*por Paulo Morais
1) Só um pouco de História: em 1979, os jornalistas de São Paulo fizeram um greve de arrasar quarteirão. Os donos de jornais (reunidos na sigla ANJ) e tal nunca perdoaram aquela paralisação. Um pouco dela está contada no livro "Regra do jogo", de Cláudio Abramo (Cia das letras). Desde então, os patrões focaram o alvo na história do diploma, como uma forma de desarticular os sindicatos. Mas nem foi preciso: os sindicatos foram sendo desarticulados ao longo dos últimos 30 anos pela flexibilização do trabalho, globalização, novas tecnologias.
2) Aos defensores do fim do diploma, basta lembrar que Lucia Hippólito é cientista política, Ali Kamel é sociólogo, Reinaldo Azevedo é formado em letras, Otavio Frias Filho é advogado. Está bom ou vai um pouco mais?
3) Como próprio Idelber falou acima, os jornais jamais teriam uma pessoa como ele produzindo notícias no dia a dia. Portanto, é ilusório e risível achar que grandes cabeças estariam nas redações com o fim do diploma. Quem conhece Bourdieu, sabe bem como se forma algo chamado "habitus". E o jornalismo tem o seu "habitus", com ou sem diploma.
- a exigência do diploma não é uma excrecência e ponto final. Ela tem uma certa lógica. A desregulamentação total da profissão de jornalista é um prato cheio para a grande mídia, pois relaxa um dos poucos mecanismos de controle de qualidade que temos hoje em dia. Se ele funciona ou não, é outra história. A questão é que no jornalismo não há qualquer ferramenta eficiente para que o cidadão comum possa recorrer no caso de ser alvo dos ataques da mídia. O caso de uma escola-base, por exemplo, fica anos rodando na justiça. Qualquer iniciativa de criar mecanismos regulatórios, como o projeto do Conselho Federal de Jornalismo, por exemplo, é motivo de chilique da mídia gorda, que apela para o ridículo argumento do ataque à liberdade de imprensa.
- Por outro lado, nos dias de hoje, com as rápidas transformações que estão acontecendo no campo da comunicação, jornalista que ficar preso à função tradicional de repórter está dando um tiro no próprio pé. Com o acesso à informação cada vez mais facilitado, o jornalista tem que ser muito mais um gestor de informação, um agregador de informação, do que um "porta-voz da vida real". Até porque está ficando cada vez mais comprovado que os jornalões passam longe da vida real.
- nisso, muitas faculdades de jornalismo, sobretudo aquelas de balcão, prestam um imenso desserviço à classe, vendendo o sonho enlatado de que o modelo de jornalista é o repórter-peão da grande mídia. O jornalista de hoje tem imensas possibilidades de empreendedorismo, de se impor frente ao mercado restrito e restritivo da grande imprensa. Mas, para isso, ele precisa mostrar seu valor diante de um mercado desregulado, que é o das novas mídias, que impõe novos desafios e novas formas de pensar a comunicação.
É isso. Grande abraço a todos.
Paulo Morais
Publicado no blog do Idelber
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