terça-feira, 26 de outubro de 2010

Eleições 2010: antes, a tragédia; agora, a farsa

Publicado na Revista Espaço Acadêmico

*por FRANCISCO JOSÉ SOARES TEIXEIRA

Karl Marx, em 18 de Brumário, 1852, livro escrito para explicar o golpe de Estado dado por Luis Napoleão, sobrinho do velho Napoleão, cita Hegel quando este afirma que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E acrescenta a sua famosa frase: “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Herbert Marcuse arremata para concluir que a repetição de um evento como farsa pode ser ainda mais terrível do que a tragédia original. É o que aconteceria, caso Serra vencesse as eleições de 2010.

A tragédia aconteceu com FHC, quando este institui o Real. Com esse plano, criou as condições sem as quais o capital não poderia se desenvolver livremente. Privatizou as empresas estatais; abriu as portas para a corrida e implantação de faculdades particulares; fez uso de vários expedientes legislativos (Projetos de Leis em regime de urgência de votação, portarias e normas do Ministério do Trabalho) para flexibilizar a legislação trabalhista; desindexou a política de reajuste salarial e, para coroar suas mediadas liberalizantes, criou a Lei de Responsabilidade Fiscal, um verdadeiro garrote, utilizado para extrair recursos do Tesouro para o pagamento da dívida pública.

Agora, vem Serra, figura insossa e pálida, conjurar ansiosamente em seu auxílio o espectro do governo FHC. Tempera a tragédia que foi aquele governo vestindo trajes lulista, para afirmar que, se eleito, vai aprofundar o programa social do presidente operário e fortalecer o patrimônio do povo brasileiro.

Fortalecer! Que diabo isso quer dizer? Que não vai privatizar o que sobrou de estatais do governo FHC? Ou será que fortalecer significa deixar que instituições como o BNDES, BNB, Petrobras encontrem no mercado as condições de crescimento como assim fizera o presidente intelectual? Por que Serra não mostra sua cara e diz em alto e bom som que fortalecer é fazer o que seu “herói” do passado fez, ou seja: privatizar?

Figura caricatural, Serra é obrigado a fazer uso de expressões ambíguas e vazias de conteúdo. E não poderia ser diferente. Ele sabe que não pode mais repetir o governo do seu consorte de Partido. Afinal, tudo que o mercado exigiu, FHC já o fez. Por isso, se ganhasse as eleições, seu governo seria uma farsa ainda mais terrível do que a tragédia que fora aquele governo. É bom lembrar que gato escaldado tem medo de água fria. O povo brasileiro não vai pagar, nas urnas, para viver novamente a desgraça do Real.

E já ri das bazófias desse fanfarrão “psdbista”. O eleitor bem que lhe poderia recitar uma frase de uma das fábulas de Esopo: Hic Rhodos, hic salta! Tal como o atleta alardeador de Esopo, que vivia a invocar testemunhas de que havia realizado, em Rodes, um salto prodigioso que sua constituição física por si já o desmentia, Serra também não pode provar o que diz que fez e vai fazer. E se pudesse, dessa incumbência está desobrigado. Seu governo, em São Paulo, é a prova mais eloqüente do que é capaz de promoter e não cumprir.

* FRANCISCO JOSÉ SOARES TEIXEIRA é Doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará; é professor adjunto da Universidade Estadual do Ceará, permanente da Universidade Federal do Ceará e titular da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Email: acopyara@uol.com.br

 

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