Uma cobertura ao vivo no campus da Universidade Federal de Pernambuco poderia render ótimas histórias. Cerca de quatro mil jovens estavam lá para o encontro do Conselho Nacional de Entidades de Base da UNE. Mas presentes estavam só as tevês públicas. As emissoras privada não se interessam por esses jovens.
Laurindo Lalo Leal Filho
(*) Publicado originalmente na edição de fevereiro de 2013 da Revista do Brasil.
Cerca de quatro mil jovens circulam pelo campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) na manhã de um belo sábado de verão. Festival de risos, músicas, mochilas e colchonetes.
Estão ali para participar do 14º Coneb, o Conselho Nacional de Entidades de Base da União Nacional de Estudantes (UNE). Havia gente que levou dois ou três dias para chegar ao Recife, como os que saíram do interior do Amapá, usando barcos e ônibus como meios de transporte.
Durante três dias vão discutir os rumos da educação brasileira e, de quebra, a luta pela democratização da mídia. Nada mais pertinente e necessário. O próprio encontro é o melhor exemplo dessa necessidade, praticamente ignorado pelos grandes meios de comunicação.
O número de participantes, os convidados presentes (autoridades públicas e especialistas) e os temas em discussão justificam a inclusão do encontro em qualquer cobertura jornalística séria. Não foi o que ocorreu. Abro dois grandes jornais de Pernambuco no domingo e nada. Nos do Rio e São Paulo nem sombra do encontro.
Televisões presentes só as públicas: a TV Brasil e a TV Pernambuco. Fato que ressalta a importância desses veículos na luta contra o bloqueio imposto pelos meios privados aos movimentos sociais, como o estudantil.
Uma cobertura ao vivo no campus da UFPE poderia render ótimas histórias. Além do conteúdo dos debates, as vivências, os sonhos e as esperanças daqueles estudantes com diferentes sotaques brasileiros mostrariam ao telespectador um jovem comprometido com seu País, bem diferente dos que aparecem todos os dias em Malhação ou similares.
Coincidindo com o evento da UNE foi oficialmente implantada a Empresa Pernambuco de Comunicação, gestora da TV pública local. Vinculada ao governo do Estado mas gerida por um Conselho autônomo que segue em linhas gerais os padrões de gestão adotados pela Empresa Brasil de Comunicação. São tentativas promissoras de tornar esses veículos mais públicos e menos estatais.
No caso de Pernambuco o processo levou mais de três anos, num debate aberto com ampla participação da sociedade. A TV já existia mas estava sucateada. Foi criada em 1984, tendo tornado-se durante os governos pós-ditadura de Miguel Arraes (1987-1990 e 1995-1999) um importante veículo de informação e entretenimento. Abandonada na gestão Jarbas Vasconcelos (1999-2006), tem agora possibilidades de se reerguer.
São passos importantes mas ainda preliminares para a constituição de um serviço público de rádio e televisão no país capaz de competir com a mídia comercial. Um dos obstáculos mais sérios, além de uma destinação constante e consistente de recursos, está na forma do telespectador sintonizar essas emissoras.
O espectro eletromagnético por onde trafegam as ondas de rádio e TV foi praticamente privatizado. Pernambuco é um bom exemplo: no Recife a TV Pernambuco pode ser assistida no canal 46 (UHF). Até o governo Jarbas era possível ver a TV estatal em VHF, no canal 9, ao lado das grandes redes comerciais. Mas a concessão foi perdida e ocupada, rapidamente, pela Bandeirantes.
Fato que se repete em outros Estados. Com a digitalização prevista para os próximos anos o problema pode ser minimizado mas não resolvido. As grandes redes comerciais continuarão a ser sintonizadas nos tradicionais canais de números baixos (hoje vão do 2 ao 13) restando os mais longínquos para as redes públicas.
Para que o telespectador possa comparar os programas e escolher os que lhe interessam é fundamental que públicas e privadas estejam lado a lado, com um “zap” apenas entre elas . E que as públicas sejam várias, dando conta da grandeza territorial do Pais e de sua diversidade cultural. Não são tantas as emissoras comerciais mostrando praticamente a mesma coisa? Então deveremos ter muitas públicas mostrando as nossas múltiplas realidades.
Só assim será possível cobrir ao vivo, com competência e detalhamento, um evento como o da UNE realizado no Recife. Dessa forma, o estereótipo do jovem consumista e alienado será, no mínimo, relativizado.
Cerca de quatro mil jovens circulam pelo campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) na manhã de um belo sábado de verão. Festival de risos, músicas, mochilas e colchonetes.
Estão ali para participar do 14º Coneb, o Conselho Nacional de Entidades de Base da União Nacional de Estudantes (UNE). Havia gente que levou dois ou três dias para chegar ao Recife, como os que saíram do interior do Amapá, usando barcos e ônibus como meios de transporte.
Durante três dias vão discutir os rumos da educação brasileira e, de quebra, a luta pela democratização da mídia. Nada mais pertinente e necessário. O próprio encontro é o melhor exemplo dessa necessidade, praticamente ignorado pelos grandes meios de comunicação.
O número de participantes, os convidados presentes (autoridades públicas e especialistas) e os temas em discussão justificam a inclusão do encontro em qualquer cobertura jornalística séria. Não foi o que ocorreu. Abro dois grandes jornais de Pernambuco no domingo e nada. Nos do Rio e São Paulo nem sombra do encontro.
Televisões presentes só as públicas: a TV Brasil e a TV Pernambuco. Fato que ressalta a importância desses veículos na luta contra o bloqueio imposto pelos meios privados aos movimentos sociais, como o estudantil.
Uma cobertura ao vivo no campus da UFPE poderia render ótimas histórias. Além do conteúdo dos debates, as vivências, os sonhos e as esperanças daqueles estudantes com diferentes sotaques brasileiros mostrariam ao telespectador um jovem comprometido com seu País, bem diferente dos que aparecem todos os dias em Malhação ou similares.
Coincidindo com o evento da UNE foi oficialmente implantada a Empresa Pernambuco de Comunicação, gestora da TV pública local. Vinculada ao governo do Estado mas gerida por um Conselho autônomo que segue em linhas gerais os padrões de gestão adotados pela Empresa Brasil de Comunicação. São tentativas promissoras de tornar esses veículos mais públicos e menos estatais.
No caso de Pernambuco o processo levou mais de três anos, num debate aberto com ampla participação da sociedade. A TV já existia mas estava sucateada. Foi criada em 1984, tendo tornado-se durante os governos pós-ditadura de Miguel Arraes (1987-1990 e 1995-1999) um importante veículo de informação e entretenimento. Abandonada na gestão Jarbas Vasconcelos (1999-2006), tem agora possibilidades de se reerguer.
São passos importantes mas ainda preliminares para a constituição de um serviço público de rádio e televisão no país capaz de competir com a mídia comercial. Um dos obstáculos mais sérios, além de uma destinação constante e consistente de recursos, está na forma do telespectador sintonizar essas emissoras.
O espectro eletromagnético por onde trafegam as ondas de rádio e TV foi praticamente privatizado. Pernambuco é um bom exemplo: no Recife a TV Pernambuco pode ser assistida no canal 46 (UHF). Até o governo Jarbas era possível ver a TV estatal em VHF, no canal 9, ao lado das grandes redes comerciais. Mas a concessão foi perdida e ocupada, rapidamente, pela Bandeirantes.
Fato que se repete em outros Estados. Com a digitalização prevista para os próximos anos o problema pode ser minimizado mas não resolvido. As grandes redes comerciais continuarão a ser sintonizadas nos tradicionais canais de números baixos (hoje vão do 2 ao 13) restando os mais longínquos para as redes públicas.
Para que o telespectador possa comparar os programas e escolher os que lhe interessam é fundamental que públicas e privadas estejam lado a lado, com um “zap” apenas entre elas . E que as públicas sejam várias, dando conta da grandeza territorial do Pais e de sua diversidade cultural. Não são tantas as emissoras comerciais mostrando praticamente a mesma coisa? Então deveremos ter muitas públicas mostrando as nossas múltiplas realidades.
Só assim será possível cobrir ao vivo, com competência e detalhamento, um evento como o da UNE realizado no Recife. Dessa forma, o estereótipo do jovem consumista e alienado será, no mínimo, relativizado.
Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário