorou claramente, dirigido ao Lula e aos nordestinos, que vivem e constroem o progresso de São Paulo, e aos que sobreviveram à pior miséria nacional no nordeste e hoje constroem uma região melhor para todos.

A discussão sobre o metrô em Higienópolis tem a ver com a apropriação privilegiada dos espaços urbanos pelos mais ricos que, quando podem, fecham ilegalmente ruas, se blindam em condomínios privados com guardas privados. A rejeição de pessoas do bairro – 3.500 assinaturas – à estação do metrô expressava o que foi dito por alguns, sentido por todos eles, de impedir que seja facilitado o acesso ao bairro – a que mesmo seus empregados particulares têm que chegar tomando 2 ou 3 ônibus –, com a alegação que chegariam camelôs, drogas (como se o consumo fosse restrito a setores pobres), violência, etc.

Nos três tipos de fenômeno, elemento comum é a discriminação. Étnica, contra os negros, na politica de cotas; contra os nordestinos, nas eleições; na estação do metrô, contra os pobres.

Os três níveis estão entrelaçados historicamente. Fomos o último país a terminar com a escravidão, por termos passado de colônia à monarquia e não à república. Adiou-se o fim da escravidão para o fim do século. No meio do século 19 foi elaborada a Lei de Terras, que legalizou a propriedade – via grilagem, em que em papel forjado é colocado na gaveta e o cocô do grilo faz parecer antigo. Quando terminou finalmente a escravidão, todas as t erras estavam ocupadas. Os novos cidadãos “livres” deixaram de ser escravos, mas não foram recompensados nem sequer com pedaços de terra. Os negros livres passaram a se somar automaticamente à legião de pobres no Brasil.

O modelo de desenvolvimento, por sua vez, concentrador de investimentos e de renda, privilegiou o setor centro-sul do Brasil, abandonando o nordeste quando se esgotou o ciclo da cana de açúcar. Assim, nordestino, esquematicamente falando, era latifundiário ou era pobre. Esse mesmo modelo privilegiou o consumo de luxo e a exportação como seus mercados fundamentais, especialmente com a ditadura militar e o arrocho salarial.

A discriminação dos negros, dos nordestinos e dos pobres foi assim uma construção histórica no Brasil, vinculada às opções das elites dominantes – em geral brancas, ricas e do centro-sul do país. A discriminação tem que ser combatida então nas suas três dimensões completamente interligadas : étnicas, regionais e sociais. O fato do voto dos mais pobres (que inclui automaticamente os negros) e dos nordestinos estar na base da eleição e reeleição do Lula e na eleição da Dilma, com os avanços sociais correspondentes, só acirram as reações das elites. Discriminações que tem que ser combatidas com políticas públicas, com mobilizações populares e também com a batalha no plano das ideias.

Os fascistas eletrônicos são derrotados mais uma vez


No dia 18 de abril, Andrew Breitbart, uma figura midiática da direita nos EUA, foi entrevistado no canal Fox News. Na entrevista declarou: “Vamos tratar do tema da educação, vamos atrás dos professores e dos sindicalistas”. Conheça a história de duas vítimas desse ataque.

Judy Ancel, professora da Universidade do Missouri, em Kansas City, estava ministrando este semestre a cadeira de história do movimento operário junto com um colega da sede St. Louis da mesma universidade. Nem Ancel nem seu colega podiam imaginar que filmagens de suas aulas se tornariam objeto de uma florescente prática de ataque encoberto da direita, que consiste em editar vídeos, deturpando as palavras de seus protagonistas.

Neste caso, como resultado desta prática e em meio a uma onda de intimidações e ameaças de morte, um dos professores acabou perdendo seu trabalho. Felizmente, a sensatez e os dados contundentes prevaleceram e os vídeos foram denunciados como o que realmente são: peças fraudulentas e enganosas editadas de forma irresponsável.

A figura midiática de direita, Andrew Breitbart, é um forte promotor dessa grande quantidade de vídeos que foram editados de forma enganosa para difamar indivíduos e instituições progressistas. Ele se ocupou de difundir os vídeos que pretendiam ter descoberto empregados da organização comunitária ACORN supostamente ajudando um casal a estabelecer uma rede de prostituição. Também exibiu o vídeo editado de Shirley Sherrod, uma empregada afroestadunidense do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, deturpando completamente o discurso da funcionária de maneira que ela parecia ter discriminado um agricultor branco. Como consequência da controvérsia, Sherrod foi demitida. Ataques similares foram realizados contra a Planned Parenthood (Federação de Planejamento Familiar).

Judy Ancel é diretora do Instituto de Estudos Laborais da Universidade de Missouri-Kansas City desde 1988. Mediante um hiperlink com um sistema de vídeo conferência na Internet, ela dá um seminário sobre história do movimento operário juntamente com o professor Don Giljum, que dá aula na Universidade de Missouri-St.Louis. O curso consiste em sete sessões interativas, realizadas ao longo do semestre, que são gravadas em vídeo e postas à disposição dos estudantes inscritos no seminário mediante um sistema protegido por uma senha. Um dos estudantes, Philip Christofanelli, copiou os vídeos e, segundo admitiu em uma das páginas de Breitbart na internet, “entregou-os na versão completa a vários de seus amigos”. Em determinado momento, uma série de versões das aulas, editadas de forma muito enganosa, foram publicadas na página de Breitbart. Foi então que as vidas de Ancel e Giljum se viram alteradas e começaram as ameaças de morte.

A página de Breitbart, BigGovernment.com resumia assim o vídeo: “Os professores não só defendem que a violência e a sabotagem industrial são, às vezes, necessárias, como apontam táticas específicas que podem ser utilizadas para este fim”. A professora Judy Ancel respondeu: “Me informaram que este vídeo estava publicado na página de Andrew Breitbart, BigGovernment, e quando vi fiquei horrorizada porque sabia que era eu quem falava, mas o que estava dizendo não era o que eu havia dito em aula”. Ancel relaciona o ataque contra ela e Giljum como parte de um ataque mais amplo que está ocorrendo contra instituições progressistas:

“Este tipo de ataque é um tipo de fascismo eletrônico. Geram tanto medo e estão tão diretamente dirigidos contra qualquer coisa que seja progressista – direito à educação, direitos dos sindicatos, direitos dos trabalhadores – que acredito serem parte de um ataque generalizado para silenciar as maiorias e gerar o tipo de clima de medo que permite que demos um salto muito abrupto para a direita. E isso é verdadeiramente aterrador”.

No vídeo do ataque se incluiu informação para contato com Ancel e Giljum. A professora Ancel recebeu uma chuva de correios eletrônicos cheios de ameaças. Giljum recebeu ao menos duas ameaças de morte por telefone. A Universidade de Missouri realizou uma investigação sobre as acusações que se desprendem dos vídeos, na qual colocaram policiais uniformizados e a paisana nas salas de aula. Giljum era um professor adjunto e tem outro trabalho como secretário geral da seção 148 do Sindicato de Engenheiros de Operação, em St. Louis. Logo após a publicação dos vídeos, o sindicato cedeu às pressões da Federação Estadunidense do Trabalho e Congresso de Organizações (AFL-CIO, na sigla em inglês) de Missouri, e pediu a renúncia de Giljum alguns dias antes do 1° de maio, quando se cumpria o prazo para sua aposentadoria após 27 anos trabalhando neste lugar.

Após a investigação, Gail Hackett, reitora da Universidade de Missouri-Kansas City, publicou uma declaração na qual absolve ambos os professores. Ela escreveu:

“Está claro que os vídeos editados e publicados na internet mostram as declarações dos professores de forma imprecisa e distorcida, ao tirar do contexto suas declarações e mudar a ordem em que elas foram feitas para mudar seu significado”.

A Universidade de Missouri-St.Louis chegou a conclusões similares e afirmou que Giljum podia seguir dando aulas ali.

No dia 18 de abril, Andrew Breitbart foi entrevistado no programa de Sean Hannity, na Fox News. Durante a entrevista declarou: “Vamos tratar do tema da educação, vamos atrás dos professores e dos sindicalistas”.

Parece que Ancel e Giljum foram tão somente os primeiros alvos do ataque.
Neste caso o ataque fracassou. Embora a ACORN tenha sido reabilitada por uma investigação do Congresso, o ataque teve duas sequelas: a organização perdeu financiamento e entrou em falência. O presidente Barack Obama e o secretário de Agricultura Tom Vilsack pediram desculpas a Shirley Sherrod e Vislack suplicou-lhe para que regressasse ao seu posto de trabalho. Sherrod está preparando um livro e entrou com uma ação na Justiça contra Breitbart.

Esperemos que este seja um sinal de que o engano, a intimidação e a influência da mídia da direita estejam em decadência.

(*) Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.

Tradução: Katarina Peixoto


Amy Goodman é apresentadora de "Democracy Now!" um noticiário internacional diário, nos EUA, de uma hora de duração que emite para mais de 550 emissoras de rádio e televisão em inglês e em 200 emissoras em Espanhol. Em 2008 foi distinguida com o "Right Livelihood Award" também conhecido como o "Premio Nobel Alternativo", outorgado no Parlamento Sueco em Dezembro.


Wednesday, May 25, 2011
Netanyahu’s Speech to Congress Dashes Palestinian Hopes of a Just Mideast Peace Agreement

POLÊMICA OU IGNORÂNCIA?

DISCUSSÃO SOBRE LIVRO DIDÁTICO SÓ REVELA IGNORÂNCIA DA GRANDE IMPRENSA

Marcos Bagno
Universidade de Brasília
Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua.
Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia páginae saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos doque eles mesmos pensam (se é que pensam nisso, prepotentementeconvencidos que são, quase todos, de que detêm o absoluto poder da informação). Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras? Já faz mais de quinze anos que os livros didáticos de língua portuguesa disponíveis no mercado e avaliados e aprovados pelo Ministério da Educação abordam o tema da variação linguística e do seu tratamento em sala de aula. Não é coisa de petista, fiquem tranquilas senhoras comentaristas políticas da televisão brasileira e seus colegas explanadores do óbvio.

Já no governo FHC, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo, a mudança irreprimível que transformou, tem transformado, transforma e transformará qualquer idioma usado por uma comunidade humana. Somente com uma abordagem assim as alunas e os alunos provenientes das chamadas “classes populares” poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e preconceito. E, é claro, com a chegada ao magistério de docentes provenientes cada vez mais dessas mesmas “classes populares”, esses mesmos profissionais entenderão que seu modo de falar, e o de seus aprendizes, não é feio, nem errado, nem tosco, é apenas uma língua diferente daquela – devidamente fossilizada e conservada em formol – que a tradição normativa tenta preservar a ferro e fogo, principalmente nos últimos tempos, com a chegada aos novos meios de comunicação de pseudoespecialistas que, amparados em tecnologias inovadoras, tentam vender um peixe gramatiqueiro para lá de podre.

Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro doconjunto de línguas derivadas do português quinhentista transplantados para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria, diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações no mínimo patéticas.

A principal característica dos discursos marcadamente ideologizados (sejam eles da direita ou da esquerda) é a  impossibilidade de ver as coisas em perspectiva contínua, em redes complexas de elementos que se cruzam e entrecruzam, em ciclos constantes. Nesses discursos só existe o preto e o branco, o masculino e o feminino, o mocinho e o bandido, o certo e o errado e por aí vai.

Darwin nunca disse em nenhum lugar de seus escritos que “o homem vem do macaco”. Ele disse, sim, que humanos e demais primatas deviam ter se originado de um ancestral comum. Mas essa visão mais sofisticada não interessava ao fundamentalismo religioso que precisava de um lema distorcido como “o homem vem do macaco” para empreender sua campanha obscurantista, que permanece em voga até hoje (inclusive no discurso da candidata azul disfarçada de verde à presidência da República no ano passado).

Da mesma forma, nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes usuários de variedades linguísticas mais distantes das normas urbanas de prestígio deveriam permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua. O que esses profissionais vêm tentando fazer as pessoas entenderem é que defender uma coisa nãosignifica automaticamente combater a outra. Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los aomundo da cultura letrada e aos discursos que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é preciso repetir isso a todo momento.

Não é preciso ensinar nenhum brasileiro a dizer “isso é para mim tomar?”, porque essa regra gramatical (sim, caros leigos, é uma regra gramatical) já faz parte da língua materna de 99% dos nossos compatriotas. O que é preciso ensinar é a forma “isso é para eu tomar?”, porque ela não faz parte da gramática da maioria dos falantes de português brasileiro, mas por ainda servir de arame farpado entre os que falam “certo” e os que falam “errado”, é dever da escola apresentar essa outra regra aos alunos, de modo que eles – se julgarem pertinente, adequado e necessário – possam vir a usá-la TAMBÉM. O problema da ideologia purista é esse também. Seus defensores não conseguem admitir que tanto faz dizer assisti o filme quanto assiti ao filme, que a palavra óculos pode ser usada tanto no singular (o óculos, como dizem 101% dos brasileiros) quanto no plural (os óculos, como dizem dois ou três gatos pingados).

O mais divertido (para mim, pelo menos, talvez por um pouco de masoquismo) é ver os mesmos defensores da suposta “língua certa”, no exato momento em quea defendem, empregar regras linguísticas que a tradição normativa que eles acham que defendem rejeitaria imediatamente. Pois ontem, vendo o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta: “Como é que fica então as concordâncias?”. Ora, sr. Monforte, eu lhe devolvo a pergunta: “E as concordâncias, como é que ficam então?

O protagonismo da sociedade e o Marco Regulatório da Comunicação

24/05/2011 |

Redação
Instituto Telecom
O Marco Regulatório – Propostas para uma Comunicação Democrática foi tema de seminário promovido pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), nos dias 20 e 21 de maio, no Rio de Janeiro. A partir dos debates dos Grupos de Trabalhos, que abordaram temas como a regulamentação audiovisual; controle público, meio e suas concessões; convergência digital e democratização da banda larga foi definida uma plataforma política do movimento que será entregue ao governo.
Entre as propostas aprovadas nos Grupos de Trabalhos do Seminário estão a resolução de que a comunicação social seja considerada um bem público respeitando a diversidade, a liberdade de expressão e a transparência, e acesso às informações; a regulamentação do artigo 223 da Constituição Federal diferenciando os sistemas público, privado e estatal, inclusive na questão da produção e programação de conteúdo, assim como a do artigo 221, que deve dar garantias para a produção e veiculação dos conteúdos regionais e independentes.
Também foram defendidas ações como o fortalecimento da Telebrás, a determinação de que o serviço de banda larga seja prestado em regime público; a proibição da renovação automática das concessões, que devem passar a estabelecer limites à concentração e ficarem impedidas de ser transferidas, arrendadas ou ainda concedidas a políticos com mandato.
O evento ocorre, justamente, num momento decisivo para o país quando, depois de muita luta e pressão da sociedade civil, o governo montou um grupo de trabalho para, a partir das propostas da Confecom, formalizar um anteprojeto de criação do Marco Regulatório da Comunicação.
De acordo com o assessor executivo do Ministério das Comunicações, James Görgen, presente ao Seminário, o governo está preparando uma proposta de regulamentação dos artigos 221, 222 e 223 da Constituição, que tratam especificamente da produção e programação de rádios e televisões e da concessão e renovação de outorgas e regras de propriedade. Görgen reconheceu que ainda falta a parte relativa às telecomunicações e, embora não tenha dado mais explicações, destacou a necessidade de algumas mudanças na Lei Geral de Telecomunicações de maneira a atender a evolução do serviço de banda larga, a universalização dos serviços de telecom e os conteúdos transportados por eles.
Görgen anunciou ainda que o Minicom pretende criar uma "mesa de diálogo" com a sociedade para discutir temas do anteprojeto de regulamentação das comunicações no país. Para o Instituto Telecom, o anúncio é relevante porque, ainda que tardiamente, representa o reconhecimento oficial do governo do direito da sociedade civil opinar nas decisões sobre o setor.
Mas, é preciso que fique claro como vai funcionar a escolha e a participação das entidades civis nesse processo e, principalmente, o que será feito a partir disso.
As audiências públicas e os debates antes do anteprojeto ser levado para votação no Congresso são a base para a participação popular e devem ser feitas de maneira acessível para a população. 
O coordenador-geral do FNDC, Celso Schröder, alertou para o fato de que o diálogo entre o governo e a sociedade será positivo para a proposta do Marco Regulatório desde que não haja um retrocesso com a retomada, por parte da iniciativa privada, de discussões já superadas na Confecom "Não podemos perder mais tempo e dinheiro com isso. Os atores que quiseram participar, participaram. O momento, agora, é de o governo apresentar sua proposta. Aí, a gente pode até sentar, clarear as ideias, mas não começar mais um debate", defendeu.
Durante o encontro, a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), coordenadora da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular, também destacou: “Enquanto houver esse déficit de democracia na política de comunicação social do nosso país e estivermos defasados em relação à revolução tecnológica que ocorreu no setor (telecom) nos colocamos numa situação ainda mais precária. E o fato de não termos acompanhado no plano institucional legal normativo aquilo que se avançou nas tecnologias no mundo impactou enormemente nas comunicações sociais do nosso país,” declarou.
Para o Instituto Telecom, o protagonismo da sociedade civil é fundamental para a democratização da comunicação no país. Apesar das últimas ações do Minicom darem sinais favoráveis ao Marco Regulatório, é preciso que a população continue pressionando e deixe claro que esta é uma das principais tarefas do Ministério das Comunicações, assim como a universalização da banda larga e a definição deste serviço em regime público. Afinal, embora a criação do Marco Regulatório seja uma luta antiga, até agora o governo não definiu um prazo concreto para que ele seja debatido com a sociedade e siga para votação no Congresso Nacional.
Nós, do Instituto Telecom, consideramos extremamente importante o diálogo do governo com a sociedade, mas não basta apenas ouvir as propostas dos setores sociais. É preciso que estas sejam efetivamente respeitadas e postas em prática. O acesso aos veículos de radiodifusão e serviços de telecomunicações não pode ser concentrado nas mãos de uma minoria. As comunicações têm que atender ao interesse público. Não podem e nem devem ser privilégio de alguns.

Frei Betto: Osama e Obama

Escrito por Frei Betto l Adital   
09-May-2011

Estranho que a CIA, ao declarar que assassinou Osama Bin Laden, não tenha exibido o corpo, como fez à sobeja com outro "troféu de caça”: Ernesto Che Guevara.

Bin Laden saiu da vida para entrar na história. Até aí, nada de novo. A história, da qual poucos têm memória, está repleta de bandidos e terroristas, cujos nomes e feitos quase ninguém lembra. Os mais conhecidos são o rei Herodes; Torquemada, o grande inquisidor; a rainha Vitória, a maior traficante de drogas de todos os tempos, que promoveu, na China, a Guerra do Ópio; Hitler; o presidente Truman, que atirou bombas atômicas sobre as populações de Hiroshima e Nagasaki; e Stálin.

O perigo é que Osama passe da história ao mito e, de mito, a mártir. Sua morte não deveria merecer mais do que uma nota nas páginas interiores dos jornais. No entanto, como os EUA são um país necrófilo, que se nutre de vítimas de suas guerras, Obama transforma Osama num ícone do mal, atiçando o imaginário de todos aqueles que, por alguma razão, odeiam o imperialismo estadunidense.
Saddam Hussein, marionete da Casa Branca manipulada contra a revolução islâmica do Irã, demonstrou que o feitiço se volta contra o feiticeiro.
Desde 1979, Osama Bin Laden tornou-se o braço armado da CIA contra a ocupação soviética no Afeganistão. A CIA ensinou-o a fabricar explosivos e realizar ataques terroristas, movimentar sua fortuna através de empresas-fantasmas e paraísos fiscais, operar códigos secretos e infiltrar agentes e comandos.

"Bin Laden é produto dos serviços americanos”, afirmou o escritor suíço Richard Labévière. Derrubado o Muro de Berlim, desde 1990 Bin Laden passou a apontar seu arsenal terrorista para o coração de Tio Sam.

O terrorismo é execrável, ainda que praticado pela esquerda, pois todo terrorismo só beneficia um lado: a extrema direita. Na vida se colhe o que se planta. Isso vale para as dimensões pessoal e social. Se os EUA são hoje atacados de forma tão violenta é porque, de alguma forma, eles se valeram do seu poder para humilhar povos e etnias. Há décadas abusam de seu poder, como é o caso da ocupação de Porto Rico; a base naval de Guantánamo encravada em Cuba; as guerras ao Iraque e Afeganistão e, agora, à Líbia; a participação nas guerras da Europa Central; a omissão diante dos conflitos e das ditaduras árabes e africanas.

Já era tempo de os EUA, como mediadores, terem induzido árabes e israelenses a chegarem a um acordo de paz. Tudo isso foi sendo protelado, em nome da hegemonia de Tio Sam no planeta. De repente, o ódio irrompeu da forma brutal, mostrando que o inimigo age, também, fora de toda ética, com a única diferença de que ele não dispõe de fóruns internacionais para legitimar sua ação criminosa, como é o caso da conivência da ONU com os genocídios praticados pela Casa Branca.

Quem conhece a história da América Latina sabe muito bem como os EUA, nos últimos 100 anos, interferiram diretamente na soberania de nossos países, disseminando o terror. Maurice Bishop foi assassinado pelos boinas verdes em Granada; os sandinistas foram derrubados pelo terrorismo desencadeado por Reagan; os cubanos continuam bloqueados desde 1961, sem direito a relações normais com os demais países do mundo, e uma parte de seu território, Guantánamo, continua invadida pelo Pentágono.

Nas décadas de 1960 e 70, ditaduras foram instauradas no Brasil, na Argentina, no Chile, no Uruguai, na Bolívia, na Guatemala e em El Salvador, com o patrocínio da CIA e sob a orientação de Henry Kissinger.

Violência atrai violência, dizia dom Helder Camara. O terrorismo não leva a nada, exceto a endurecer a direita e suprimir a democracia, levando os poderosos à convicção de que o povo é incapaz de governar-se por si mesmo.

Vítimas inocentes não podem ser sacrificadas para satisfazer a ganância de governos imperiais que se julgam donos do mundo e pretendem repartir o planeta como se fossem fatias de um apetitoso bolo. Os atentados de 11 de setembro de 2001 demonstraram que não há ciência ou tecnologia capaz de proteger pessoas ou nações. Inútil os EUA gastarem trilhões de dólares em esquemas sofisticados de defesa. Melhor seria que essa fortuna fosse aplicada na paz mundial, que só irromperá no dia em que ela for filha da justiça.

A queda do Muro de Berlim pôs fim ao conflito Leste-Oeste. Resta agora derrubar a muralha da desigualdade entre Norte-Sul. Sem que o pão seja nosso, nem o Pai e nem paz serão nossos.

*[Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão, de "Conversa entre a fé e a ciência” (Agir), entre outros livros.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A geopolítica mutante da indústria cultural


















17/05/2011 |
Marco Dotti*
IHU - Instituto Humanitas Unisinos
Estratégias hegemônicas que surgem no duplo movimento entre tendências homologantes e vitalidades da produção local. Enquanto isso, no mundo, se assomam protagonistas dinâmicos como a China, a Índia e o mundo árabe.
"A guerra dos conteúdos culturais começou". Frédéric Martel é claro na conclusão do seu livro Mainstream (430 páginas), recentemente publicado pela editora Feltrinelli. Um livro-investigação sobre o "controle dos sonhos e das imagens" dos últimos tempos, deste tempo do século XXI, em que o "capitalismo hip" é sim global, financeirizado e fortemente concentrado, como se continua dizendo, mas também marcado justamente pelos fluxos e da desmaterialização dos seus produtos, também fortemente marcada pela "descentralização e pelo fato de ser força criativa e destrutiva". É nessa forma que se torna fundamental o controle do mainstream e daquela mercadoria totalmente particular que é chamada de "cultura".

Confira Entrevista
O que significa mainstream? Estávamos acostumados ao uso e ao abuso que Ronald Reagan fez dele, e ao contrário...
“Maistream” significa literalmente "dominante" e se diz de um produto cultural que conquista um público muito grande. Ronald Reagan conhecia o mainstream de modo natural. Não é por acaso que ele foi um ator de segundo nível, mas também não é irrelevante o fato de que, depois da sua "primeira vida", ele se tornou um presidente de primeiro plano. É justamente isto o mainstream: saber tornar público, assumir em si e sobre si a cultura de massa. Mainstream é Avatar e Lady Gaga, Batman e Matrix, em suma, a cultura dos nossos filhos, dos nossos estudantes e a de muitos europeus.
Mainstream, porém, é um termo que pode ter uma conotação negativa no seu significado de cultura dominante e hegemônica, e, desse ponto de vista, precisamos denunciá-lo e sobretudo criticá-lo. Mas o mesmo termo também tem uma conotação positiva, no sentido da cultura comum, de algo que agrada a todos. Também pode ser usado na política (Berlusconi certamente é mainstream!), ou no âmbito dos negócios. Isso acontece porque mainstream é um termo, não um conceito.
Trata-se, de outra forma, de uma palavra, e é essa ambiguidade da palavra, a sua polissemia, que me fascinou e me levou a trabalhar sobre os problemas que ela gera, sobre os seus desvios, mas também sobre a sua contínua evolução. Ao mesmo tempo, se me refiro a um termo tão ambíguo, não quero por isso deixar passar a ideia de que eu esteja defendendo um status quo ou um certo mainstream entendido como cultural hegemônica e, sob certos aspectos, homologante, nem que a sua generalização possa servir para qualificar como inevitável uma certa visão do mainstream, que tende a reduzir todas as fontes culturais a uma só.
Ao contrário, muitas vezes temos a ideia de que a Internet, combinada com a globalização, irá produzir uma homogeneização fatal das culturas. Outros, no entanto, temem uma fragmentação infinita, depois da qual ninguém terá mais nada em comum com os outros, não haverá nenhuma cultura comum e só nos restará fechar-nos em uma cultura de nicho, estritamente comunitária, para não dizer sectária.
No meu trabalho, baseando-me em uma longa investigação de campo, que me levou do Líbano à China, da Índia aos Estados Unidos, até o México, demonstra, porém, que a globalização e a passagem ao digital são capazes de produzir tanto uma coisa quanto outra, mas não alternativamente.
Ambos os fenômenos ocorrem paralelamente. A globalização não levou ao desaparecimento das culturas nacionais e locais, que gozam de plena saúde. A Internet permite, ao mesmo tempo, que se assista a um vídeo da Lady Gaga no Irã e que se defenda a sua própria cultura local. As culturas nacionais têm uma capacidade de resistência e de recuperação que pode ser compreendida no coração do processo de globalização. Eis, portanto, uma razão a mais para se refletir sobre a noção de mainstream, afastando-nos de certas leituras já obsoletas, por serem marcadas por um modelo de produção de conteúdos que não existe mais e fortemente críticas à indústria cultural. Não que a crítica não deva existir, só que, mudando o objeto, deve mudar também o instrumento do fazer crítica.
Talvez, está se afirmando uma nova geografia, ou melhor, uma nova geopolítica na produção dos conteúdos culturais. Se o novo século, por mais um tempo, continuar a ser norte-americano, é quase certo que não será mais europeu. Você concorda?
Certamente, e é aqui que o complexo intrincamento e destrincamento dos fluxos que marcam a nossa época mostra como global e local estão interconectados, não tanto por uma lógica de sistema, mas justamente por causa da dimensão das coisas e por causa da emergência de atores mantidos à margem da produção cultural. Tomemos o caso da música. Ele continua sendo nacional em todos os lugares, em mais da metade das suas próprias vendas. E a televisão? Bem, apesar da CNN ou da Al Jazeera, que têm uma influência mundial mas limitada, a televisão também continua sendo em grande parte local ou nacional.
Pensemos em um único dado: na China, há cerca de 2 mil canais que emitem uma programação muito "chinesa". Para as bilheterias do cinema, quase metade está ligada a produtos nacionais. Representa 50% na França, no Japão e na República Tcheca, enquanto na Índia é de mais de 80%. A indústria editorial é em toda a parte muito nacional, assim como a informação ou o mercado publicitário. As séries de televisão também são muito pouco globalizadas, mesmo que o sucesso das séries norte-americanas poderiam nos fazer crer o contrário: as telenovelas latino-americanas, as novelas do Ramadã no mundo árabe, os "melodramas", coreanos e japoneses ainda dominam os mercados locais.
Portanto, não se pode dizer que a cultura está se globalizando. Ao contrário, invertendo a questão, devemos dizer – e isso é verdade – que parece que temos menos produtos culturais (aqueles que até ontem atravessavam as alfândegas e as fronteiras) e cada vez mais fluxos, mais serviços e mais formatos. Enfim, se as culturas regionais e nacionais ainda estão vivas e têm sucesso, temos, porém, uma cultura globalizada, muito norte-americana, que substituiu as outras culturas não nacionais. É isso que eu chamo de mainstream.
O mainstream torna cada vez mais estreito e, em certos termos, evidente o nexo entre guerra e informação. Uma luta que é também entre entre o "soft" e o "hard power"...
Podemos falar de batalha, de competição econômica ou de guerra comercial, mas o dado verdadeiro é que, nesse jogo, há novos atores que querem não só desempenhar a sua própria parte, mas vencer essa batalha pela produção de conteúdos culturais. A China em primeiro lugar, depois os países árabes, mas não devemos subestimar a Indonésia e a Turquia, por exemplo com relação às séries de televisão, ou a Coreia do Sul pela música "kpop", a Arábia Saudita pelas transmissões relacionadas ao Ramadã e assim por diante. Está se delineando uma nova geopolítica da mídia, e cabe a nós a honra de decifrá-la e cartografá-la. Mas nem a globalização, nem a passagem para o digital alteram a necessidade de informação e de qualidade dos conteúdos, mesmo quando essa necessidade torna-se pedido de ficção ou de diversão.
Obviamente, não sou o primeiro a falar da globalização ou de países emergentes em termos culturais, mas acredito que muitos analistas até agora subestimaram o fato de que alguns países também estão surgindo por meio da sua cultura ou da sua mídia. Todos os dias, abre-se um novo cinema multiplex na China. Todos os dias. Assim como na Índia ou no México. A China está investindo pesadamente em infraestrutura na Ásia. A Índia compra estúdios norte-americanos, e a gigante TV Globo no Brasil está lutando contra a Televisa no México para controlar o mercado latino-americano dos produtos de televisão. Do outro lado do planeta, a Al Jazeera compra os canais de esportes que permitem ter todos os pacotes dos campeonatos de futebol marroquinos, tunisianos, argelinos ou jordanianos.
Há uma nova concorrência mundial sobre os conteúdos culturais e da mídia, isso é evidente. Cultura e informação se misturam nisso que está se tornando cada vez mais o infotainement. A concorrência ocorre ali, nesse novo espaço.

*no jornal Il Manifesto (13/05/2011), com tradução de Moisés Sbardelotto.

Fidel Castro pergunta se Espanha também será bombardeada pela OTAN


Fidel Castro (foto:Efe)
O líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, perguntou na última quinta-feira se as unidades da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN) bombardearão  a Espanha, como fizeram com a Líbia há dois meses, pelos protestos que acontecem desde domingo contra as políticas e o sistema de governo.



"O que acontecerá na Espanha onde as massas protestam nas cidades principais do país porque até 40% dos jovens estão desempregados, para citar somente uma das causas das principais manifestações desse combativo povo?", perguntou o ex governante.

Será que por acaso irão iniciar-se os bombardeios a esse país pela OTAN?, perguntou Fidel Castro, que também se referiu ao discurso que pronunciou nesta quinta-feira o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

O ex governante expressou suas palavras em suas Reflexões, chamadas: A insustentável posição do império.

Desde domingo passado, milhares de manifestantes, principalmente jovens, estão invadindo as ruas de várias cidades da Espanha, contra as mudanças no atual sistema democrático, eleitoral, político e econômico.

Os jovens esperam que suas vozes sejam escutadas antes das eleições locais e regionais do próximo domingo.

Os protestos se dão no momento em que a Espanha tenta sair com dificuldades da recessão econômica, que deixou mais de 20% de desemprego, taxa que supera 44% entre os jovens de menos de 25 anos.

Do mesmo modo, disse "ninguém pode assegurar que o império em agonia não arraste o ser humano à catástrofe”.

Fidel Castro, neste sentido, disse que "O Pentágono e a CIA controlam os principais instrumentos que o poder imperial criou: a tecnologia capaz de destruir a humanidade, em questão de minutos, e os meios para penetrar nessas sociedades, enganá-las e manipulá-las, descaradamente, o tempo que precisarem, pensando que o poder do império não tem limites. "

Depois de 234 anos da Declaração de Independência dos Estados Unidos, o Pentágono e a Agência Central de Inteligência "acreditam que manejam um mundo dócil, sem pertubação alguma, por todo o futuro".

"É a idéia absurda de que fundamentam o mundo de amanhã, sob" o reino da liberdade, justiça, igualdade de oportunidades e direitos humanos ", incapazes de ver o que realmente acontece com a pobreza, a falta de serviços essenciais de educação básica, saúde, emprego e pior: a satisfação das necessidades básicas ", disse ele.

Finalmente, disse esperava a transmissão do discurso de Obama, mas " não foi publicada a bendita tradução em espanhol". Nesse sentido, pediu desculpas "por esta improvisada reflexão."


Tradução: Taís Ferreira

www.cubadebate.cu/reflexiones-fidel

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Seminário nacional sobre marco regulatório das comunicações



Democratização da Comunicação
FNDC promove seminário nacional sobre o marco 
regulatório das comunicações
 



Nos dias 20 e 21 de maio o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) realiza, no Rio de Janeiro, o seminário “Marco regulatório – Propostas para uma comunicação democrática”. O evento pretende pactuar algumas questões que o movimento pela democratização da comunicação irá reivindicar, bem como definir uma plataforma política dos movimentos sociais para o debate sobre o novo marco regulatório das comunicações.

“Teremos um debate duro pela frente sobre o marco regulatório e sem que estejamos mobilizados será muito difícil enfrentá-lo. O projeto preparado pelo Governo Federal ainda não foi apresentado à sociedade civil, e por isso precisamos pressionar a sua discussão pública”, sustenta o coordenador geral do FNDC, Celso Schröder, na convocatória do seminário.

O FNDC retoma, com este seminário, as demandas originadas a partir da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom, 2009) de onde vai tirar um elenco de prioridades que considera estratégicas para compor o escopo do marco regulatório do setor. “O debate sobre o marco regulatório das comunicações continua intenso, através das entidades ligadas à democratização da comunicação, nos estados e municípios”, destaca a psicóloga Roseli Goffman, membro da Coordenação Executiva do FNDC, onde representa o Conselho Federal de Psicologia.

O seminário será realizado no Clube de Engenharia, no Rio, aberto ao público. Para inscrições, clique 
aqui..

Confira, abaixo, a programação.

Seminário do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC)
Marco regulatório – Propostas para uma comunicação democrática

20 de maio - Sexta-feira
8h – Credenciamento 

9h30 – Abertura
 
Celso Schröder – coordenador-geral do FNDC, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), presidente da Federação de Jornalistas da América Latina e Caribe (Fepalc)
Vereador Reimont (PT-RJ) – presidente da Frente Parlamentar em prol da Democratização da Comunicação e da Cultura da Câmara Municipal do Rio de Janeiro
Deputado estadual Paulo Ramos (PDT-RJ) – autor da proposta de criação da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e de Imprensa na Assembléia Legislativa do RJ
Deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) – coordenadora-geral da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular (Frentecom)

10h – Painel
“O processo regulatório da comunicação na América Latina”

James Görgen – assessor da Secretaria Executiva do Ministério das Comunicações
Gustavo Granero – vice-presidente Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), secretário-geral da Federação Argentina dos Trabalhadores da Imprensa (FATPREN) e integrante do Conselho Federal de Comunicação Audiovisual
Marcus Manhães – pesquisador em telecomunicações e representante do FNDC no Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br)
Sílvio Da-Rin – gerente executivo de Articulação Internacional e Licenciamento da Empresa Brasil de Comunicação (EBC)

14h – Grupos de trabalho

21 de maio - Sábado
9h30 – Definição da plataforma política do movimento para o marco regulatório

14h – Plenária Nacional do Movimento pela Democratização da Comunicação


Do site da FENAJ
Com informações do FNDC

ASSEMBLEIAS DE JORNALISTAS DIA 19/05

O SJPMG convoca todos os profissionais de Rádio e TV de Belo Horizonte para
deliberar sobre a contraproposta patronal.

1ª assembleia às 11h em 2ª convocação.

2ª assembleia às 20h em 2ª convocação. 

Obs.: o resultado final será obtido com o somatório dos votos favoráveis e contrários das duas assembleias.












segunda-feira, 16 de maio de 2011

Noam Chomsky: “Minha reação ante a morte de Osama"

09/05/2011
Poderíamos perguntar a nós mesmos como reagiríamos se um comando iraquiano pousasse de surpresa na mansão de George W. Bush, o assassinasse e, em seguida, atirasse seu corpo no Oceano Atlântico.

Por Noam Chomsky* , no Guernica Magazine


Fica cada vez fica mais evidente que a operação foi um assassinato planejado, violando de múltiplas maneiras normas elementares de direito internacional. Aparentemente não fizeram nenhuma tentativa de aprisionar a vítima desarmada, o que presumivelmente 80 soldados poderiam ter feito sem trabalho, já que virtualmente não enfrentaram nenhuma oposição, exceto, como afirmara, a da esposa de Osama bin Laden, que se atirou contra eles.
Em sociedades que professam um certo respeito pela lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. Sublinho a palavra "suspeitos". Em abril de 2002, o chefe do FBI, Robert Mueller, informou à mídia que, depois da investigação mais intensiva da história, o FBI só podia dizer que "acreditava" que a conspiração foi tramada no Afeganistão, embora tenha sido implementada nos Emirados Árabes Unidos e na Alemanha.

O que apenas acreditavam em abril de 2002, obviamente sabiam 8 meses antes, quando Washington desdenhou ofertas tentadoras dos talibãs (não sabemos a que ponto eram sérias, pois foram descartadas instantâneamente) de extraditar a Bin Laden se lhes mostrassem alguma prova, que, como logo soubemos, Washington não tinha. Por tanto, Obama simplesmente mentiu quando disse sua declaração da Casa Branca, que "rapidamente soubemos que os ataques de 11 de setembro de 2001 foram realizados pela al-Qaida.

Desde então não revelaram mais nada sério. Falaram muito da "confissão" de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Bosto. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória.

Também há muita discussão sobre a cólera de Washington contra o Paquistão, por este não ter entregado Bin Laden, embora seguramente elementos das forças militares e de segurança estavam informados de sua presença em Abbottabad. Fala-se menos da cólera do Paquistão por ter tido seu território invadido pelos Estados Unidos para realizarem um assassinato político.

O fervor antiestadunidense já é muito forte no Paquistão, e esse evento certamente o exarcebaria. A decisão de lançar o corpo ao mar já provoca, previsivelmente, cólera e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.

Poderiamos perguntar como reagiriamos se uns comandos iraquianos aterrizassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem seu corpo no Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um "suspeito", mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que "tomou as decisões", quem deu as ordens de cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto" (citando o Tribunal de Nuremberg), pelo qual foram enforcados os criminosos nazistas: os centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, destruição de grande parte do país, o encarniçado conflito sectário que agora se propagou pelo resto da região.

Há também mais coisas a dizer sobre Bosch (Orlando Bosch, o terrorista que explodiu um avião cubano), que acaba de morrer pacificamente na Flórida, e sobre a "doutrina Bush", de que as sociedades que recebem e protegem terroristas são tão culpadas como os próprios terroristas, e que é preciso tratá-las da mesma maneira. Parece que ninguém se deu conta de que Bush estava, ao pronunciar aquilo, conclamando a invadirem, destruirem os Estados Unidos e assassinarem seu presidente criminoso.

O mesmo passa com o nome: Operação Gerônimo. A mentalidade imperial está tão arraigada, em toda a sociedade ocidental, que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência frente aos invasores genocidas.

É como batizar nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk (nomes de tribos indígenas dos Estados Unidos). Seria algo parecido à Luftwaffe dar nomes a seus caças como "Judeu", ou "Cigano".

Há muito mais a dizer, mas os fatos mais óbvios e elementares, inclusive, deveriam nos dar mais o que pensar.

*Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofía del MIT. É autor de numerosas obras políticas. Seus últimos livros são uma nova edição de "Power and T error", "The Essential Chomsky" (editado por Anthony Arnove), uma coletânea de seus trabalhos sobre política e linguagem, desde os anos 1950 até hoje, "Gaza in Crisis", com Ilan Pappé, e "Hopes and Prospects", também disponível em áudio.

Fonte: Cubadebate: 
contrapontopig.blogspot.com