sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Laís Bodanzky e seu filme mais recente: As melhores coisas do mundo


Um olhar sobre o universo adolescente, livre da caricatura que geralmente vemos associada aos filmes que se aventuram por esse caminho. Laís Bodanzky, diretora de Bicho de sete cabeças Chega de saudade, aceitou o convite para levar à telona a história de Mano, da série de livros de Gilberto Dimenstein e Heloisa Prieto, e o resultado é As melhores coisas do mundo, que poderia ser descrito com a frase que abre este texto. “Eles nos deram carta branca para criar uma história original com esse personagem. Mano é um garoto de classe média de uma família com pais esclarecidos, que estão vivendo uma crise e se separando. E é um garoto que tem seu universo na escola, vivendo todas as dificuldades típicas de um adolescente, em que você erra bastante, mas vive tudo intensamente. A gente criou a história a partir desse universo, mas resolvemos consultar a fonte, que são os próprios adolescentes”, conta Laís em entrevista exclusiva ao SaraivaConteúdo.

Filmado basicamente com não-atores nos papéis principais, “alunos pinçados do colégio diretamente para o set de filmagem”, o terceiro filme de Laís traz diálogos naturalistas, a ambientação em um colégio de classe média paulistana e a cada vez mais onipresente tecnologia com as redes sociais, blogs e celulares, que interferem e ajudam a moldar e definir as relações sociais e amorosas dessa nova geração que está na casa dos 15 anos hoje. Além da separação dos pais, Mano, interpretado pelo estreante Francisco Miguez, passa pelas angústias e euforia típicas dessa fase, como os primeiros beijos, a primeira transa, o desejo de tocar guitarra, as pequenas traições entre amigos, e – tema cada vez mais constante – os desdobramentos cruéis do bullying, violência, física ou psicológica, praticada por adolescentes contra outro(s), que não consegue(m) se defender. Se antes ele já trazia sérios problemas para os meninos e meninas, agora com a onipresença da internet traz ainda mais, quando bastam apenas alguns cliques para colocar em circulação fotos e vídeos íntimos.

Ao focar na classe média, pouco investigada em nosso cinema, e no universo bem específico dos novos adolescentes neste início de século, Laís Bodanzky fez questão de aproximar-se dos meninos e meninas para que eles ajudassem a construir “não um retrato do meu olhar adulto sobre o que é o adolescente hoje, mas o retrato do próprio adolescente. Como é que ele se vê? Mostrar na tela de cinema ele mesmo, fazer um jogo de espelho”.

“Eu não poderia nunca cair em uma caricatura, errar num detalhe. Então achei importante montar um castingque não viesse de uma agência, do mundo da publicidade, da televisão, mas que eu conseguisse, de certa forma, tirar o aluno do colégio e colocar ele direto no set de filmagem, com aquele frescor, aquele jeito de se comportar, falar, se vestir. E que isso pulsasse na tela de cinema. Isso foi, na verdade, uma estratégia para tentar ser o mais respeitoso possível com esse público que vai se ver na tela e que quero muito que se reconheça ali”, fala a diretora.

Por Bruno Dorigatti
saraivaconteudo.com.br

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