segunda-feira, 7 de junho de 2010

Imprensa não torce



Paulo Vinicus Coelho

Técnico e atletas acreditam que uma das missões dos jornalistas é ajudar a seleção. Estão enganados

JORNALISTA NENHUM vai à Copa do Mundo para cobrir seu próprio umbigo, ou seja, ninguém viaja para falar da própria imprensa. Para discuti-la, já existem sites e programas suficientes, como o Comunique-se e o "Observatório da Imprensa".

Mas a semana em Johanesburgo registrou tantas confusões sobre o correto papel dos jornalistas que exige uma reflexão. Já na primeira pergunta, da primeira entrevista coletiva, a apresentadora da TV Record Mylena Ciribelli errou na medida: "Queria dizer que, antes de jornalistas, somos torcedores do Brasil", afirmou. Nem ela está certa nem o técnico da seleção, ao dizer que há 300 jornalistas torcendo contra o Brasil.

Cada frase mal formulada, por quem tem por ofício usar as palavras, aumenta o tamanho da bagunça mental de quem joga o Mundial.

Os jogadores e o técnico acham mesmo que uma das missões da imprensa é ajudar a seleção. Não é.

"Eu conheço muitos jornalistas que torcem a favor", disse Kaká, na sexta-feira. Mais uma confusão. Jornalista nenhum deve ir à Copa para torcer, nem contra nem a favor de seleção nenhuma.

Não quer dizer que se esteja proibido de socar o ar na hora do gol. Quer dizer que os jogadores e a comissão técnica deveriam entender que uma notícia não deixará de ser publicada, nenhuma crítica deixará de ser feita, mesmo que provoque um terremoto na concentração brasileira. O tempo dirá se a avaliação foi correta ou equivocada.

No exercício de sua profissão, jornalista não tem time, não tem amigo nem inimigo. Seu gol é a notícia. Gol contra é informação errada. Nesse caso, é preciso corrigir rápido e, mesmo assim, a seleção terá razão em brigar, espernear, processar.

Mas não diga que os jornalistas não notaram a educação dos zimbabuanos só porque preferiram o enfoque político, por jogar na terra do ditador Mugabe. A muitos, isso pareceu mais relevante.

Como nos dias de blogs e portais todo mundo é jornalista ou pensa que é, Dunga também esteve do outro lado do balcão. Foi comentarista da TV Bandeirantes, em 2006. Pois na quinta, ao dizer que a imprensa foi quem disse primeiro que Weggis foi uma balbúrdia, foi questionado sobre a sua opinião. Respondeu que não ia aos treinos e só comentava jogos no estúdio ou no estádio.

De fato, a rotina dos comentaristas de TV exige muito tempo no Centro de Imprensa. Mas ir à Copa e não ver nenhum treino? Dunga não entende mesmo o papel dos jornalistas.

*pvc@uol.com.br
06/06/2010
Folha de S. Paulo

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