Escrito por: Nicholas Valdés, para Prensa Latina
Fonte: Carta Maior
Fonte: Carta Maior
Jornalista alertou para o fato de a direita estar tentando, nestes últimos meses, aproveitar a crise econômica mundial para voltar com métodos diferentes
O conhecido jornalista espanhol Ignacio Ramonet afirmou nesta
segunda-feira que foi na Venezuela que aconteceu o primeiro golpe de
Estado midiático da história, e que o fato obriga a refletir sobre como
utilizar os meios de comunicação no mundo de hoje.
No dia 11 de abril de 2002, há 14 anos portanto, houve uma tentativa de
derrubar o então presidente Hugo Chávez, o que foi possível, durante
algumas horas, especialmente graças ao papel dos meios de comunicação
nos eventos que o propiciaram, declarou Ramonet, em entrevista para
Prensa Latina, durante o encontro Venezuela en la Encrucijada
(“Venezuela na Encruzilhada”), organizado pela Rede de Intelectuais e
Artistas em Defesa da Humanidade.
Ramonet, que é diretor da versão em espanhol da publicação Le Monde
Diplomatique, disse também que essa é a razão pela qual a Venezuela é
também o país onde mais se reflete e debate sobre como os meios
dominantes manipulam a população.
A comunicação de massas tem uma inegável importância para esse quadro,
mas isso está atrelado à forma como a mensagem é trabalhada. Segundo o
jornalista, “não basta ter muitos veículos para ser eficaz na tarefa de
difundir ideias, já que quando um sistema é repetitivo demais pode
produzir um resultado contrário ao que busca, ou seja, rejeição por
parte da audiência”.
Ramonet deu como exemplo o caso da Argentina, onde Nestor Kirchner
chegou à presidência apesar da vontade contrária da imprensa privada
dominante, liderada pelo Grupo Clarín.
Desde então, a Argentina viu o crescimento de meios públicos muito
importantes na última década, além da criação de significativas redes
comunitárias. “Apesar de tudo isso, paradoxalmente, a direita se impôs
nas últimas eleições presidenciais”, lembrou Ramonet.
O analista explicou que a razão da vitória de Macri em 2015 está,
provavelmente, na elaboração da mensagem: “nos acomodamos com a ideia de
que temos muitos veículos e que vamos conseguir algo com eles. Mas essa
não é a fórmula, é preciso emitir um discurso bem elaborado”.
O jornalista alertou para o fato de a direita está tentando, nestes
últimos meses, aproveitar a crise econômica mundial para regressar com
métodos diferentes.
“Estamos observando no Brasil, onde se tenta dar um golpe de Estado
judicial contra o governo de Dilma Rousseff, e também na Venezuela, onde
a maioria opositora da Assembleia Nacional quer impor leis que, na
verdade, não estão previstas pela Constituição”, explicou Ramonet.
Horas depois, num encontro internacional da Rede de Intelectuais e
Artistas em Defesa da Humanidade, Ramonet falou com a reportagem do
canal estatal venezuelano VTV, e afirmou que, nos últimos meses, a
ultradireita, em todo o mundo, vem aproveitando a crise econômica global
para reinstalar velhos procedimentos, visando atacar a
institucionalidade das nações. Ele agregou que “eles (os representantes
da nova direita) tentam criar debates que já não são tão frontais como
os de 11 de abril de 2002, mas que buscam o mesmo objetivo: frear a
experiência progressista na América Latina, porque ela joga contra os
grandes interesses das oligarquias”.
O autor do livro Cien horas con Fidel (“Cem horas com Fidel”), citou o
líder da Revolução Cubana, quem, na sua opinião, sempre teve clara a
importância de trabalhar corretamente as mensagens dirigidas às massas.
“Há alguns anos, em Havana, num encontro que eu acompanhei, Fidel fez
um alerta sobre o tema a um grupo de intelectuais: `é importante fazer
com que as pessoas conheçam a nossa verdade´, e essa reflexão deve ser
retomada na atualidade com muita força. Porém, os meios de comunicação
são somente uma parte desse esforço, a diferença está nos conteúdos”,
concluiu.
Tradução: Victor Farinelli
Nenhum comentário:
Postar um comentário